Em apenas um mês de funcionamento, o Serviço de Assistência às Vítimas de Violência Sexual, criado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), atendeu 47 pessoas que passaram por esse tipo de violência. O número representa um aumento de 88% no percentual de atendimentos voltados a esse tipo de acolhimento, uma vez que, entre 15 de outubro a 15 de novembro do ano passado – quando o serviço ainda não existia – 25 pessoas foram atendidas nas unidades de saúde estaduais.

O aumento do número de atendimentos evidencia o quão importante tem sido a criação do Serviço de Assistência às Vítimas de Violência Sexual. Até o dia 14 de outubro do deste ano, as vítimas de violência sexual eram atendidas, mas não havia uma equipe multidisciplinar voltada para assegurar que a assistência ocorresse de forma integral, respeitando a legislação e proporcionando o acolhimento humanizado às vítimas.

Agora, as vítimas de violência sexual se sentem acolhidas e protegidas, segundo evidencia a coordenadora do serviço, Camile Wanderley. “É um número que mostra a lacuna que existia no tocante ao atendimento dessas pessoas e que destaca a relevância de um serviço desta natureza para todos os alagoanos”, salientou.

Ao mesmo tempo, o aumento no percentual de pessoas atendidas exige a formação de uma rede estruturada para acolher satisfatoriamente às vítimas de violência sexual. Ainda de acordo com Camile Wanderley, a criação do serviço possibilitou que as pessoas sentissem que, efetivamente, há uma equipe multidisciplinar preparada para atendê-las de forma acolhedora.

Como funciona

Ainda de acordo com o fluxo de trabalho do serviço, a partir do momento em que a equipe plantonista do Serviço de Atenção às Vítimas de Violência Sexual recebe uma denúncia ou é acionada pela vítima, é preciso efetivar todo o processo de atenção e assistência. Entre as medidas adotadas no âmbito da saúde, a vítima deve ter assegurado o acesso a antirretrovirais em até 72 horas, por meio da Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP).

Essa iniciativa representa uma medida de prevenção, que deve ser adotada em caráter de urgência e tem como objetivo evitar, entre outras infecções, o contágio pelo vírus HIV. “Ela tem duração de 28 dias e trata-se de uma urgência médica, que deve ser iniciada o mais rápido possível, preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição”, explicou Camile Wanderley.

Expansão

Ao completar um mês, o Serviço de Atenção às Vítimas de Violência Sexual irá ganhar o reforço do aparato da Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP). Por meio dessa iniciativa, a Sesau pretende assegurar uma resposta abrangente, que garanta o atendimento e a proteção às vítimas de violência sexual integral, por meio da assistência nas áreas da saúde e segurança.

Assim, quando uma vítima chegar a qualquer um desses pontos para denunciar ou procurar atendimento, os técnicos da Sesau e da SSP deverão ser acionados de forma imediata e simultânea. “Com essa medida, será garantida a assistência integral à saúde e à integridade física dessa pessoa, para que ela receba todos os cuidados médicos necessários, tenha seus direitos constitucionais garantidos e seja acolhida com respeito e sigilo”, explicou Camile Wanderley.

A coordenadora do Serviço de Assistência às Vítimas de Violência Sexual informou que a maior parte das vítimas de violência sexual entra em contato com as unidades de saúde por meio dos telefones 0800 284 5415, (82) 3315- 2059 ou (82) 98882- 9752. “A partir do momento em que a vítima pede ajuda, solicitamos, através do meio legal, que o abuso sexual seja averiguado. Comprovada a veracidade, a equipe multiprofissional é acionada para adotar as medidas necessárias”, garantiu.

Um dos exemplos de atuação do Serviço de Atenção às Vítimas de Violência Sexual ocorreu no mês passado, quando a pequena A.J.M.V.S., de apenas três anos, foi internada no Hospital Geral do Estado (HGE), com a suspeita de ter sido abusada pelo padrasto, segundo investigações da Polícia Civil. Ao ser examinada pela equipe médica da unidade hospitalar, a criança foi diagnosticada com traumatismo cranioencefálico (TCE), além de apresentar rupturas no órgão genital e no ânus.

Nesse caso, houve uma articulação do Serviço de Atenção às Vítimas de Violência Sexual, da Secretaria Estadual de Assistência Social e do Conselho Tutelar, bem como de outros membros da família da vítima, para que pudessem ser tomadas as medidas cabíveis. “Todos os dias, um profissional do serviço faz uma busca ativa dentro dos hospitais do Estado e essa criança também está sendo acompanhada. Não é porque foi um caso que aconteceu há praticamente um mês que ela vai ficar desassistida”, salientou Camile Wanderley.

Camile Wanderley disse ainda que a vítima que sofre um abuso sexual deve ser acompanhada por, no mínimo, seis meses. Ao longo desse tempo, boa parte das crianças e adolescente precisa utilizar o antirretroviral – medicação para o HIV e a Aids. Desse modo, elas são acompanhadas dentro de um segmento ambulatorial, por uma equipe multiprofissional, para que consigam, minimamente, voltar à rotina sem o receio de uma nova violência, sem a discriminação, sem o medo e sem a culpa por terem sido violentadas.

 

Agência Alagoas