O vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), justificou nesta terça-feira (10) sua afirmação da véspera segundo a qual, por vias democráticas, não haverá as mudanças rápidas desejadas no país.

Carlos chamou jornalistas de “canalhas” por terem, segundo ele, interpretado de forma equivocada a frase publicada em sua rede social na segunda-feira (9). De acordo com o vereador, a declaração sobre democracia foi uma justificativa aos que pedem mudanças urgentes, e não uma defesa dele da ditadura militar (1964-85).

“O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes. O que jornalistas espalham: Carlos Bolsonaro defende ditadura. CANALHAS!”, tuitou

Na segunda-feira, em postagem alvo de críticas de políticos e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Carlos escreveu: “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos… e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”

A postagem inicial de Carlos Bolsonaro recebeu uma série de críticas. Falaram a respeito o presidente interino, Hamilton Mourão (PRTB), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador paulista, João Doria (PSDB).

Segundo pesquisa Datafolha feita no mês passado, 70% da população diz acreditar que os filhos de Jair Bolsonaro mais atrapalham do que ajudam seu governo.

Nesta terça, Mourão defendeu a importância do regime democrático e disse que é possível aprovar medidas com mais celeridade negociando com o Poder Legislativo.

O general da reserva salientou que, se não fosse o regime democrático, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não teria chegado ao comando do Poder Executivo e afirmou que o atual sistema político representa um dos “pilares da civilização ocidental”.

Para o presidente do Senado, declarações como a de Carlos Bolsonaro merecem desprezo porque a democracia está fortalecida. “O Senado Federal, o Parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo”, reagiu Davi Alcolumbre.

Já Ciro Gomes cobrou uma declaração pública do presidente Jair Bolsonaro em relação à frase de seu filho, enquanto Doria disse pensar o oposto de Carlos.

“Sem entrar na polêmica, eu penso o oposto. Só com a democracia é que nós podemos ter um país soberano, livre e capaz de produzir políticas sociais e políticas econômicas. É só com a democracia, não há nenhum outro caminho possível para o país. E eu estarei ao lado dos democratas”, afirmou Doria.

As postagens de Carlos foram feitas enquanto seu pai está internado em São Paulo após passar por cirurgia no domingo (8), a quarta decorrente da facada que levou há um ano durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

Questionado, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro não se manifestou sobre o tema.

“Acredito até que o vereador tenha conversado sobre isso com o presidente da República. Mas esse não é um tema que no momento nós queremos vocalizar, porque o nosso foco é a recuperação do senhor presidente da República”, disse Rêgo Barros.

“O que é tuitado nas contas pessoais é de responsabilidade de cada uma dessas pessoas que são aquelas que dirigem e que orientam o seu relacionamento via mídia social”, completou.

Rodrigo Maia afirmou a declaração de Carlos “não cabe num país democrático” e que “frases como essa devem colaborar muito com a insegurança de empresários brasileiros e estrangeiros”.

“A gente tem que tomar cuidado com as nossas narrativas porque muitas vezes são além de frases mal colocadas, causam danos ao povo mais carente brasileiro”, afirmou o presidente da Câmara.

“A gente viu o que aconteceu com a Venezuela, são mais de mil venezuelanos todos os dias passando a fronteira para o Brasil, pessoas passando fome, necessidade. É isso que deu a pressa da Venezuela sem um sistema democrático”, disse Maia.

Irmão de Carlos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que a declaração não tem “nada de mais”.

“O que o Carlos Bolsonaro falou não tem nada de mais, ele falou que as coisas na democracia demoram porque tem debate, só isso”, afirmou o deputado, durante sessão da Casa nesta terça-feira.

“A gente debate, a gente fala, por nós teria outra velocidade. Mas o tempo do Congresso não é o tempo da sociedade, ponto”, afirmou Eduardo.

Carlos Bolsonaro pediu licença não remunerada da Câmara Municipal do Rio de Janeiro no último dia 6 de setembro. A comunicação foi publicada nesta terça-feira no Diário Oficial da Casa. Desde sábado (7) acompanhando o pai, ele tem dormido no Hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo.

A licença não remunerada para tratar de assuntos particulares, caso de Carlos, tem um período máximo de 120 dias por sessão legislativa.

Dizendo-se desgostoso com a política, Carlos tem dito a aliados que desistiu de concorrer à reeleição à Câmara do Rio –está em seu quinto mandato seguido– e lançou a própria mãe, Rogéria, para a disputa.

(FOLHAPRESS)