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Um documento produzido pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Alagoas (Cepdec/AL) revela que os proprietários de 114 residências, no município de Craíbas, no Agreste de Alagoas, apresentam fissuras e rachaduras nos imóveis.

Os moradores responderam a um questionário e atribuem os danos às fortes explosões provocadas pela atividade mineradora no município.

Desde o ano de 2021 que a atividade mineradora explora a extração de jazidas de cobre, ferro e ouro no Povoado Serrote da Laje, na área rural de Craíbas. Em março deste ano, o grupo chinês Baiyn Nonferrous adquiriu a planta da Mineração Vale Verde (MVV), em negociação de R$ 420 milhões de dólares, ou seja, mais de R$ 2,3 bilhões de reais.

A mina com lavra a céu aberto tem reservas estimadas em 52,7 milhões de toneladas de minério de cobre, ferro e ouro. O projeto tem previsão de 14 anos de atividades, mas o período de atividades para extração de minérios pode ser ampliado para 20 anos, conforme consta no site da Agência Nacional de Mineração (ANM).

Tremores de terra

Com o início das atividades da mineradora e das explosões nas jazidas, os moradores das localidades mais próximas do Serrote da Laje denunciaram rachaduras nas residências. O caso chamou a atenção da 8ª Vara da Justiça Federal e da Defensoria Pública da União (DPU), em Alagoas, que realizaram visitas de inspeção, audiência pública e solicitaram estudos e ações preventivas, como a estruturação das Defesas Civis de Craíbas e Arapiraca.

A Tribuna teve acesso ao documento produzido, no ano passado, pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (Cepdec/AL). No questionário, os proprietários de 114 residências, no município de Craíbas, associam os danos nos imóveis às explosões na mineradora.

Ainda de acordo com o documento, antes da instalação da empresa, 76 residentes tinham doenças pré-existentes, como diabetes, ansiedade, hipertensão ou alergias, e, após a instalação da mineradora, 95 pessoas relataram doenças e queda na qualidade da água consumida nos poços, além de muita poeira no ar e 312 reclamações por ruídos no período da noite.

“Os resultados do questionário refletem o significativo impacto sofrido pela comunidade de Craíbas, devido aos eventos sísmicos supostamente relacionados à atividade da Mineradora Vale Verde. Os presentes dados são essenciais para uma compreensão abrangente dos desafios enfrentados pelos residentes, orientando futuras ações e decisões governamentais. Ademais, o instrumento em tela contava com uma seção destinada ao envio de imagens dos danos estruturais registrados nas residências, visando à classificação da gravidade e, posteriormente, realizar sua distribuição no mapa da região. Esse trabalho subsidiaria a análise do comportamento das avarias. Contudo, os responsáveis pela coleta não atenderam de forma satisfatória no tocante ao registro por fotos das lesões estruturais nos imóveis, tornando impossível, neste momento, a realização do supramencionado estudo. Faz-se importante ressaltar que estamos atuando em conformidade com o prescrito pela Lei nº 14.750/2023, sobretudo no que se refere às esferas de competência e atribuições. Este relatório servirá como base para discussões mais aprofundadas sobre medidas apropriadas e estratégias para atender às necessidades imediatas da população afetada”, atesta o relatório, que é assinado pelo engenheiro-técnico José Augusto de Moura Neves, chefe da Seção de Desastre Tecnológico da Cepdec/AL.

TRIBUNA HOJE \ Por Davi Salsa / Sucursal Arapiraca

Foto: Prefeitura de Craíbas