Quem passa pela ladeira da Catedral no Centro de Maceió, um pouco mais acima vai notar uma escadaria totalmente inovada. A escadaria com 40 degraus que liga o Colégio Guido ao mirante da Ladeira da Catedral está pronta, colorida feita por mais de 1.700 artes em pequenos mosaicos criados em várias oficinas que envolveram crianças de algumas escolas, além de instituições, como o grupo Mama Renascer.

A madrinha e curadora do projeto Marta Arruda, disse que a ideia surgiu em agosto de 2017 e foi idealizado pelos os amigos Carolina Garabini, Fábio Palmeira e Soraya Correia. “A escolha da escadaria foi uma lembrança de Fábio e Soraya que estudaram no Colégio Sacramento e escolheram a escadaria por ser um caminho bastante utilizado no passado e no presente de ambos, uns o fizeram a pé e hoje passam de carro. Então se pensou, porque não dar vida a espaços esquecidos como esse. E minha filha Soraya Correia sugeriu mosaicos, que logo foi aceito pelos demais envolvidos”, comenta.

Carolina Garabini, do Projeto Todos Pela Cidade, explica que veio a lembrança de escadarias pelo mundo e consequentemente a ideia de revestir em mosaico convidando, quem entende do assunto, a artista plástica Marta Arruda, para ser a madrinha do Projeto n. 1. “Existe o n. 2 que é o Flores Pela Cidade e o 3 que foi um concurso realizado através da Casa Cor Alagoas em parceria com o Todos pela Cidade. Para saber mais sobre cada um dos projetos é só acessar Instagram @todospelacidade”, relembra.

Carolina diz que a partir da ideia começou a movimentação (tudo por meio de redes sociais e voluntários) convidando as pessoas a participarem das oficinas da Marta Arruda no seu ateliê do Estádio Rei Pelé.

“Em paralelo foram surgindo doações de cerâmica, apoio de órgão público para reparo do local e autorização da intervenção, multidão em colégios e grupos de pessoas e apoio de empresas privadas para a execução e conclusão da obra. Após alguns meses de oficina, o projeto ainda precisava de muitos mosaicos para se chegar a 1.600, que seria a quantidade suficiente para cobrir todos os 40 degraus da escadaria, aconteceu a grande parceria com o Colégio Madalena Sofia. O Colégio capacitou professores e fez junto aos seus mil alunos, incluindo os da alfabetização adulta, todos os mosaicos que faltavam”, diz Garabini.

A artista Marta Arruda confirma que toda a comunidade abraçou a ideia e incentivou a realização. “Capacitamos muita gente, até crianças. Ainda temos alguns mosaicos que sobraram e serão restaurados para outro espaço. Isso vamos conversar com a escola – já que esses são feitos pelas crianças de lá”.

O projeto é 100% voluntário e sua formalização está em rede social perante a comunidade, de acordo com os organizadores.

Ainda segundo eles, os cuidados foram inúmeros, desde identificar de quem é cada mosaico, a harmonia das cores, segurança dos instrumentos e horários durante as oficinas, até a iluminação e demais reparos que ficaram por conta de empresas voluntárias e poder público.

“Tivemos o cuidado de especificar tudo. Vale ressaltar que os símbolos são de artes locais, desenhos de crianças, símbolos de campanha como o outubro rosa, árvores, igrejas – tudo feito a partir das oficinas.  Detalhe importante é que o piso é antiderrapante”, conta os organizadores.

A escada já está pronta, faltando apenas alguns ajustes. Mas não tem dia marcado ainda para fazer os ajustes segundo a equipe, tanto por ser voluntário, quanto por ser informal.

“O projeto é um chamado para o olhar do cidadão comum, inclusive, para que possa ver que todos podem colaborar com a cidade, que de pouco se faz muito, como foi o caso da escadaria. Cada pessoa fez uma placa de 15cm, que no montante forma 1.700 mosaicos formando a grande arte que é a escadaria. Ou seja, ali tem arte de criança, de idoso, de família que foram juntos, estudantes universitários, moradores da região, pacientes oncológicos, funcionários de empresas… Enfim, foram todos pela cidade!’’, comemora.

A equipe deseja que surjam outros projetos envolvendo a comunidade para que ela não só cobre as benfeitorias, mas se sinta pertencendo aos espaços, o cuidado é diferenciado quando tem esse tipo de envolvimento. “Essa foi a minha doação. Meu tempo, material, amor e espero que seja um verdadeiro presente na vida dos moradores e turistas da cidade”, celebra Arruda.

E se depender do apoio da população, o projeto deve crescer e se expandir para outras partes da capital. O jornalista, fotógrafo e artista plástico Lula Castelo Branco tem um ateliê próximo ao local e disse que está de encher os olhos. “Passo por aqui todos os dias. Inclusive na época parava para olhar o pessoal trabalhando. E dá gosto de ver o resultado. A gente tem que viver mais a cidade. As pessoas devem valorizar esse tipo de trabalho. Seria muito bom que fosse feito em outros espaços. Imagina as nossas praças, com esses detalhes artísticos. Esse espaço é um presente. A sociedade agradece. Estou muito feliz porque noto que atualmente têm aparecido mais iniciativas assim que levam cultura e arte com uma linguagem social. E costumo dizer: que lindo. Isso é bom, mais arte e menos outdoors”, parabeniza.

Para a efetivação do projeto houve a parceria de muita gente como também de diversas empresas que doaram azulejos, cerâmicas e outros materiais.

TRIBUNA HOJE