“Você pode ser bonito e feliz do jeito que você é, tendo vitiligo ou qualquer outra característica. O vitiligo não me caracteriza, ele faz parte de mim”, diz a modelo Eliane Medeiros, 22.

Ela tinha apenas cinco anos quando apareceu a primeira manchinha branca sobre seu olho. Em dois anos, a despigmentação ocupava quase 80% do seu corpo. “Quando apareceu a primeira manchinha foi um grande susto para minha família, a gente morava no Tocantins, não tinha muita informação”, conta.

Mas, segundo ela, o diagnóstico veio rápido. “O vitiligo é muito característico”. Ainda criança, ela diz que sofria com os tratamentos, pois tinha que passar pomada somente nas manchas, o que levava horas, além de tomar sol todos os dias 15 minutos e frente e 15 minutos de costas, de manhã e à tarde. “Fora os banhos de chás caseiros. Era muito complicado para mim”, afirma.

O vitiligo é uma doença caracterizada pelo surgimento de manchas brancas na pele. Os melanócitos, que produzem a melanina, pigmento que dá cor à pele, são atacados pelo próprio sistema de defesa do corpo.

Trata-se de uma condição estritamente estética. Não afeta a saúde. Apesar de não ser contagiosa, gera grande impacto nas relações sociais e na autoestima. O vitiligo afeta 1% da população mundial e 0,5% da brasileira, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

“Geralmente eu estou em algum espaço público e as pessoas se afastam para não ‘pegar’ vitiligo, como se fosse algo que passasse. Não façam isso”, afirma Eliane.

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O momento mais crítico, segundo ela, foi na adolescência. “No início da adolescência foi o momento mais difícil para mim porque eu procurava uma aceitação dentro dos meus círculos sociais. Só saia com roupa comprida para as pessoas não conseguirem ver. Ninguém quer ser rejeitado por uma característica que é sua”, diz.

Ela conta que por muito tempo lutou contra o vitiligo, até que aos 15 anos parou de fazer o tratamento, que além do que já fazia na infância, incorporava ainda comprimidos, e começou a se aceitar. “Cheguei a ficar paranoica. Pensava: amanhã vou acordar sem vitiligo. O que não acontecia. Como é uma característica física a pessoa tende a inferiorizar-se. Até que comecei a pensar que aquilo fazia parte de mim. Então, transformei essa ideia para me aceitar como eu sou”, conta.

Já morando em Goiânia, foi convidada por uma fotógrafa para fazer um ensaio e aceitou. O Instagram acabava de surgir e ela arriscou postar as fotos na então nova rede social. E a repercussão foi positiva. “Uma booker de São Paulo entrou em contato e me convidou para participar de uma campanha grande sobre vitiligo”, diz.

“Foi um processo bem doloroso, mas hoje consigo me aceitar como eu. Eu me acho bonita, eu me acho interessante”, completa.

Ela ressalta que tem apenas um pouco mais de cuidado com a pele, já que as regiões que não têm melanina são mais sensíveis.

O dermatologista Caio Castro, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), afirma que as causas da doença ainda não são totalmente conhecidas, mas a genética, exposição solar ou química, alterações autoimunes, condições emocionais de estresse e traumas psicológicos podem desencadear ou agravar o vitiligo.

Segundo ele, o quanto antes o tratamento for iniciado, maior a chance de controle da propagação das manchas. Ele afirma que hoje o principal tratamento para o vitiligo é a fototerapia, com cerca de 30 sessões por ano. O objetivo é pigmentar a pele. “Por exemplo, em um ano, se pigmenta 30% das manchas, no outro ano, mais 50%. Mas, muitas vezes, se pigmenta 90% do corpo, mas acontece algo e ele dispigmenta 20%, por exemplo”, explica.

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“Geralmente as manchas voltam sempre no mesmo local, pois há um depósito dos linfócitos T, que são células que atacam o próprio organismo”, completa.

Para pequenas lesões, é utilizado corticoide em creme. Já no caso de dispigmentação acelarerada, o tratamento é o corticoide via oral, segundo o médico. Outra opção de tratamento é o transplante de melanócitos.

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