A estratégia do MDB de Alagoas nas eleições municipais é manter o partido forte como ocorre nacionalmente, dobrar as 42 prefeituras que tem hoje entre os 102 municípios e fortalecer o projeto de hegemonia política para continuar no comando do governo estadual em 2022, quando ocorrerão novas eleições gerais no País. Se a estratégia lograr êxito, a cúpula medebista contabiliza como certa a dobradinha com o governador Renan Filho, que anunciou a candidatura ao Senado, e o pai dele, senador Renan Calheiros, provável candidato a governador na vaga do filho. O principal obstáculo do “Projeto 22” hoje é o PSDB.

Os tucanos liderados pelo senador Rodrigo Cunha e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, já trabalham forte nos bastidores para ampliar a base tucana em todo o estado. “Eu sempre estive em palanques diferentes do MDB”, lembra Rui Palmeira ao assumir que terá candidato para enfrentar os Calheiros nas eleições municipais do próximo ano. Ele está atento também às articulações visando as eleições gerais de 2022. “Por enquanto, penso em administrar Maceió. No próximo ano vamos nos dedicar as eleições municipais e claro que não dá para não pensar em 2022, apesar de estar muito distante”, analisou Rui.

Como está no segundo mandato, o prefeito não pode ser candidato à reeleição. Seus aliados mais próximos trabalham com duas possibilidades para 2022: dele ser candidato ao Senado ou ao governo do Estado. A outra novidade são os candidatos a prefeito e a vereador do PSL, do presidente Jair Bolsonaro, aqui no estado. O partido quer construir base no Nordeste, onde Bolsonaro é rejeitado principalmente pelos “coronéis”. A direção nacional, junto com o presidente da República, querem derrotar os aliados do ex-presidente Lula, e no caso particular de Alagoas, trabalham para minar a ascensão dos Calheiros em 2020 e 2022.

Tanto que o partido convocou os mais votados e as novas lideranças conservadoras de direita para disputar as eleições municipais e tentarem reduzir o domínio dos Calheiros nas prefeituras e Câmaras de Vereadores. O deputado Cabo Bebeto é cotado como pré-candidato a prefeito de Maceió e poderá “azedar” o projeto de tucanos e medebistas, afirmam os aliados do parlamentar.

“Fico no PSDB”

Numa entrevista exclusiva à Gazeta, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, desmentiu boatos espalhados na cidade pelos adversários de que estaria para deixar o ninho tucano. Afirmou que fica no partido. “O PSDB terá candidato a prefeito de Maceió e em outras cidades de grande porte”, avisou. Disposto a enfrentar os Calheiros, o prefeito se encontrou com o presidente do diretório estadual, senador Rodrigo Cunha, e fez questão de desmentir as especulações sobre a possível saída do grupo. “Nunca disse a ninguém e também nem pensei sair do PSDB. Vou permanecer e trabalhar para ampliar as bases da capital e interior”.

Rui garante que segue filiado ao PSDB, apesar de boatos de que estaria procurando novo partido para compor em Alagoas
FOTO: Dárcio Monteiro
Neste encontro com o senador Cunha, o prefeito manteve a palavra e compromissos com o diretório nacional, com a atual direção do partido no estado e se comprometeu em lançar candidato competitivo principalmente em Maceió. “Queremos um nome forte para dar sequência a este trabalho de recuperar e melhorar a qualidade de vida da população”.

Nas últimas semanas, o prefeito dividiu o tempo com tarefas administrativas, lançamento de obras, inaugurações e discretamente atuou nos bastidores políticos. “A preocupação agora é superar a recessão e a falta de apoio até do próprio governo estadual”. Tanto é que na questão do bairro do Pinheiro, há mais de dois meses, a prefeitura tenta um encontro com o governador para discutir a situação dos moradores e até agora nada . “Há dois meses solicitamos ao governo auxílio para pagar aluguel social a fim de ajudar os moradores do Mutange, auxílio financeiro para a retirada do entulho que ficará no local e até agora não houve nenhuma manifestação. É hora do governo do estado dar a sua cota de sacrifício e auxiliar a população. A prefeitura hoje conta com o auxílio do governo federal, da Defensoria Pública, do Ministério Público e do Tribunal de Justiça. Do estado, nada”, lamentou.

Rui Palmeira lembrou que o causador do problema é a mineradora Braskem, conforme atestou o Ministério das Minas e Energia com base nos relatórios conclusivos da Agência Nacional de Mineração (antiga CPRM). Neste momento, sem ajuda do governo estadual, a prefeitura, com apoio do Tribunal de Justiça, trabalha para garantir o pagamento do aluguel social e remoção de famílias nas áreas de risco do Pinheiro, Mutange e Bebedouro.

