A operação para cumprir 10 mandados de prisão contra integrantes de uma organização criminosa liderada por policiais militares, desencadeada na manhã desta quinta (24), partiu de investigações do Ministério Público Estadual que descobriram, entre outras provas, conversas reservadas de um dos envolvidos, o tenente Tiago da Silva Duarte. Além dele, estão presos o tenente Wellington Aureliano da Silva e o soldado Cyro da Vera Cruz Neto. Dois PMs são procurados.

Nas conversas do tenente Tiago, que à época trabalhava no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), ele admitiu receio de haver uma investigação em curso sobre a tentativa de assalto à casa de um morador de Santa Luzia do Norte, o que poderia terminar por incriminá-lo. Apesar da suspeita, ele teria continuado a praticar os crimes.

Com as investigações, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) apurou que Tiago tramou um roubo a uma residência na cidade de Colônia de Leopoldina. “Um fato estarrecedor foi a assunção do compromisso de Tiago Duarte em retirar a viatura do Pelopes de Joaquim Gomes, no momento da futura ação criminosa, como forma de evitar que o assalto fosse frustrado ou houvesse confronto com a força policial local”, disse um trecho da representação criminal enviada aos juízes da 17ª Vara Criminal da capital.

Dessa ação, também participariam Romoaldo de Souza da Silva, também preso nesta manhã, e outro homem que está sendo procurado. Os outros presos, que não são militares, são Neilson Santos Dantas, Dênis Novaes dos Reis Silva e um homem identificado apenas como Ramon. Todos foram detidos em suas residências e não reagiram à prisão.

Os demais PMs

De acordo com os levantamentos do Gaeco, um dos militares que ainda não foi localizado tem envolvimento direto com vários crimes praticados pelos oficiais Tiago e Wellington. Num dos casos, ele teria participado de um assalto a casa de uma pessoa apelidada por “Grampo”. Lá, teriam roubado dinheiro, aparelhos celulares e cocaína.

Outro assalto cometido pelo mesmo bando fora praticado contra a casa de um homem identificado como Sérgio Gaia, de onde foram retirados dinheiro e uma algema velha.

Já o soldado Cyro da Vera Cruz e o segundo PM que segue sendo procurado, além de também participarem das ações criminosas, são acusados de encobrir os ilícitos praticados pelos dois tenentes. Quando questionados por autoridades do Ministério Público sobre as suspeitas dos delitos que teriam sido cometidos por Tiago e Wellington, ambos sempre negaram conhecer qualquer fato.

Agressão contra flanelinha

Cyro da Vera Cruz é mesmo soldado que, em 4 de junho de 2018, atirou contra a perna de um flanelinha em frente ao Fórum Desembargador Jairon Maia Fernandes, no Barro Duro.

O Gaeco pediu a prisão de 10 pessoas, cinco PMs e cinco outros indivíduos que participam do mesmo grupo. “Os elementos informativos produzidos pelo Ministério Público expõe a materialidade dos crimes praticados em detrimento de várias vítimas, a exemplo de roubos, tentativa de latrocínio, invasão a domicílio, porte ilegal de arma de fogo, organização criminosa etc. Desse modo, a decretação da prisão temporária revela-se imprescindível às investigações em curso, a fim de impedir que os policiais militares e as pessoas civis investigados pertubem ou dificultem a produção de provas, ameaçando testemunhas e até mesmo eliminando a vida daqueles que saibam das atividades criminosas”, argumentaram os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado.

“Ressalte-se que o grupo criminoso investigado continua a operar nos mesmos moldes, embora desconfie que está sendo investigado”, completou o Gaeco.

Contra as casas dos 10 acusados também foram cumpridos mandados de busca e apreensão. “No caso em análise, não há dúvidas de que, nas residências dos investigados podem ser encontrados objetos e documentos capazes de instruir a ação penal a ser interposta e de formar a convicção do julgador. Enxergada como meio de prova, a busca domiciliar tem a finalidade de assegurar de forma direta a materialidade e, em alguns casos, até mesmo a autoria das infrações penais examinadas. Portanto, em face de sua essencialidade à futura relação jurídica-punitiva, ela poderá ser decretada até mesmo na fase de investigações preliminares, por requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público”, explicou um outro trecho da representação.

A operação ganhou o nome de “expurgo” porque essa palavra significa “eliminar algo, no sentido de desfazer-se de um problema”.

TNH1 procurou a PM-AL, mas a corporação ainda não se manifestou sobre o assunto.

TNH1.COM