O prédio do antigo I Centro de Saúde, localizado na Praça das Graças, no bairro da Levada, em Maceió, está fechado para reforma desde novembro de 2013. Com uma obra inacabada e, na verdade, sequer iniciada, o edifício abandonado mudou, ainda mais, o cenário da praça.
Em vez de registar movimentação de pessoas em busca de atendimento médico, o I Centro de Saúde acumula lixo e restos de animais mortos na calçada.
Vidros quebrados, paredes mofadas, pintura descascada, portões enferrujados e corroídos pela ação do tempo e do abandono ajudam a compor um cenário de descaso.
As marquises do I Centro de Saúde servem de abrigo para moradores em situação de rua. Estes, por sua vez, já estão sendo ameaçados por usuários de drogas em um claro contraste mostrando que um local que já foi referência em atendimento médico é, hoje, ponto de consumo de entorpecentes.
O Ambulatório 24 horas Noélia Lessa que funciona ao lado é a única opção dos moradores da região. Sobrecarregado, chega a atender quase 200 pessoas, a cada plantão.
Quando a reforma foi anunciada, há 11 anos, os usuários, embora pegos de surpresa com a suspensão do atendimento, ficaram esperançosos com a possibilidade de receberem uma unidade de saúde ainda melhor. À época, os moradores foram encaminhados para os postos de saúde em bairros próximos.
Uma das pacientes que recorria ao I Centro de Saúde quando ainda funcionava era a dona de casa Natanize Ataíde. Ela buscava, no Ambulatório 24 horas Noélia Lessa, atendimento para o irmão que caiu e cortou a cabeça.
“A sorte da gente é que a equipe daqui atende quem chega com muito carinho e profissionalismo. Ninguém sai daqui sem receber atendimento. Mesmo assim, está sempre cheio. Se a gente tinha dois lugares para procurar atendimento só tem um agora”, reclamou.
A dona de casa tem uma filha e uma neta e disse que, quando mais nova, a filha recebeu diversas vezes atendimento no I Centro de Saúde. “Nunca vi uma reforma tão prometida sem nem um tijolo ter sido colocado no lugar, mesmo depois de tanto tempo”.
A motorista particular Lúcia Rodrigues aguardava avaliação para o que parecia ser uma reação alérgica. Com o braço inchado e vermelho, estava acompanhada da filha que quando mais nova também fora usuária do I Centro.
De acordo com ela, algo deveria ser feito para dar o destino correto ao prédio. “Isso aqui são impostos. A gente pagou e paga por isso. Não pode abandonar assim um local que presta saúde ao cidadão”, ensinou.
A reportagem do jornal Tribuna Independente esteve no I Centro de Saúde na última segunda. Desde então, procurou diversas vezes a Secretaria de Estado da Saúde, por meio da assessoria de comunicação, para saber sobre a reforma do prédio ou mesmo para ter conhecimento sobre o que será feito. Não obtivemos retorno, até o fechamento desta edição, na noite de ontem.
Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente
Foto: Edilson Omena