A Serra da Barriga, em União dos Palmares, se tornou o cenário e o set de gravação para um clipe intitulado “Que Rei Sou Eu”, que tem o objetivo de homenagear e difundir a cultura afro-brasileira, além de destacar a história de Zumbi dos Palmares e do primeiro rei negro do Brasil, por dinastia, José Mendes Ferreira Gueleju Adelabú III.

Durante as gravações, vários grupos culturais de matrizes africanas se apresentaram. O clipe é dirigido pelo jornalista alagoano Roberto Baia, que também é autor da música “Meu Rei Zumbi”, e ainda não tem data oficial para o lançamento, mas deve ficar pronto ainda em dezembro.

Baia ressalta que o objetivo da produção é difundir ainda mais a cultura afro-brasileira. “Tive o privilégio de conhecer o primeiro Rei Negro do Brasil em São Paulo. Ele foi consagrado rei na Nigéria e é descendente de Zumbi dos Palmares. Então, conversando com algumas pessoas e inclusive com a secretária de cultura de União dos Palmares, a professora Maria Elizabete Oliveira, sobre a possibilidade de fazer esse material. Depois comecei a preparar a produção e está sendo gravado por uma produtora de Arapiraca – é um produto alagoano. Tive a honra também de compor a música e hoje [sexta-feira, 4 de dezembro] iniciar as gravações deste clipe que, além de homenagear nossos heróis negros, vai difundir a cultura de raízes africanas”.

O presidente da Federação Zeladora das Religiões Tradicionais Afro-Brasileiras em Alagoas (Fretab), Paulo Silva, pontua que o clipe é mais uma ferramenta de combate às discriminações à cultura afro, não só no Brasil, mas em todos os países.

“Este projeto tem uma importância especial porque conta a história dos guerreiros negros – não só Zumbi, mas todos os seus descendentes no país. Estamos em solo sagrado e é bom que mais pessoas entendam isso”, ressalta Paulo Silva.

Já a secretária de cultura de União dos Palmares, Maria Elizabete Oliveira, lembra que o Memorial Serra da Barriga, além de ser símbolo da preservação da cultura negra no país, é símbolo de liberdade dos povos afro-brasileiros.

“Estamos em um espaço que tem um contexto histórico muito importante para a humanidade – é um local de luta e muitas conquistas. Este clipe vai levar ainda mais cultura, história para as pessoas que estão em casa. Acredito que chamará ainda mais atenção não só para os alagoanos, mas para os turistas de diversos locais que chegarem a Alagoas querendo vir à Serra da Barriga para conhecer mais de perto a nossa história”, pontua Oliveira.

A secretária aproveitou o momento para ressaltar a importância da Lei Aldair Blanc. “Temos muitos grupos culturais de matrizes africanas em União, e muitos deles estão na ativa graças ao auxílio emergencial da Lei. Com isso, podemos mandar fazer figurinos, comprar e fazer a manutenção de vários instrumentos”.
“Projeto é reconhecimento ao povo negro”

Para o professor Clébio Correia, coordenador do Núcleo de Estudos Afros da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e que estava acompanhando as gravações, a homenagem é um reconhecimento para o povo negro que passa a ser protagonista central fornecendo a referência de brasilidade.

“A Serra da Barriga é um espaço de grandes acontecimentos. Um espaço emblemático porque o Brasil começou aqui. E fazer essa homenagem é um reconhecimento onde o negro foi o protagonista central da história. Estamos fornecendo a referência de brasilidade a partir deste projeto que leva nossos ancestrais a serem os protagonistas mais uma vez”, comenta Clébio.

O assessor do Palácio Real do primeiro rei negro do país, Samuel Ketô, chama a gravação do clipe de uma festa que tem como principal objetivo promover a integração da cultura de matrizes africanas para todo o mundo.

“Estamos muitos felizes com a idealização do projeto. Em primeiro lugar quero parabenizar o jornalista Roberto Baia por essa iniciativa que é muito importante para a nossa cultura. Tanto a música que é alusiva a Zumbi e ao nosso rei por dinastia quanto toda essa integração de manifestação cultural que estão presentes nessa gravação mostram a diversidade cultural dos nossos povos, a diversidade da cultura de matrizes africanas”, salienta Samuel.

Fonte: Tribuna Independente / Lucas França

(Foto: Edilson Omena)