Esta checagem foi realizada por jornalistas que integram o Projeto Comprova, criado para combater a desinformação, do qual o Metrópoles faz parte. Leia mais sobre essa parceria aqui.

Conteúdo investigado: Em vídeo publicado nas redes sociais, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga fala sobre a dengue no Brasil e sobre a indisponibilidade da vacina contra a doença no país. De acordo com Queiroga, a análise da vacina Qdenga foi retirada de pauta pelo Ministério da Saúde na gestão de Lula, que estaria no aguardo de um imunizante produzido pelo Instituto Butantan. O vídeo ainda mostra dados relativos à incidência da doença em 2023 e é acompanhado pela legenda: “DENGUE MATA! A ciência já desenvolveu vacinas eficientes contra a dengue, mas o governo do LUL4 [sic] não quer ofertar para o povo brasileiro. Em 2023, mais de 1.2 milhão de brasileiros tiveram dengue, sendo mais de 15 mil casos graves e mais de seiscentos óbitos”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter) e Instagram.

Contextualizando: Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a vacina contra a dengue da fabricante japonesa Takeda no Brasil, em março de 2023, postagens nas redes sociais questionam o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a respeito da demora na incorporação do imunizante ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, só é possível se vacinar na rede privada, onde o imunizante é ofertado por preços que variam de R$ 300 a R$ 800 a dose — o fabricante recomenda tomar duas. Até o dia 26 de outubro, o Brasil já tinha mais casos de dengue em 2023 do que em todo o ano de 2022.

Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a vacina contra a dengue desenvolvida pela Takeda, chamada de Qdenga. O Ministério da Saúde não informou se há previsão para que a vacina chegue ao SUS. A pasta diz aguardar informações da Takeda para dar seguimento ao processo, mas a farmacêutica afirma não ter recebido solicitação oficial e diverge de dados apresentados pelo governo.

O Comprova buscou informações para entender o motivo de a vacina ainda não ter chegado ao SUS.

Como o conteúdo pode ser interpretado fora do contexto original: A publicação pode levar a crer que o governo federal não incorporou a vacina ao Plano Nacional de Imunizações (PNI) ainda porque não quer disponibilizar o imunizante de forma ampla, via Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde afirma que, na verdade, há um trâmite administrativo que precisa ser seguido antes que a implementação possa acontecer.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com Marcelo Queiroga, responsável pelo vídeo, mas não obtivemos resposta até a publicação desta matéria.

Alcance da publicação: No X, até o dia 1º de novembro de 2023, a publicação teve mais de 7 mil visualizações, 78 repostagens e 199 curtidas. No Instagram, foram 2,8 mil visualizações e 165 curtidas.

Como verificamos: A reportagem buscou esclarecimentos com o Ministério da Saúde por e-mail. Pesquisamos no Google pelas palavras chave: “reunião conitec takeda”. Como resultado, encontramos links que anunciavam a ocorrência da 123ª reunião da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec), colegiado vinculado à pasta, para discutir a incorporação da vacina Qdenga ao Sistema Único de Saúde. Identificamos uma transmissão ao vivo da referida reunião no YouTube (aqui).

Além disso, foram consultadas a Takeda, fabricante da vacina, e um médico sanitarista que fez uma análise do trâmite para incorporação do imunizante ao PNI. Também buscamos matérias no site do Instituto Butantan e de veículos de imprensa (Agência Brasil, Jota) para obter informações de contexto sobre as vacinas contra a dengue em desenvolvimento. O Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde também foi utilizado como fonte.

POR: Metrópoles/ GAZETAWEB
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