Produtores culturais e artistas que atuam no interior do Estado classificam como discriminatória a política cultural do governo Renan Filho (MDB), executada pela Secretaria de Estado da Cultura(Secult).

Diante do quadro de descaso, eles cobram ações voltadas para os municípios. Nesta semana, houve manifestações por parte de empreendedores da área, em Arapiraca, que questionam o fato de a pasta, comandada pela ex-prefeita de Piranhas Mellina Freitas realizar ações voltadas em sua maioria, apenas para a capital do Estado.

Eles citam como a mais recente ação o edital aberto para o V Festival Pôr do Sol Cultural. “É preciso lembrar à secretaria que o Estado conta com 102 municípios, e a pasta é estadual. A política adotada pela secretaria é discriminatória e tem contemplado ações praticamente em Maceió, enquanto artistas e produtores do interior ficam à margem do processo cultural”, pontuou o produtor audiovisual Claudivan Santos.

Na área de audiovisual, por exemplo, a Secult tem realizado ações de formação, mas também apenas em Maceió, a exemplo da oficina de roteiro ocorrida na segunda-feira (26). “As primeiras oficinas aconteceram no mês de julho, abordando temas como Elaboração de projetos e Produção Executiva e Financiamento FSA. Até o final deste ano, serão realizados cursos intensivos enquadrados em modalidades de gestão, criação e técnica e acessibilidade”, informou a pasta. Todas as atividades, porém, estão concentradas na capital.

“Quando abrem inscrições para cursos ou oficinas na área do cinema, nós, que somos de Arapiraca, vamos ter gastos a mais, por mais que sejam oficinas gratuitas. Isso é muito triste”, reforçou Williene Barbosa.

Para a secretária Mellina Freitas, teoricamente a política cultural executada pelo governo Renan Filho, na área do audiovisual, por exemplo, visa desenvolver todo o Estado, embora, na prática, a situação seja bastante diferente, conforme atestam produtores do interior.
“As oficinas fazem parte das ações de fortalecimento da produção audiovisual alagoana. Temos trabalhado para promover o desenvolvimento da cadeia produtiva cinematográfica no Estado, buscando aperfeiçoar nosso núcleo digital e ampliar cada vez mais os investimentos voltados para o setor”, justificou Mellina Freitas, ao comentar sobre as oficinas de audiovisual que são realizadas em Maceió.

E a constatação de artistas de várias áreas sobre a concentração de ações e investimentos voltados apenas para a capital torna-se cada vez mais evidente no meio cultural.

“Recentemente o Teatro Deodoro [gerido pelo Estado] comemorou aniversário e grupos de teatro do interior ficaram de fora da programação. Afinal, só tem teatro em Maceió?”, questionou a atriz e produtora Dayane Teles. “A cultura é para todos, assim como as oportunidades”, ressaltou.

“Eu já participei de alguns eventos do Estado, passei em edital e tudo o mais. Mas é notório que Maceió é privilegiada. Eles nunca pensam que nós do interior já ficamos em desvantagem por conta de transporte e hospedagem. O cachê já fica comprometido em 30% e, no caso de editais, como este do Pôr do Sol Cultural [inscrições abertas até dia 30 de agosto], onde o cachê é de R$ 2 mil, esse percentual pode chegar a 50% só para a logística”, reforçou o cantor e compositor Janu Leite.

Ele lembrou ainda que, em julho, houve um evento chamado Festival de Rock Alagoano, promovido pela Secult, e só havia bandas de Maceió.

“Sem falar na Lei de Incentivo à Cultura do Estado, que foi galgada pelos maceioenses. Tem que haver uma descentralização urgente. Quero frisar que adoro Maceió, mas também adoro Penedo, Delmiro Gouveia, Teotônio Vilela, Arapiraca, enfim, somos Alagoas”, acrescentou Janu Leite.

Por Marcelo Amorim | Portal Gazetaweb.com