Quem circula muito pelo trânsito de capital, talvez, já tenha notado um aumento no número de mulheres dirigindo carros de aplicativos. O crescimento ainda é tímido, porém progressivo. Com um olhar mais apurado, deve ter notado também que dentro do carro, há apenas mulheres.
Coincidência? Não! Talvez seu carro tenha ficado emparelhado com uma Maju, um novo aplicativo de transporte onde apenas mulheres dirigem para clientes também unicamente mulheres.
Nas ruas da capital há menos de seis meses e reunindo algumas centenas de motoristas, Maju está mudando os hábitos de algumas mulheres que querem ser transportadas de forma mais segura e personalizada.
Uma das mais entusiasmadas pelo aplicativo é Edjane Santos de Amorim Alves, 52 anos. Ela foi uma das primeiras mulheres a se cadastrar como motorista no aplicativo.
Edjane Santos faz dos momentos quando está à frente do volante um dos instantes mais felizes do seu dia. Apenas a companhia da família, em especial da filha única, supera a vontade de conduzir, exclusivamente, mulheres. Ao final da corrida, algumas clientes se tornam até confidentes.
Bem-humorada e com um largo sorriso, ela recepciona cada passageira como se fosse sua estreia no aplicativo. Antes, já chegou a dirigir para outros aplicativos.
“Quando eu conheci a Maju amei de cara, abracei a causa e visto a camisa com o maior orgulho”, contou ao se definir como uma Majuzinha, apelido carinhoso para as motoristas.
Idealizada pelo empresário alagoano Leonardo Bitencourt, a Maju foi relançada em fevereiro deste ano. Uma tentativa de colocar os carros nas ruas da capital aconteceu em setembro de 2019. Por uma série de motivos técnicos, não deu certo à época.
“Maju” está crescendo e já atinge quase toda
Maceió
Atualmente Leonardo e a sócia, Helys Tenório, estão com o aplicativo em fase beta. Dificuldades ultrapassadas, obstáculos enfrentados, aos poucos, Maju está se fazendo presente em cada canto de Maceió.
Avançando na preferência de passageiras mulheres que não se sentem seguras ou se sentem mais confortáveis sendo transportadas, unicamente, por outras mulheres.
Como é o caso da comerciante Rute Vieira, 35 anos. Ela disse que conheceu o aplicativo por acaso ao ouvir relatos de duas mulheres desconhecidas em uma fila de banco. Para ela, a segurança de ser transportada por mulheres garante um alívio e menos sensação de risco nas corridas.
O aplicativo é um meio de transporte exclusivo para mulheres. A única exceção é atender idosos acompanhados e crianças, de ambos os sexos, menores de 12 anos.
O empresário Leonardo Bitencourt teve a ideia de criar a Maju ao perceber que as mulheres estavam deixando de usufruir da sua liberdade de ir e vir por receio do que podia ocorrer no trajeto, caso solicitassem as tradicionais corridas dos aplicativos que atendem Alagoas.
No decorrer da captação de parceiras motoristas, Maju se viu diante de algo, ainda mais diferenciado, quando descobriu que estava ajudando algumas mulheres a interrupção do ciclo da violência doméstica.
Leonardo Bitencourt e sua sócia Helys conduzem o aplicativo que deve se expandir para outras cidades (Foto: Adailson Calheiros)
“Aplicativo ajuda mulher a fugir da violência doméstica”
Leonardo Bitencourt diz ter percebido que algumas mulheres se submetem à violência doméstica por não ter uma fonte de renda, por receio de não conseguir sustentar a si própria e aos filhos, no caso das que são mães. Ele comemora o fato de a Maju ajudou até mesmo a dar um basta em algumas situações em que a mulher dependia financeiramente do agressor.
“Basta ter uma habilitação e a mulher pode sair do ciclo de violência doméstica e ser dona do seu próprio destino”, completou.
De acordo com Helys Tenório, por enquanto, o valor da corrida é um pouco maior do que o dos aplicativos mais usuais. O preço corresponde à versão “comfort” dos aplicativos tradicionais.
“A Maju tenta fornecer uma melhor remuneração à motorista. Não somos apenas um aplicativo de transporte, somos uma comunidade de mulheres que se ajudam”, detalhou.
Operando inicialmente apenas em Maceiói, Maju já recebeu convite para se expandir para Fortaleza, Recife, Brasília, Aracaju, Campina Grande (Paraíba), Santos (São Paulo).
Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente
Foto: Adailson Calheiros