A repercussão dos gastos de quase R$ 20 milhões do governo Renan Filho (MDB) com propaganda, nos primeiros seis meses de seu segundo mandato, ainda ecoa negativamente em Alagoas. Entidades cobram do governador uma mudança de foco e maior atenção. No parlamento, o deputado Bruno Toledo (Pros) também demonstrou indignação com os valores revelados pela Gazeta de Alagoas.

Para o presidente da Associação das Praças da PM e Corpo de Bombeiros de Alagoas (Aspra/AL), Wagner Simas, os gastos representam uma incoerência, principalmente porque o que está sendo divulgado são obras que podem se tornar “elefantes brancos”, sem pessoas para fazer funcionar.

“Nos investimentos que o governo faz na questão social, há que se observar que algumas estão paradas, como o viaduto da Polícia Federal, no Tabuleiro, e não muito distante disso, a questão das reposições salariais (depois de mandar projeto para Assembleia Legislativa) falando em reajuste, quando, na verdade, é reposição salarial que deixou de aplicar em 2015 e 2017”, criticou Simas.

Segundo o militar, outra questão é que vários hospitais estão sendo construídos e poderão ser elefantes brancos. “Provavelmente, não teremos profissionais para trabalhar. O governo fala em Lei de Responsabilidade Fiscal para não pagar os aumentos, mas o primordial (segurança, saúde e educação) deixou a desejar. Aí, agora, para nossa surpresa, vem esse gasto com propagandas”, criticou Simas.

O militar criticou, ainda, que parte da propaganda com segurança é para divulgar a “Ronda no Bairro”, que classificou como “Milícia Oficial”, criada por meio de decreto para ser prestado com militares da reserva.

“Isso é inconstitucional e fica caracterizada a formação de uma milícia oficial, uma vez que,, na prestação dos serviço não tem apenas militares, mas sim civis, como os egressos do Exército que, depois do serviço, ficam como civis. Ou seja, gastou quase R$ 20 milhões com propaganda enganosa para apresentar o governo como sendo o melhor para a sociedade, pensando num futuro bem próximo que já sabemos qual. Mas, com o servidor público, ele não tem a mesma preocupação”, lembrou Simas.

Orçamento

Entre os policiais civis, a repercussão dos dados também foi muito negativa. De acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes da Polícia Civil de Alagoas (Sindpol), Ricardo Nazário, os gastos de quase R$ 20 milhões são parte dos R$ 60 milhões previstos para este ano, conforme apurou no orçamento aprovado para 2019.

“O gasto com publicidade do governo é um absurdo. Aqui, no Estado, quase metade da população vive abaixo da linha de pobreza e com R$ 400 por mês, e o Estado ter um gasto tão alto com esse ao invés de priorizar saúde, educação e segurança. Ele poderia investir em reformas das delegacias, qualificar melhor os investigadores, investir em equipamentos para investigação criminal, aparelhos modernos para interceptação telefônica e, de fato, melhorar a segurança pública. Ele fala que é prioridade, mas os números não mostram isso”, avaliou Nazário.

Ele lembrou que a entidade tem “clamado por concurso público” para melhorar o atendimento à população para garantir a solução dos crimes. De acordo com o dirigente, é incoerente o governo falar que não pode conceder reajuste às categorias, com o argumento de que compromete a LRF, e gastar tanto com propaganda.

“Esses R$ 19,3 milhões poderiam também ser usados para a construção de uma academia de Polícia Civil, pois hoje o que temos é um improviso em algumas salas na sede da Deic, que é chamada de academia. Esse dinheiro poderia servir para fazer um estande de tiro e um ambiente correto para que os policiais pudessem treinar. É prioridade que falta ao governo de Alagoas”, atestou Nazário.

Princípio

Na Assembleia Legislativa, o deputado Bruno Toledo (Pros) disse acreditar que os altos gastos, além de não significarem retorno para a sociedade, podem criar espaços privilegiados do governo na mídia, por meio de influência na linha editorial.

“Por princípio, acho que o governo deve ter uma publicidade de forma impessoal e econômica. Sempre defendi isso. Portanto, critico o gasto alto com publicidade em todos os governos. Gastos altos com publicidade acabam indicando a possibilidade de financiamento de linhas editoriais por vias indiretas, como ocorreu nos governos petistas, em que vários blogs recebiam recurso público para falar bem do PT. Esse é o risco”, destacou o parlamentar.

Por causa disso, Toledo defende que as verbas publicitárias devem existir, porém com volume financeiro menor. Além disso, os critérios de aplicação deveriam atender aos aspectos técnicos.

“O Estado tem que focar em sua função principal: serviços de qualidade ao contribuinte: educação, saúde e segurança. Além disso, a assistência social como forma de garantir e melhorar oportunidades. A mentalidade estatista é que produz essas distorções, que são ampliadas por governantes que amam mais aparecer na mídia do que mostrar resultados efetivos à população. Muito desse dinheiro seria melhor aplicado em outras áreas”, completou Toledo.

A questão da prestação de serviços, para ele, é o principal ponto que deveria ser levado em consideração por qualquer gestor, mas ainda mais para os que administram estados com o perfil de Alagoas, que ainda não superou vários índices sociais negativos

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