Quando se fala em síndrome do ovário policístico (SOP), logo vem à mente ciclo menstrual desregulado. Mas além de apresentar outros sintomas, a condição predispõe quatro vezes mais as mulheres a desenvolverem diabete. Trata-se de uma relação direta bem estabelecida por estudos e, mais recentemente, pesquisas investigam as causas genéticas de tudo isso.

Já está demonstrado que o componente genético corresponde a cerca de 75% das causas de SOP, mas os genes envolvidos no processo ainda são estudados. Ao avançar um pouco mais no tema, uma pesquisa conduzida por uma endocrinologista de São Paulo encontrou um defeito genético que faz o elo entre a síndrome e a resistência insulínica, condição para a diabete.

O estudo avaliou 60 mulheres com diagnóstico de puberdade precoce central ou histórico de menarca precoce. Ao observar o sequenciamento genético, identificaram-se três tipos de mutações no gene DLK1. O achado revelou que alterações metabólicas como obesidade, intolerância à glicose, diabete tipo 2 e ovário policístico eram mais prevalentes naquelas com a mutação do gene.

“Provavelmente, a falta do gene aumenta a diferenciação do tecido adiposo [gordura], principalmente na região abdominal. Esse aumento de tecido adiposo visceral está associado à piora da resistência insulínica”, explica Larissa Garcia Gomes, autora do estudo e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional de São Paulo (SBEM-SP). “Provavelmente o acesso ovariano está muito mais ligado ao excesso de insulina e resistência”, completa a médica que será uma das palestrantes do 13° Congresso Paulista de Endocrinologia e Metabologia, organizado pela SBEM-SP, que ocorre de 16 a 18 de maio no Centro de Convenções Frei Caneca.

A médica explica que os ovários têm receptores de insulina nas células responsáveis pela produção de testosterona. O aumento desse hormônio está diretamente ligado à presença de ovário policístico. Quando a insulina está alta, a liberação de testosterona também aumenta.

Maria Carolina Madi, ginecologista da Clínica da Mulher do Hospital 9 de Julho, explica que o aumento desse hormônio no organismo leva à anovulação, que é quando os ovócitos não atingem maturidade para a ovulação. Com isso, em vez de sair dos ovários, eles continuam lá dentro, formando os pequenos cistos característicos da SOP.

“A mulher não ovula nem menstrua com regularidade porque na síndrome existe estímulo muito grande e desordenado para a ovulação, mas os ovócitos não respondem bem a esse estímulo”, afirma Maria Carolina.

Larissa diz que a descoberta de alterações no gene DLK1 vai mudar a forma de conduzir as pacientes em termos de diagnóstico e tratamento. Outros estudos genéticos estão sendo realizados no âmbito global para avaliar o perfil de apresentação clínica da SOP no mundo.

O que é síndrome do ovário policístico?

A SOP é um distúrbio hormonal em que a mulher não ovula nem menstrua com regularidade. As causas ainda não são bem compreendidas e podem envolver componentes genéticos e ambientais. O quadro pode favorecer obesidade e, por consequência, aumento de colesterol, triglicérides e maior risco para câncer de endométrio, afirma a ginecologista.

Outros sintomas, além da menstruação desregular, incluem aumento de acne e de pelos, queda de cabelo e distúrbio da libido. Caso a mulher não apresenta essas características externas, um exame de sangue detecta o característico aumento de testosterona, hormônio masculino.

Por meio de um ultrassom pélvico, identificam-se os múltiplos folículos nos ovários. “Mas sempre precisa descartar outras doenças metabólicos, como aumento da prolactina e alterações da tireoide”, diz Maria Carolina.

Tratamento para síndrome do ovário policístico

O anticoncepcional não é a única opção para o tratamento da SOP. A ginecologista do Hospital 9 de Julho afirma que a mudança do estilo de vida tem de ser o primeiro item a ser considerado. “Atividade física com regularidade, principalmente as de alta intensidade, e dieta low carb têm boa resposta na melhora da resistência insulínica”, explica a médica.

Ela explica que as atividades físicas de alta intensidade são as que mais controlam a liberação de insulina no corpo. Assim, tem controle maior da glicemia e evita desenvolvimento de diabete relacionada à SOP.

Segundo a ginecologista, essas atitudes já podem melhorar o quadro da síndrome. Porém, caso ainda seja necessário regular o ciclo menstrual, associa-se o anticoncepcional. “Tem de ver se a mulher não tem contraindicação e se ela quer usar.” Outras terapias podem ser prescritas para controle de acne e glicemia. Maria Carolina afirma que a SOP tende a se resolver ao longo da idade. “Por volta dos 35 anos, pelo fato da reserva ovariana diminuir, a mulher manifesta menos sintomas.”

Estadão
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