Sucessão

Com relação à sucessão municipal, o prefeito diz que o foco é a gestão pública. “Ano que vem focaremos na sucessão. Por isso, temos que trabalhar muito neste momento”. Fontes ligadas ao prefeito observa que nas horas de folga, Rui se movimenta nos bastidores, acompanha o senador Rodrigo Cunha que começou a conversar com as lideranças da capital e percorrer as maiores cidades de Alagoas para fortalecer antigos aliados, ampliar bases, recuperar colégios eleitorais, construir novos caminhos e manter principalmente o comando das duas maiores cidades: Maceió e Arapiraca.

Apesar de considerar as eleições gerais de 2022 “muito distante”, Rui não deixa de acompanhar a movimentação dos adversários que também monitoram a gestão dele. “Quero entregar a prefeitura em boas condições financeiras, com muitas ações e obras realizadas. O nosso foco, ano que vem, é trabalhar para fazer o sucessor, preferencialmente com nome do PSDB”. Avisou que apoiará a releição do colega tucano, Rogério Teófilo, em Arapiraca. “O senador Rodrigo Cunha, que recebeu mais de 70 mil dos 80 mil votos da região, trabalha também em Arapiraca e articula para aumentar a base do partido no interior”.

Admitiu que o PSDB e MDB devem ser os maiores protagonistas na disputa pelas prefeituras de Maceió e Arapiraca. “No caso de Maceió, não vejo nada de anormal nesta disputa. A gente sempre esteve em palanques opostos e certamente estaremos novamente em 2020 e 2022 em palanques diferentes”, disse Rui.

Senador

O senador Rodrigo Cunha, no último encontro que teve com jornalistas em Maceió, não demonstrou interesse em disputar a prefeitura da capital. “Vou percorrer o estado e trabalhar para ampliar a nossa base de prefeitos e vereadores, ajudar na reeleição do prefeito de Arapiraca, ajudar a administração do prefeito Rui Palmeira, que busca o seu sucessor”.

Uma das suplentes do senador é a ex- prefeita Eudócia Caldas, mãe do deputado JHC, que hoje é considerado um dos candidatos mais fortes a prefeito de Maceió. “Este fato não vai interferir no relacionamento. Os projetos políticos são diferentes e se houver disputa entre o PSDB e PSB, vejo isso com naturalidade”, disse Cunha.

Pré-candidatos precisam dominar redes sociais

Faltando um ano para as convenções que definirão os candidatos a prefeito dos 102 municípios de Alagoas, partidos políticos como MDB, PSDB, PDT, PSB, PP, PT, PSL entre outras siglas, se articulam estrategicamente para aumentar as bases, buscam nomes fortes e capazes de tentar conquistar as prefeituras das maiores cidades. A exigência é que os candidatos tenham domínio na manipulação das redes sociais. Esses candidatos precisam ter poder de articulação entre os conhecidos ‘caciques’, que também têm suas estratégias de poder com os olhos voltados para as eleições de 2022. Correm por fora dos partidos ricos, o Psol, Pros, Podemos, Dem e outras siglas que querem fazer composição com chapas majoritárias.

Com estes perfis aparecem pré-candidatos majoritários na capital, como JHC (PSB), deputado Cabo Bebeto (PSL), Davi Davino Filho (PP), Ronaldo Lessa (PDT), Kátia Born (PDT), Judson Cabral (PDT), Corintho Campelo da Paz (PDT), o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça (sem partido), Kelmann Vieira (PSDB), Eduardo Canuto (PSDB), senador Rodrigo Cunha (PSDB), Ricardo Barbosa (PT), o secretário estadual de Infraestrutura, Maurício Quintela (PR), entre outros com menores visibilidade na mídia tradicional.

O MDB presidido pelo senador Renan Calheiros tem a maior densidade eleitoral no estado com 11 deputados estaduais, 42 prefeitos, dezenas de vereadores. Em segundo lugar aparece o PSDB, que saiu das eleições municipais de 2016 com 18 prefeitos e hoje dois deles são dos maiores colégios eleitores: Maceió (mais de 580 mil eleitores) com prefeito Rui Palmeira e a capital do Agreste, Arapiraca (mais de 142 mil eleitores), com o prefeito Rogério Teófilo; um senador, dois deputados estaduais e dezenas de vereadores. Os dois prefeitos tucanos impuseram as derrotas mais significativa ao MDB, além do prefeito de Palmeira dos Índios, Júlio César (PSB), que derrotou o PSDB naquela região estratégica entre o Sertão e Agreste.

