A vaga olímpica de Gabriel Medina veio no sufoco, nos últimos minutos da bateria final do ISA Games, última competição classificatória para os Jogos. O brasileiro, que já tinha ficado no quase no ano passado, quando fechou em sexto lugar no Circuito Mundial e sem vaga, se torna favorito ao pódio nas Olimpíadas. O que mostra isso é o histórico de resultados nas etapas do Circuito Mundial disputadas no local dos Jogos, em Teahupoo, no Taiti, e o estilo de onda encontrado por lá.

Desde 2014, quando foi campeão mundial pela primeira vez, Gabriel participou sete vezes da etapa do Taiti do Circuito. Venceu em 2014 e 2018, e foi vice em 2015, 2017, 2019 e 2023. A única vez que não chegou à final foi em 2016, quando foi 3º colocado. Neste período, a competição não foi disputada em 2020 e 2021 por conta da pandemia e, em 2022, Medina esteve ausente.
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Os resultados positivos no local são resultado da facilidade que o tricampeão mundial tem de surfar nas ondas de Teahupoo, uma das praias mais tradicionais do surfe mundial. As características da onda são perfeitas para Medina.

A onda costuma ser tubular alta, cheia, e para esquerda. Tubular alta é aquela em que privilegia os tubos, mas com altura bem grande. Assim, quem é forte fisicamente e tem uma técnica apurada, leva vantagem, que é o caso de Medina. A quebra da onda para a esquerda significa que os surfistas Goofy, que surfam com o pé direito à frente, que é o caso de Medina, tem vantagem. Por fim, Teahupoo é um local perigoso, em que a decisão da escolha das ondas é ainda mais importante. E Medina sempre foi um mestre nesta estratégia.

Tudo isso significa que Medina será, com certeza, campeão olímpico? Claro que não. São muitos surfistas de alta qualidade na competição, inclusive dois brasileiros. João Chianca, que ainda se recupera de um acidente no fim do ano passado, tem mais facilidade com as ondas do Taiti. Já o bicampeão mundial Filipe Toledo não costuma ter bons resultados por lá, mas é difícil não colocá-lo entre os candidatos ao pódio. Afinal, é bicampeão mundial.

O australiano Jack Robinson, quinto colocado no ranking do ano passado, venceu a etapa do Taiti, derrotando Medina na decisão com uma onda no fim. Em 2022, o francês Kauli Vaast, que surfa muito bem no local, foi vice-campeão. É impossível não colocar os americanos – Griffin Colapinto e JJ Florence – e o australiano Ethan Ewing na lista dos candidatos, embora não tenham tanta ligação com as ondas locais como Medina tem. O italiano Leonardo Fioravanti tem bom histórico no Taiti e também está na briga.

Por fim, é bom lembrar que as condições da natureza nem sempre seguem as previsões. Então é possível que o mar, na época das Olimpíadas, não tenha ondas tão perfeitas para Medina, e fique mais calmo. Se por um lado isso atrapalha Medina, acaba ajudando Filipinho, com certeza o melhor do mundo atualmente neste tipo de onda.

Se fosse para fazer uma projeção, Medina seria o favorito ao ouro (mas não será fácil), enquanto Chianca, se chegar 100% fisicamente, e Filipinho, se chegar 100% na saúde mental”, são candidatos ao pódio. Mas tem muita gente na briga.

Por Guilherme Costa — São Paulo \ GAZETAWEB

FOTO: Pablo Franco / ISA