O pedido do ministro Luiz Fux para “ajustes gramaticais” em seu voto de 492 páginas — lido por mais de 12 horas — introduziu um novo elemento no já complexo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida, em aparência técnica, tem efeitos políticos e jurídicos diretos: adia a publicação do acórdão e, consequentemente, a decretação da prisão do ex-presidente.

O voto de Fux, que absolveu Bolsonaro e condenou apenas o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, abriu divergência em relação à maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao reter o texto sob o argumento de ajustes formais, o ministro preserva também espaço para possíveis revisões de mérito antes da publicação definitiva, o que amplia as margens de incerteza sobre os próximos passos do processo.

Entre aliados de Bolsonaro, o adiamento foi recebido com entusiasmo. O ex-presidente se reuniu ontem com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, para discutir estratégias de reação. A principal aposta é retomar a articulação em torno do chamado “PL da Dosimetria” — novo nome dado ao projeto da anistia —, em parceria com o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), buscando proteção jurídica e fôlego político à base conservadora.

Ao solicitar a devolução do voto, Fux cria uma pausa institucional que ultrapassa o campo jurídico e redefine o tempo da política. Cada dia de atraso na publicação do acórdão amplia a incerteza sobre a execução da pena e alimenta a retórica de confronto entre Poderes. No Brasil, onde o tempo é uma variável de poder, até uma “revisão gramatical” pode redesenhar os cálculos para 2026 — e confirmar que jurídico e político seguem inseparáveis.

POR: POLÍTICA ALAGOANA

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