Com a pretensão de prospectar Alagoas entre os empresários chineses, o governador Renan Filho (MDB) viajou mais de 16 mil quilômetros esta semana, para apresentar, ao lado de uma comitiva de secretários de Estado, as potencialidades locais para investidores asiáticos. Durante cinco dias – entre os dias 22 e 26 de julho – os representantes do governo se reuniram com empresários chineses, tentando convencê-los a investir no Estado.

Ao final da chamada “Missão China”, como foi batizada a viagem, os dois únicos investimentos comemorados pelo governador foram a isenção de impostos para a ZTT – anunciada na terça-feira (23) – e o anúncio de investimentos de R$ 187 milhões na instalação em Alagoas de uma fábrica da GsPak, fabricante chinesa de embalagens.

No caso do segundo investimento, o anúncio seria motivo de surpresa se ele já não tivesse sido feito há um ano, quando a GsPak tornou público a instalação de duas fábricas no Brasil – no Paraná e em Alagoas. Tanto é que em outubro de 2018, três meses depois de a indústria comunicar a intenção de se instalar no Estado, o Conselho Estadual do Desenvolvimento Econômico e Social (Conedes) aprovaria concessão de incentivos fiscais para a empresa, que na época anunciou investimentos de R$ 177 milhões em Alagoas.

Os incentivos fiscais, garantidos por meio do Programa de Desenvolvimento Integrado (Prodesin), foram oficializados por meio do decreto nº 63.724, assinado pelo governador Renan Filho no dia 25 de janeiro deste ano. Publicado no Diário Oficial do Estado três dias depois, o documento designava as secretarias do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur) e da Fazenda (Sefaz) para adotar os procedimentos operacionais necessários à execução do decreto, “conforme determina a lei do Prodesin”.

“A GsPak é o terceiro player do mundo em embalagens longa vida, uma indústria chinesa com tecnologia própria e que fará com que Alagoas seja detentora do primeiro grande investimento da GsPak fora da China”, comemoraria, em outubro do ano passado, o secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rafael Brito, que presidiu o conselho por ocasião da concessão fiscal.

No caso da ZTT – indústria que se intitula um dos líderes globais em tecnologia de fibra óptica -, a concessão de incentivos fiscais poderia ser celebrada entre o governo do Estado e a direção da indústria em Alagoas sem a necessidade de cruzar os mais de 16 mil km de distância que separam o Brasil da China. Trocando em miúdos, a distância percorrida pela comitiva do governador Renan Filho até o país asiático daria para ir 655 vezes a Marechal Deodoro, onde a indústria está instalada.

Pouparia, com isso, uma fatia significativa dos R$ 612.597,18 – o correspondentes a 613,8 salários mínimos – pagos sem licitação à empresa Desenvolvimento Comercial Limitada (a China Trade Center), responsável pela realização do Alagoas Summit 2019 – nome pomposo com que o governo batizou a “Missão China”.

Desde a sua inauguração, em 23 de outubro de 2015, a direção da chinesa ZTT já discutia uma futura ampliação no polo industrial de Marechal Deodoro. “Este é um marco histórico para a ZTT e para Alagoas, pois simboliza a transformação da cultura industrial do Estado, que agora passa a ser produtor de tecnologia de ponta”, disse Alexandre Prioste, presidente da ZTT do Brasil, durante a solenidade de inauguração, que contou com as presenças da consulesa-geral da China no Recife, Li Feiyue, e de representantes da ZTT Cable, entre eles Tom Qu, presidente da ZTT Mundial. “Temos grandes investimentos planejados para Alagoas e queremos ser parceiros do Estado no desenvolvimento social”, avisou.

A vinda da ZTT para Alagoas foi costurada ainda no governo de Teotonio Vilela Filho (PSDB), tendo à frente das negociações o então secretário do Desenvolvimento Econômico Luiz Otávio Gomes. Na época, o Estado concedeu incentivos fiscais, creditícios e locacionais do Prodesin, o que pesou na decisão da empresa em se estabelecer no Estado.

No fim de outubro de 2014, o então governador Teo Vilela chegou a visitar a área onde a indústria seria erguida, no polo industrial de Marechal Deodoro. Naquela época, Vilela revelaria que os investidores já pensavam em expandir projetos na mesma área, no Estado. “Os empresários da ZTT já estão com vários outros projetos, todos de alta tecnologia para implantar em Alagoas”, revelou. “É uma parceria dos chineses com empresas brasileiras que escolheram Alagoas para fazer seus investimentos”.

Além dos incentivos fiscais concedidos pelo governo do Estado, a proximidade da Braskem também influenciou na decisão da ZTT em se estabelecer por aqui, já que os polímeros são o principal insumo para a produção de cabos. “O grupo ZTT tem como princípio adotar um Estado e investir maciçamente nele, gerando inclusão através de empregos e tecnologia e assim se tornar um grande parceiro do Estado no desenvolvimento social”, afirmou o presidente da companhia, Alexandre Prioste, durante a inauguração.

A declaração de Prioste não chega a ser uma promessa. Uma das obrigações dos empresários que forem agraciados com os incentivos fiscais do Prodesin para se instalarem no Estado é a geração de emprego. Mas isso parece não dizer muita coisa num estado que fechou o primeiro trimestre deste ano com uma taxa de desemprego em 16% – o que significa 189 mil pessoas desocupadas, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra Por Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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