O estudante alagoano Izaldo Filho tem 23 anos e há pelo menos um não vai a um médico. Apesar de se considerar saudável, ele justifica a ausência pela burocracia de se marcar uma consulta. “Principalmente quando você só tem o SUS (Sistema Único de Saúde)”, ressalta.

“Você não pode chegar e simplesmente se consultar. É preciso faltar um dia de emprego, marcar para ver se o dia em que você vai pode se atendido”, justifica Izaldo Filho. “A correria do dia a dia não te dá tempo para ver a saúde”, acredita.

A autoavaliação da saúde feita pelo estudante alagoano é uma exceção à regra na capital alagoana, que detém o pior índice do País em autoavaliação de saúde, entre as 26 capitais e Distrito Federal, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), com bases nos dados de 2017.

De acordo com o documento, a frequência de adultos que avaliaram negativamente seu estado de saúde (como ruim ou muito ruim) variou entre 2,8% em Vitória e 6,0% em Maceió. No sexo masculino, as piores avaliações foram observadas em Maceió (4,8%), em Porto Velho e em João Pessoa (ambas com 4,3%), enquanto as menores foram em Vitória (0,8%), Fortaleza (1,9%) e Belém (2,1%).

Além da autoavaliação, o documento do Ministério da Saúde revela que Maceió tem o pior índice do País entre as mulheres que realizam exame de citologia oncótica para câncer de colo do útero. Segundo os dados, 66,6% das mulheres maceioenses fazem o exame, contra 88,9% de Florianópolis, que detém o melhor índice do País.

A citologia oncótica para câncer de colo do útero é preconizada pelo Ministério da Saúde para todas as mulheres de 25 a 64 anos de idade uma vez por ano e, após dois exames anuais negativos, a cada três anos.

‘Comodismo’

Sinônimo de saúde, a prática de atividade física também é pouco levada em conta na capital alagoana, segundo os dados do Ministério. Maceió aparece com o segundo maior índice do País de inatividade física entre os homens, com 18% da população.

A capital alagoana fica atrás somente de Aracaju, que tem o pior índice entre as 27 capitais, com 20%. O Distrito Federal é onde foi registrado o menor índice de inatividade física, com 9%.

Quando se trata de inatividade física entre as mulheres, a capital alagoana fica com os piores índices, empatada com Natal e João Pessoa, com 19% da população feminina.

Segundo o levantamento do Ministério da Saúde, no conjunto das 27 cidades, a frequência de adultos fisicamente inativos foi de 13,9%, sendo esse mesmo valor para ambos os sexos. A diferença entre os sexos foi particularmente notável na faixa etária de 18 a 24 anos, observando-se 21,0% de mulheres fisicamente inativas contra 9,0% de homens.

“A frequência de pessoas fisicamente inativas aumentou gradativamente entre os homens”, ressalta o Ministério da Saúde no estudo. “Em ambos os sexos, a inatividade física foi mais frequente no estrato de menor escolaridade”, acrescenta.

O próprio estudante Izaldo Filho reconhece que apesar de aparentar ser saudável, leva uma vida que considera sedentária. “Meu único exercício é caminhar”, ressalta.

Sedentarismo

Um dos motivos para a inatividade física entre a população da capital é que 23,5% dos maceioenses passam três ou mais horas diárias diante da televisão. Em Palmas (TO), por exemplo, esse índice cai para 15,5% – o menor entre as 27 unidades da Federação analisadas. Segundo os dados do Ministério da Saúde, em Alagoas a televisão fascina mais os homens (25%) do que as mulheres (22%).

Em todo o País, a frequência do hábito de ver televisão por três ou mais horas diárias foi de 24,6%, com valores semelhantes para homens (24,2%) e mulheres (24,9%). “No total da população, a frequência deste hábito aumentou gradativamente com a idade. Em ambos os sexos, o hábito de ver televisão por três horas diárias diminui com o aumento da escolaridade”, aponta o estudo.

Outro fator que contribui para que a população de Maceió encabece o ranking da inatividade física é o uso excessivo de computador, tablet ou celular. De acordo com o estudo do governo federal, 19,7% dos maceioenses gastam três horas ou mais do seu tempo livre usando um desses três equipamentos.

A incidência é maior entre os homens (24%). Nas mulheres, esse índice é de 17%. “Em ambos os sexos, este comportamento diminuiu com a idade e foi menor entre os adultos com menor escolaridade”, diz o ministério.

Por Carlos Nealdo e Hebert Borges | Gazetaweb.com