A desocupação de mais de 4 mil moradias nos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange e Bom parto tem puxado alta no mercado imobiliário. Só nos aluguéis, o aumento chega a 30%. E outro detalhe chama a atenção: os imóveis com aluguéis abaixo de R$ 1.000 – valor do aluguel social – estão cada vez mais escassos e distantes do Centro da capital.
O presidente da Associação de Moradores do Mutange, Arnaldo Manoel afirma que os moradores das áreas de resguardo (517 moradias) estão encontrando dificuldades para localizar imóveis na região e com valores acessíveis. Segundo ele, os aluguéis tem ultrapassado R$ 1.500 e alguns tem recorrido a áreas mais afastadas.
“O pessoal da área de resguardo, que já está em negociação, começou a procurar casa e já se nota dificuldade. Primeiro pelo valor, o mercado imobiliário quando a situação aperta para o lado de uns, o mercado aproveita e reajusta preço. Na verdade está acontecendo isso, dificuldade para encontrar imóvel. Imóvel nas proximidades, eu mesmo já encontrei dificuldade pelos valores e também os locais. Quando encontra o preço é lá em cima, acima de R$ 1000. Você encontra casa sim, mas R$ 1.500… R$ 1.600. Pessoal da encosta vai encontrar, mas em locais distantes”, diz o líder comunitário.
De acordo com o consultor imobiliário Henrique Farias, a alta chega a 30%. Aluguéis abaixo dos R$ 1.000 só em áreas onde os valores das locações eram bem abaixo disso. Segundo Farias, os novos contratos, mesmo para inquilinos antigos, estão sofrendo influência.
“A decisão da Braskem em retirar 17 mil pessoas desses bairros mexeu bastante com o mercado imobiliário. Impulsionado com a melhora da taxa de juros da caixa, tem aumentado bastante a procura dos imóveis. Mesmo com o aumento dos valores dos imóveis, o mercado está super aquecido. Mesmo com o aumento nos valores, sem dúvidas, há muita gente procurando imóveis , mesmo com a alta. Já são 30% de aumento comparado a janeiro do ano passado”, detalha
Henrique Farias acrescenta que um dos fatores é que a tendência de “inflação” ocorre porque muitos proprietários aumentam os valores pensando no valor do aluguel social.
“Os donos têm inflacionado bastante os valores dos aluguéis. Justamente por conta da ajuda do governo de 1 mil reais Os clientes reclamam dessa alta principalmente nos aluguéis. Também há dificuldade para encontrar imóveis. Consegue, mas consegue em bairros onde o valor já era muito abaixo. Por exemplo, tem gente alugando casa no Benedito Bentes, o imóvel que era R$ 600 estão pedindo R$ 950 nos novos contratos”, pontua o consultor.
Sebastião Vasconcelos é ex-morador do Pinheiro e corretor de imóveis. Ele conta que a procura por aluguéis tem sido muito influenciada pelas realocações nos bairros. A expectativa é que a situação se intensifique. “Não só para alugar como para vender, está difícil. O mercado independente do Pinheiro ou não deu uma subida boa e agora, na região, está bem difícil. Os imóveis com aluguel até R$ 1.000 são os mais procurados no mercado.”
O corretor de imóveis Thiago Dantas avalia que no comparativo com anos anteriores o mercado tem melhorado, por vários aspectos, e ao aumento da demanda é um deles.
“Já há um reflexo desde outubro. Começou a otimizar o mercado e comparando com o mesmo período do ano passado a gente percebe isso. Está voltando a aquecer, não como em 2010, 2011, mas estamos conseguindo manter um crescimento médio que é no mínimo de 10% anual para o mercado”, destaca Dantas.
“É provável que a gente tenha a manutenção de preços em alta”
O economista Cid Olival pontua que a variação de preços dos imóveis deve se intensificar e se manter em nível elevado por um bom tempo. É que com o grande número de pessoas sendo retiradas e a tendência de alta, deve ocorrer um processo semelhante ao que ocorreu no início do programa Minha Casa, Minha Vida, onde os valores alcançavam o teto da faixa de renda disponibilizada.
Economista Cid Olival avalia que variação de preço dos imóveis se intensifique e se mantenha em nível elevado (Foto: Sandro Lima/arquivo)
“Se a gente pensa que o número de famílias que têm necessidade por conta da desocupação dos bairros de novos imóveis para habitação e levando em consideração a faixa de renda dessas pessoas com o incremento do aluguel social, é provável sim que a gente tenha a manutenção de preços em alta. Isso aconteceu muito no mercado habitacional quando o governo liberou recursos para o programa Minha Casa, Minha vida que haviam faixas de renda para aquisição de imóveis e as empresas vendiam os imóveis no teto da faixa”, ressalta.
Segundo o economista, esse fator pode criar outro problema: o valor do aluguel social ser insuficiente para que as famílias consigam um imóvel para locar.
“Acredito que sim, teremos durante muito tempo ainda preços mais elevados, inflacionado dos aluguéis, porque chega uma hora que você tem uma demanda muito maior na faixa de renda que as pessoas estão dispostas apagar, por isso que o preço do aluguel social acaba sendo insuficiente para cobrir as despesas de moradia dessas pessoas que estão sendo retiradas desses bairros”, reforça o economista.
Reaquecimento ocorre em todo o Brasil, diz Ademi
O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Alagoas (Ademi-AL), Jubson Uchôa, ressalta que, apesar de ainda não haver dados consolidados sobre o aumento dos valores de imóveis no Estado, esse reaquecimento ocorre em todo o Brasil, não apenas em Alagoas.
“Com os sinais de recuperação da economia e juros baixos, o estoque de imóveis acumulado nestes anos de crise já diminuiu bastante – fato que, naturalmente, estimula o surgimento de lançamentos imobiliários com uma nova tabela de preços, já que os insumos de construção também estão mais caros”, ressalta Jubson Uchôa.
Ele avalia que a procura de imóveis em Maceió por moradores que se deslocaram dos bairros do Pinheiro e entorno têm impacto maior a curto prazo nos valores de aluguéis. “Mas sabemos que o atual estoque de imóveis da capital não é o suficiente para atender a esta demanda – o que, certamente, abrirá espaço para novas construções.”
Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel