É exatamente nos fins de semana e feriados que a violência contra mulher acontece, e justamente neste período as delegacias especializadas encontram-se fechadas em Alagoas. A afirmação é de Julia Nunes, presidente da Associação Ame, que acolhe mulheres vítimas de violência no estado. Do lançamento até agora, mais de 200 mulheres foram atendidas pela entidade, porém os números poderiam ser maiores, se não houvesse o medo de denunciar.

Ela que é advogada, conversou com o TH Entrevista, programa semanal da Tribuna no Youtube, e lamentou que a violência contra a mulher ainda seja um mal social e que está longe de ser erradicado no planeta. “Muito ainda precisa ser feito para garantir a segurança das mulheres em suas casas, famílias, em locais públicos e no trabalho, sobretudo investir na educação. Muitas mulheres não sabem que são agredidas, vítimas de violência, muitas delas só descobrem quando já estão no auge da morte, porque o homem agrediu diversas vezes”, mencionou.

Julia Nunes destacou que infelizmente a realidade social não somente de Alagoas, massifica a visão dos filmes da Disney, onde existe a Bela, uma mulher linda, que é presa pela Fera dentro de um castelo. “É normal à criança crescer achando que o homem é a fera, que se ela tiver paciência e cuidar dele, ele virará um príncipe. O que na verdade não acontece”, ressaltou.

De acordo com a presidente da Ame, é um ciclo vicioso, em que o homem começa diminuindo a autoestima da mulher com as agressões verbais e depois vem o choro do arrependimento, com desculpas. Porém nesse mesmo pedido de desculpas vem a justificativa do homem, que o fato só ocorreu por conta de que a mulher provocou. “Digo com propriedade porque já vivi um casamento assim”.

A presidente da Associação Ame lembrou que a desvalorização da mulher é cultural, consequência de uma mentalidade machista na qual a própria mulher está inserida. “Muitas famílias dizem: não foi você quem escolheu casar? Agora aguente. A mulher normalmente permanece numa relação abusiva porque não se sente capaz de sair e muitas 90% por medo, seja da vida dela, seja porque tem filho, bem como o homem atingir outras mulheres, parentes ou até mesmo o filho”, observou.

TRIBUNA HOJE