Uma tradição de décadas passadas foi retomada por moradores de um dos bairros mais tradicionais de Maceió: Fernão Velho. Toda sexta-feira, os moradores do bairro fazem um jantar que aproxima a comunidade do local. O clima tranquilo da região contribui para tornar o encontro sempre agradável. A reportagem da Tribuna foi ao jantar da última sexta-feira (5) e presenciou várias mesas juntas, formando uma única grande mesa, nas proximidades da Praça São José. Quem estava lá, contou as histórias sobre o costume do encontro noturno e de como era a tradição no passado.
“Há muito tempo, famílias se reuniam para uma prosa e um lanche à noite aqui em Fernão Velho. Isso acontecia para dinamizar o ambiente, conversar com a vizinhança. Com o passar do tempo, essa tradição foi sendo deixada de lado, mas hoje estamos resgatando esses momentos”, conta o morador do bairro José Carlos.
Ele também diz que a comunidade resgatou a tradição do “café noturno” há cerca de dois meses. “Os moradores sentiram a vontade de retomar o que era feito antigamente, até pelo clima de cidade do interior que o bairro possui. Tem essa coisa de que todo aqui se conhece”, diz José.
Mesa farta
Na grande mesa ao lado da praça, dezenas de moradores chegavam trazendo os pratos e as bebidas. O cardápio era variado, mas tipicamente nordestino. Sopa, bolo de limão, macaxeira, bolo de massa puba, empadão de bacalhau, peixe, carne guizada, cuscuz recheado com frango e calabresa e tapioca eram alguns exemplos do que os moradores levavam. Para acompanhar a comida, tinha café, leite e refrigerante. “Toda sexta, o cardápio muda, só não muda a sopa”, conta Carla Regina, uma das moradoras que ajuda a organizar o jantar.
“Em 1978, as pessoas ficavam nas portas, à noite, conversando, e a vizinhança vinha com o café. Era uma fartura. A partir dos anos 80, tinha seresta toda sexta-feira, que ia percorrendo as ruas de Fernão Velho depois das dez da noite. Lembro com saudades”, recorda Carla.
Antes de servir os pratos, os moradores fazem uma oração. O Pai Nosso é rezado em coro pelas dezenas de moradores no local. A Igreja de São José Operário, bem ao lado da praça, complementa o momento de fé. Após a reza, os pratos são servidos com alegria e muita conversa.
“Antigamente, o pessoal se reunia e fazia um café compartilhado. Isso era nos anos 80. Era algo grandioso, pois até gente que não era do bairro vinha aproveitar. Tinha a Fábrica Carmen, por exemplo, e na hora da saída os funcionários iam tomar o café com a vizinhança de Fernão Velho”, relembra Wilson Barbosa, morador antigo do bairro, que também trabalhou na fábrica como tecelão e segurança.
Umas das moradoras de Fernão Velho, Claudinês de Lourdes, conta que, quando residia no Rio de Janeiro, era comum presenciar esse tipo de “café compartilhado” nas terras cariocas. “Aqui no bairro, isso é uma maneira da gente se integrar”, diz a moradora, que é uma das idealizadoras do resgate da tradição.
Dorival Santos era morador de Fernão Velho até o ano de 1974. Atualmente, reside no bairro da Jatiúca, mas não deixa de comparecer ao tradicional café do bairro. “Isso é ótimo. A TV e a internet isolaram muito a gente. Isso aqui, de todo mundo junto, conversando, mostra que o ‘ao vivo’ é sempre melhor”, afirma.
TRIBUNA HOJE