Por que imprensa dá mais destaque ao R$ 1.2 milhão do motorista de Flávio Bolsonaro, se Coaf revelou milhões de outros políticos do PT e PDT?

O escândalo revelado pelo relatório do Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) que apontou movimentação atípica do policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), tem sido alvo de questionamentos por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Realizado à pedido da Lava Jato do Rio no âmbito de operações que levaram dez deputados estaduais para a cadeia, o relatório mencionou auxiliares de outros 20 deputados da Assembleia fluminense. Na maioria dos casos, os assessores dos demais parlamentares estão envolvidos em repasses muito superiores aos identificados pelo ex-PM motorista de Flávio Bolsonaro.

O que os apoiadores de Jair Bolsonaro questionam sobre a cobertura da imprensa é o fato de darem tanto destaque para o caso do colaborador de Flávio Bolsonaro, que aparece em 17.ª da lista com movimentação de pouco mais de R$ 1.2 milhão, quando pessoas ligadas a políticos como André Ceciliano (PT), movimentaram cerca de R$ 49,3 milhões. Pessoas ligadas a Paulo Ramos (PDT) movimentaram mais de R$ 30 milhões.

MOVIMENTAÇÃO SUSPEITA DE FUNCIONÁRIOS DA ASSEMBLEIA DO RJ EM 2016 (EM MILHÕES)

André Ceciliano (PT)
R$ 49,3
Paulo Ramos (PDT)
R$ 30,3
Márcio Pacheco (PSC)
R$ 25,3
Luiz Martins (PDT)
(preso) R$ 18,5
Dr. Deodalto (DEM)
R$ 16,3
Carlos Minc (PSB)
R$ 16,0
Coronel Jairo (SD)
(preso) R$ 10,2
Marcos Müller (PHS)
R$ 7,8
Luiz Paulo (PSDB)
R$ 7,1
Tio Carlos (SD)
R$ 4,3
Pedro Augusto (MDB)
R$ 4,1
Átila Nunes (MDB)
R$ 2,2
Iranildo Campos (SD)
R$ 2,2
Márcia Jeovani (DEM)
R$ 2,1
Jorge Picciani (MDB)
(preso) R$ 1,8
Eliomar Coelho (PSOL)
R$ 1,7
Flávio Bolsonaro (PSL)
R$ 1,2
Waldeck Carneiro (PT)
R$ 0,7
Benedito Alves (PRB)
R$ 0,5
Marcos Abrahão (Avante)
(preso) R$ 0,3

Com tanta gente envolvida no suposto esquema de um mensalinho na Alerj, por que a imprensa tem se concentrado apenas no caso do senador eleito Flávio Bolsonaro? Coaf identificou movimentação suspeita em transferências financeiras de 75 servidores da Alerj

A resposta é bem simples: ninguém sabe quem é André Ceciliano na fila do pão. Já o senador eleito Flávio Bolsonaro faz parte do núcleo duro do presidente Jair Bolsonato. Para se ter uma ideia, o número de comissionados e cargos de confiança no executivo que será comandado por este grupo político gira em torno de 99 mil postos. São indicados políticos que recebem salários de até R$ 20 mil e consomem quase R$ 1 bilhão por ano do dinheiro do contribuinte.

Adicionalmente, este grupo político comandará um orçamento de mais de R$ 2.4 trilhões e tomará decisões sobre o futuro de mais de 200 milhões de habitantes. A preocupação de parte da sociedade neste caso não se refere ao valor movimentado pelo motorista de Flavio Bolsonaro ou o valor de R$ 40 mil repassados pelo ex-PM ao presidente eleito. Não se trata de valor, mas de valores. O caso afetou a imagem do governo perante parte da opinião pública.

Entre os grandes inconvenientes deste episódio, está a narrativa política. O tema servirá de munição eterna para esquerda atacar um governo desde seu início. Nos bastidores, há ainda a possibilidade do caso ser usado por setores do Judiciário como forma de pressionar a futura administração por aumentos de salários e manutenção de privilégios.

IMPRENSA VIVA