Foi só quando começou a cortar a própria pele que a operadora de telemarketing Rejane Oliveira Guilhermino dos Santos, de 28 anos, se convenceu que precisava de ajuda médica. Já fazia pelo menos dois anos, desde que perdeu a guarda do filho para o ex-marido, que ela sentia uma tristeza frequente, mas pensava que o sentimento seria passageiro.

“Percebi que as coisas estavam piorando quando comecei a me isolar das pessoas. Só sentia vontade de chorar, de sumir, de morrer, de me machucar. Mas não imaginava que o que eu tinha era depressão”, conta ela.

Após crises em que se automutilava, Rejane decidiu marcar uma consulta no médico da família que a acompanha pelo plano de saúde. “Foi ele que me encaminhou para a psiquiatra e para a psicóloga. Daí passei a entender que era um problema que precisava de tratamento. Foi bom ter esse atendimento especializado porque, entre colegas, cheguei a sofrer preconceito. No trabalho, me disseram que eu não precisava de licença, que tudo isso era frescura”, conta ela.

A analista de relacionamento Sabrina (nome fictício), de 27 anos, também preferiu recorrer a um auxílio profissional durante uma crise de depressão em um fim de semana. “Como o plano oferece a central telefônica com psicólogos, preferi ligar nesse telefone do que desabafar com amigos ou familiares. Alguns não compreendem o problema em sua totalidade, é melhor falar com alguém especializado”, conta ela.

Ela diz que já faz tratamento para depressão há alguns anos, mas que, quando tinha pioras aos fins de semana, não sabia como agir. “Eu ficava sem ter o que fazer porque é mais difícil conseguir atendimento. Agora, quando vejo sinais de piora, eu já falo com a psicóloga da central. Ela respeita o meu espaço, às vezes quero falar só por mensagem e ela me ajuda”, diz.
Atendimentos

Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o número de procedimentos registrados pelos convênios médicos voltados à saúde mental têm crescido em ritmo muito superior à média dos demais tratamentos.

Enquanto as consultas médicas como um todo cresceram apenas 0,5% entre 2016 e 2018, o número de atendimentos com psiquiatras saltou 19,5% no mesmo período. Alta ainda maior foi observada nas sessões de psicoterapia, que aumentaram 35,6%.

As internações psiquiátricas, indicadas geralmente para pacientes com quadros mais graves, também aumentaram. No ano passado, foram 196,3 mil atendimentos do tipo ante 157,4 mil em 2016, alta de 24,7%. No mesmo período, as internações gerais feitas por planos cresceu apenas 3,8%.

Estadão
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