Um estudo conduzido por pesquisadores das universidades Concordia e McGill, ambas no Canadá, e publicado nessa terça-feira (7/10) no periódico PLOS Biology, identificou cinco perfis de sono que ajudam a explicar diferenças na saúde mental, no desempenho cognitivo e até na forma como o cérebro se organiza.
A pesquisa utilizou uma análise complexa de dados de 770 pessoas, feita pelo Projeto Conectoma Humano, combinando informações sobre sono, saúde física e mental, estilo de vida, cognição e imagens cerebrais.
O trabalho encontrou relações inéditas entre padrões de sono e um conjunto de fatores chamados de biopsicossociais, que envolvem aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
“O sono é composto por muitas dimensões, não apenas pela duração. Descobrimos cinco perfis distintos, com ligações específicas com saúde, estilo de vida e cognição”, explica a autora do estudo Aurore Perrault, da Universidade Concordia, em comunicado.
Cinco perfis que revelam os efeitos do sono na saúde
O primeiro perfil foi caracterizado pelo sono de má qualidade, associado a níveis mais altos de depressão, ansiedade e estresse. Essas pessoas relatam dificuldades frequentes para dormir e apresentam maior vulnerabilidade emocional.
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O segundo perfil representa a resiliência do sono. Apesar de apresentarem sintomas psicológicos, como dificuldades de atenção, essas pessoas não relatam sono ruim. Esse grupo sugere que é possível lidar melhor com fatores mentais mesmo diante de desafios emocionais.
Um terceiro perfil foi marcado pelo uso de medicamentos para dormir e pela satisfação social. Embora utilizem soníferos, esses indivíduos mantêm relações sociais positivas, o que indica um equilíbrio entre estratégias para melhorar o sono e aspectos emocionais saudáveis.
O quarto perfil destacou a duração do sono. Participantes que dormiam menos apresentavam pior desempenho cognitivo, o que reforça a importância das horas de sono para memória, foco e raciocínio.
Já o quinto perfil mostrou distúrbios específicos do sono associados a dificuldades cognitivas e problemas de saúde mental. Esse grupo revela como alterações no sono podem afetar diretamente o funcionamento psicológico e cerebral.
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Uma noite de sono mal dormida interfere diretamente no humor e no desempenho das atividades do dia seguinte. Além disso, os níveis de irritabilidade, ansiedade e estresse podem aumentar significativamente
Estudos mostram que o tempo ideal de horas de sono varia para cada pessoa, mas a média mundial é de seis a oito horas por noite. Durante o sono profundo, ocorre a liberação de hormônios importantes para a regulação do organismo
Muitas pessoas têm sono ruim e nem percebem isso. Na dúvida, que tal adotar algumas técnicas conhecidas como “higiene do sono”?
1. Crie uma rotina: procure deitar e levantar nos mesmos horários todos os dias, mesmo nos feriados e fins de semana
2. Durma um pouco mais cedo a cada dia: aproveite o período próximo ao fim das férias para dormir cerca de 30 minutos antes do horário que estava acostumado a ir para a cama a cada dia, até chegar no horário ideal
Conexões únicas no cérebro
Cada perfil identificado apresentou um padrão próprio de conectividade cerebral. No primeiro grupo, por exemplo, havia uma atividade mais intensa entre regiões subcorticais e redes ligadas à atenção e ao movimento. Essa variação mostra que as experiências de sono se refletem também na “fiação” do cérebro.
“Os diferentes perfis foram apoiados por padrões únicos de função cerebral, sugerindo que o modo como dormimos se expressa na saúde, no comportamento e na atividade cerebral”, afirma Perrault.
A pesquisadora Valeria Kebets, que também participou do estudo, reflete que a influência do sono sobre a mente não surpreende. “O domínio dos marcadores de saúde mental em quase todos os perfis era esperado, já que o sono é um dos pilares do funcionamento humano”, afirma.
Entender para tratar melhor
Os autores destacam que considerar apenas a duração ou a qualidade do sono é insuficiente. Observar o conjunto de características, como uso de medicamentos, satisfação social e impacto cognitivo, ajuda médicos e profissionais de saúde a oferecer tratamentos mais precisos e personalizados.
“Nosso estudo mostrou que diferentes aspectos do sono estão relacionados, mas também podem ser domínios separados, com conexões específicas com saúde e comportamento”, conclui Perrault.
METRÓPOLES.COM \ Ravenna Alves
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