Nacionalmente, os dois maiores partidos trabalham para manter a hegemonia nas gestões municipais. O PMDB tinha 1.015 prefeitos e hoje tem 1.028 gestores, portanto, um crescimento de 1,3%; o PSDB tinha 683 prefeitos e agora contabiliza 796, crescimento de 15,6%; o PSD tinha 495 gestores, agora 796 prefeitos, mais 8,9%; o PP tinha 474 e hoje tem 495 prefeitos, crescimento de 4,4%; PSB tinha 434 e agora tem 414 prefeitos, portanto uma queda de 4,6% no número de gestores municipais; o PDT tinha 304 e subiu para 334 prefeitos, ou seja, crescimento de 9,9%; o PR tinha 274 e agora tem 295 prefeitos, crescimento de 7,7%, revelam os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

olsonaristas

A orientação da direção nacional do PSL, do presidente Jair Bolsonaro, é escalar os campeões de voto da sigla nas eleições do ano passado para disputar as principais cadeiras do Executivo e Legislativo das maiores cidades e as capitais. Em Maceió, o deputado Cabo Bebeto, eleito com 31.573 votos (2,11% dos votos válidos), é considerado pelos bolsonaristas como pré-candidato natural em condições de modificar o cenário da disputa que se divide entre MDB, PSDB, PSB e PDT há mais de 40 anos. O militar, curiosamente, segue o mesmo estilo político na Assembleia Legislativa Estadual (ALE), do presidente Bolsonaro. Assume ser populista, de direita e militarizado. Goza de simpatia entre os pobres, evangélicos, policiais, entre seus familiares e a população da periferia, que reclama dos crimes que se multiplicam e da falta de segurança.

PDT convoca Lessa para entrar na disputa

Abandonado pelos Calheiros que lhe deram a Secretaria Estadual de Agricultura e o manteve sem prestígio, o ex-deputado Ronaldo Lessa, presidente estadual do PDT, percebeu a tempo que a estratégia era sufocá-lo politicamente e aí pulou fora do barco. Agora está com nova tarefa dada pelo presidente nacional do partido, Carlos Luppi, que é aumentar a musculatura política do partido no estado e se distanciar dos Calheiros. O partido hoje tem quatro prefeituras: Anadia, Jacuípe, Roteiro e Viçosa. A meta é dobrar o número de prefeituras e de cadeiras de vereadores nos 102 municípios. A missão mais difícil será tentar reconquistar a Prefeitura de Maceió (ele foi prefeito de 1993 a 1996).

O PDT, na verdade, tem entre os pré-candidatos a prefeito da capital, o ex- deputado Judson Cabral, a ex-prefeita Kátia Born, o ex-prefeito Corintho Campelo da Paz e agora o ex-deputado Ronaldo Lessa (que já foi vereador, prefeito, governador em dois mandatos e deputado federal). Há 15 dias, o presidente nacional do partido, Carlos Luppi, convocou Lessa em Brasília (DF) para discutir duas missões: ampliar as bases do interior e liderar a disputa eleitoral numa tentativa de retomar a prefeitura.

A questão já repercute internamente no partido. Dois pré-candidatos – Kátia Born e Judson Cabral – admitem a possibilidade de disputar cadeiras na Câmara de Vereadores. Já Corintho Campelo quer deixar os convencionais do partido decidir a questão. Entre os quatro, por enquanto, há um clima amistoso e um discreto apoio a Lessa. Em conversa com a Gazeta, o presidente do diretório estadual não escondeu o desconforto dado pela direção nacional para disputar a prefeitura. “Um dado positivo é que temos nomes fortes para disputar a prefeitura”.

JHC

O deputado federal JHC é considerado pela maioria dos adversários pré-candidatos como um dos mais fortes entre os interessados na Prefeitura de Maceió. Com 178.645 votos, o parlamentar foi o mais votado da bancada federal. É considerado como o craque das redes sociais. Tem uma equipe grande alimentando as informações para os internautas.

João Henrique Caldas circula nos finais de semana pelos bairros periféricos, tenta atrair novas lideranças e já tem apoio da maioria das congregações religiosas, onde está uma parte significativa dos seus cacifes político-eleitoral. O parlamentar evita as polêmicas pela mídia tradicional, sua comunicação se concentra nas redes sociais e no corpo-a-corpo. Filho do ex- deputado João Caldas e da ex-prefeita de Ibateguara, Eudócia Caldas (suplente do senador Rodrigo Cunha), não é alinhado com o grupo político dos Calheiros.

Pressão

Outro que é um forte candidato é o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça. As pressões para aceitar disputar a Prefeitura de Maceió vem de todos os lados. A parte mais interessada é o grupo do MDB. Se o procurador-geral aceitar e vencer o pleito estaria fora da disputa pelo governo do estado em 2022, cargo cogitado pelo senador Renan Calheiros, o pai do governador Renan Filho.

“Neste momento sou procurador- geral de Justiça”, disse Alfredo Gaspar recentemente à Gazeta. Ao ser questionado se aceitaria disputar o cargo de governador em 2022, riu e nada respondeu, aumentando a curiosidade de alguns jornalistas e aliados do próprio Ministério Público Estadual (MP). Para participar do pleito no próximo ano, o procurador teria que deixar o MP e ele não demonstra este desejo. Nas comunidades de Maceió, Alfredo Gaspar de Mendonça é o que mais goza de respeito e tem maior credibilidade entre a população.

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