Linfoma menos frequente do que outros tipos, o linfoma de Hodgkin tem incidência de três casos por 100 mil habitantes no Brasil, por ano, disse hoje à Agência Brasil o chefe do Serviço de Hematologia do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), Ricardo Bigni.
Em um recorte geográfico, as regiões que concentram mais casos são a Sudeste e Sul, seguidas das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Referência no estado no tratamento desse câncer, o Inca atende anualmente cerca de 70 pacientes com linfoma de Hodgkin.
Dois casos recentes com esse diagnóstico foram os do comentarista esportivo Caio Ribeiro e do jogador de futebol David Brooks, do Bournemouth, da Inglaterra. De acordo com estimativa do Inca, em 2020, foram registrados 2.640 novos casos no país, sendo 1.590 em homens e 1.050 em mulheres.
O linfoma de Hodgkin é um câncer que se origina no sistema linfático, que é uma parte do sistema imunológico, de defesa do organismo. “É um dos tipos de câncer que tem cura”, disse Bigni ao destacar que o diagnóstico precoce favorece a chance de cura já que esse tipo de linfoma tem evolução ao longo de meses. “Faz diferença se você puder fazer a detecção mais precocemente. A chance de se obter a cura é maior”.
O tratamento exige quimioterapia intravenosa. A radioterapia também pode ser prescrita pelo médico, em casos específicos, para potencializar os efeitos da quimioterapia. “Em geral, é feita uma complementação, para determinados tipos de casos”. Alguns pacientes precisam fazer uso de medicamentos orais de suporte.
“A gente consegue minimizar a intensidade do tratamento de acordo com o estágio da doença”, afirmou Bigni. Em pacientes com a doença em estágio mais avançado, o tratamento dura, em média, seis meses. Em casos mais precoces, a cura pode ser obtida em prazos mais curtos, “de acordo com o caso”.
Em geral, os tumores do linfoma de Hodgkin se manifestam no pescoço e no tórax. Em estágios avançados, pode haver manifestações no abdômen e na medula óssea. O linfoma acomete principalmente adolescentes e adultos jovens, mas também pode ocorrer em idosos.
Médico há 20 anos do Serviço de Hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Magalhães informou à Agência Brasil que o linfoma de Hodgkin provém, de maneira geral, dos gânglios linfáticos.
O sintoma principal que costuma aparecer é uma íngua, ou caroço, isto é, um aumento de um linfonodo, na linguagem médica. “Ele pode emergir em qualquer região dos nossos gânglios. Portanto, pode aparecer na região do pescoço, das axilas, na região inguinal e até nos órgãos linfoides que estão no nosso tórax e nosso abdômen”.
Outros sintomas, chamados na terminologia médica de sintomas B, podem surgir associados ao tumor. Um deles é a perda de pelo menos 10% do peso em seis meses, de maneira inexplicada. “Essa perda de peso é algo significativo. É estranho e tem de ser investigada”. Outros sintomas incluem febre vespertina persistente, mas sem outros sintomas gripais; sudorese noturna que, eventualmente, leva a pessoa a trocar a roupa da cama e coceira no corpo.
O diagnóstico da doença requer o conceito da multidisciplinaridade. Caso apareça um nódulo suspeito, é preciso fazer uma biópsia. Um patologista especialista em hematologia é responsável pelo diagnóstico e, em se confirmando que se trata de um linfoma de Hodgkin, o paciente é encaminhado a um hematologista para iniciar o tratamento.
Cabe ao hematologista verificar o estágio ou grau de acometimento da doença. “A doença pode ser altamente localizada; pode pegar só uma região de linfonodos, por exemplo em cima do tórax ou embaixo do abdômen; pode ser uma doença que esteja em cima do tórax ou do abdômen; e, além disso, pode envolver algum órgão que está fora dos linfonodos, como o baço ou fígado. Tudo isso é muito importante na fase inicial”.
Para fazer essa avaliação, o hematologista usa as técnicas de imagem, a cargo de um radiologista que pode fazer uma tomografia para saber que órgãos foram acometidos. “Eventualmente, é necessário incluir também a biópsia da medula óssea porque, às vezes, a medula óssea, que é o local onde se produz o sangue, pode estar acometida”, explica Roberto Magalhães.
O médico hematologista da UFRJ explica que após o tratamento ainda é preciso acompanhar a evolução do paciente. “A gente só diz que o paciente está curado, em hemoterapia, quando ele ficar cinco anos em remissão completa”.
Durante esses cinco anos, o paciente dever fazer exames de imagem a cada seis meses nos primeiros dois anos, passando depois disso para exames anuais. Caso a doença volte, Roberto Magalhães informou que há opção ainda de tratá-la com transplante autólogo de medula óssea. “Há taxas de curabilidade em pelo menos 50% dos casos”.
O hematologista admitiu que há desafios para o tratamento na área de remédios antigos que estão desaparecendo das prateleiras, o que pode prejudicar muito os pacientes do SUS que não têm recursos para ter acesso a remédios mais modernos e sofisticados que estão surgindo.
Magalhães informa ainda que não há estudos que comprovem o que provoca o surgimento desses tumores linfoides e linfomas. “Não existe uma causa específica. São fatores genéticos e ambientais a que as pessoas se expõem que podem gerar isso, mas não existe uma regra”.
Estudos mostram a associação do linfoma de Hodgkin com o vírus da mononucleose, mas isso não quer dizer que todo mundo que teve mononucleose vai ter o linfoma, salientou Magalhães. “São diversos fatores. A gênese do linfoma é multifatorial”
Por Agência Brasil \ NOTÍCIAS AO MINUTO
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