width=

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem demonstrado desânimo em conversas com aliados diante do atual cenário político nacional. As dificuldades nas articulações para uma eventual candidatura à Presidência da República em 2026, na qual enfrentaria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), têm provocado incômodo. Segundo relatos de pessoas próximas, o governador está insatisfeito com a desorganização da direita e com a pressão recente de lideranças do Centrão para que se posicione como o principal nome de oposição ao petista.

Essa movimentação precoce, segundo interlocutores, acabou expondo Tarcísio a uma série de críticas. A ofensiva pública, que incluiu ataques diretos do PT por meio de peças publicitárias, gerou desgaste na imagem do governador. Um aliado próximo afirmou que Tarcísio pode ter entrado em uma “furada” ao aceitar embarcar em um projeto presidencial articulado por figuras como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União Brasil), líderes de seus respectivos partidos.

Nos bastidores, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) contribuiu para intensificar o ambiente de tensão. Tarcísio assumiu protagonismo na defesa da proposta de anistia em Brasília e adotou um tom mais radical contra a Corte, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso que resultou na condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

A avaliação de um aliado do governador é de que, se antes havia dúvidas sobre sua disposição de concorrer à Presidência, agora a desistência é quase certa. Esse interlocutor afirmou que Tarcísio percebeu um cenário altamente desfavorável à sua candidatura e reconheceu o fortalecimento recente de Lula. A exposição precoce teria prejudicado sua imagem e alimentado o crescimento de sua rejeição nacional.

De acordo com a pesquisa Genial/Quaest, divulgada em 18 de setembro, a rejeição a Tarcísio chegou a 40% no país — um aumento contínuo nos últimos meses. Diante desse desgaste, o governador decidiu “submergir” politicamente, voltando suas atenções para o estado de São Paulo. Ele tem intensificado agendas no interior paulista e priorizado reuniões internas no Palácio dos Bandeirantes.

Além disso, o governo estadual enfrenta a pressão decorrente do assassinato do ex-delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes, crime que pode ter envolvimento de facções criminosas. Em meio a esse cenário turbulento, Tarcísio voltou a negar publicamente, na última quarta-feira (17), qualquer intenção de disputar a Presidência da República. Reafirmou, em vez disso, que sua prioridade é a reeleição ao governo paulista em 2026.

“Diria que após pagar a fatura [ao bolsonarismo] ele ficou mais tranquilo para recusar um projeto nacional”, afirmou uma fonte próxima ao governador, referindo-se ao ataque feito por Tarcísio a Moraes na manifestação de 7 de Setembro, na Avenida Paulista.
Desorganização da direita

Ainda de acordo com interlocutores de Tarcísio, o governador paulista também teria se queixado da desorganização da direita em torno de temas como o PL da Anistia e a PEC da Blindagem, que, na visão dele, geraram desgastes para o consórcio formado no Congresso Nacional entre o Centrão e a direita bolsonarista.
No último fim de semana, partidos de esquerda, movimentos sociais e artistas realizaram atos em diversas cidades do país para protestar contra os dois textos.
Aliados ainda lembram que a tentativa de se mostrar “presidenciável” já havia desgastado a imagem de Tarcísio quando ele tentou se envolver no tema do tarifaço imposto pelo governo dos EUA contra o Brasil, adotando uma postura hesitante entre negociar um alívio nas taxas e ao mesmo tempo fazer críticas ao governo Lula, poupando o presidente norte-americano, Donald Trump.
O comportamento rendeu inúmeras críticas da oposição, que passou a taxar o governador como “vira-lata” e “entreguista”.
Além disso, a tentativa de Tarcísio de negociar o tarifaço fez com que ele também passasse a ser alvo de ataques de bolsonaristas liderados pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que tem articulado nos EUA sanções do governo norte-americano a autoridades brasileiras.
Apesar das dificuldades, Tarcísio segue sendo visto pelas lideranças partidárias como o nome mais forte para enfrentar Lula em 2026. Caso o governador paulista opte, de fato, pela reeleição, aliados citam o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), como um nome que ganharia força para a disputa.

“Jogo pesado” do PT

Apurações do Metrópoles revelam que, em conversas reservadas com aliados, o governador Tarcísio de Freitas tem expressado o quão difícil seria enfrentar a “máquina do governo federal” em uma disputa presidencial. Ele chegou a citar como exemplo as campanhas publicitárias lançadas recentemente pela gestão petista, que, segundo sua avaliação, reforçam o poder de comunicação e influência do governo Lula.

Além disso, Tarcísio tem manifestado ceticismo quanto ao apoio do Congresso Nacional à proposta de uma anistia ampla e irrestrita para envolvidos nos atos antidemocráticos, como defendem os bolsonaristas. A leitura do governador é de que o Legislativo tende a evitar embates diretos com o Judiciário, sobretudo com o Supremo Tribunal Federal.

Na avaliação de interlocutores próximos, Tarcísio vê um cenário que favorece ainda mais o governo Lula nos próximos meses. A possibilidade de aprovação de pautas populares, como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a continuidade do auxílio gás, deve fortalecer a base eleitoral do presidente às vésperas da eleição de 2026.

Diante desse contexto desfavorável, o governador de São Paulo passou a sinalizar que concentrará esforços em sua reeleição estadual. A estratégia seria concluir obras e consolidar entregas relevantes ao longo de um eventual segundo mandato, construindo, assim, uma base sólida para uma candidatura presidencial em 2030.

Apostando em um cenário político mais propício no futuro, Tarcísio considera que disputar a Presidência em 2030 poderia ser mais viável, sobretudo com Lula fora da corrida eleitoral — o petista poderá tentar a reeleição apenas em 2026. A ideia, segundo aliados, é sair mais forte de São Paulo e evitar o desgaste prematuro em uma eleição nacional altamente polarizada.

POR: POLÍTICA ALAGOANA

FOTO: GOOGLE