A enfermeira Ana Carolina Barbalho e Silva, 40, é uma das primeiras brasileiras residentes nos EUA a receber a vacina contra a Covid-19. Atuando na linha de frente contra a doença desde o início da pandemia, ela disse que precisou conter a emoção.
“Na hora que recebi a vacina, às 15h32 do dia 19, segurei o choro porque tinha muita gente no local. Mas quando cheguei em casa, chorei muito. Vem na cabeça um filme de tudo que passei. Dos pacientes que não consegui salvar. Os profissionais de saúde estão muito esgotados. Então, foi uma injeção de esperança.”
Ana Carolina trabalha na UTI de pacientes com Covid-19 do Hospital da Universidade de Vermont, na cidade de Burlington, a maior do estado americano. Os EUA iniciaram a imunização no último dia 14, após aprovação emergencial da vacina desenvolvida pela Pfizer, em parceria com a empresa alemã BioNTech. Profissionais da saúde e idosos que moram em asilos serão os primeiros a receber as duas doses.
“Receber a vacina colabora também para reduzir a minha ansiedade. Apesar de utilizar todos os equipamentos de proteção, tenho asma e fico sempre sob muita tensão de me contaminar”, diz.
No início da pandemia, quando trabalhava na UTI do George Washington University Hospital, em Washington, Ana Carolina disse que chegou a ter uma crise de ansiedade. “Acordei no meio da noite com fortes dores no peito. Achei que estava infartando. Fui ao médico, mas era uma dor de estômago causada pelo meu alto nível de estresse”, conta.
Segundo ela, trabalhar na UTI tem sido extremamente desgastante, pois lá chegam somente os piores casos da doença, mostrando “o pior do pior que a Covid pode causar a um ser humano”, diz.
“Eu sei exatamente o nome das pessoas das quais segurei a mão antes de morrerem, antes do último suspiro. Sei o que os familiares falaram para elas por conversas de vídeo pelo celular. Eu chorava por trás da máscara ao segurar o tablet para os pacientes falarem com suas famílias.”
Morando nos EUA há 12 anos, e há cinco trabalhando como enfermeira, Ana Carolina diz que, apesar de exausta, ela e os colegas de profissão têm se mantido firmes para apoiar os doentes. “São avós, pais, filhos, sobrinhos. A gente se coloca no lugar dessas pessoas e acaba sendo a única família delas no dia a dia da UTI.”
Mesmo diante de tanta pressão, a enfermeira diz que fica muito apreensiva com a situação dos familiares aqui no Brasil, que também sofre com a alta de casos, como os EUA. Os pais, já idosos, e o irmão, com a esposa e dois filhos, moram em Belo Horizonte (MG).
“Eu procuro nem acompanhar muito as notícias daí para não ficar tão revoltada, mas acabo sendo a polícia da família. Ligo todos os dias para os meus pais e digo a eles para não saírem de casa, usarem máscara e álcool e não visitarem ninguém. Ainda bem que estão fazendo a parte deles.”
A segunda dose da vacina contra Covid está agendada para o próximo dia 9 de janeiro. Após isso, Ana Carolina já tem planos.
“Vou ver a minha irmã e, meu cunhado e meus sobrinhos, que moram em Washington. Abraçar, beijar e ficar com eles. O próximo passo é ir ao Brasil, assim que possível. Não vejo meus pais há um ano. Vou ficar com eles e matar a saudade da família do meu irmão, dos meus sobrinhos”, diz.
O sonho maior vai demorar um pouco mais. “Queria um Carnaval com trio da Ivete Sangalo”, diz, aos risos.
Por Folhapress \ NOTÍCIAS AO MINUTO
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