s manchas de óleo que atingem o litoral do Nordeste desde setembro e identificadas como petróleo cru estão surgindo a cada dia em novos pontos de praias de Alagoas e de todos os nove estados do Nordeste. 15 praias do litoral alagoano já fora atingidas segundo o relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No dia 27 de setembro eram 13 pontos.

O último balanço do Ibama, dão conta que foram afetadas os seguintes locais: Paripueira; Praia do Gunga (2 pontos), em Roteiro; Barra de Santo Antônio; Loteamento Encontro do Mar, em Marechal Deodoro; Barra de São Miguel; Praia do Francês; Praia do Carro Quebrado, em Passo do Camaragibe; Maceió nas Praias de Pajuçara e Ponta Verde; Praia de Japaratinga; Praia do Pontal do Coruripe e Praia Lagoa do Pau, ambas em Coruripe; e recentemente as praias de Piaçabuçu, no Litoral Sul de Alagoas, e de Ipioca, no Litoral Norte.

O superintendente do Ibama, Mário Daniel, ressalta que o órgão vem trabalhando para sanar o problema. Um comunicado disponível no site do órgão, diz que está sendo estabelecida uma série de ações em apoio com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (DF), Marinha e Petrobras, no intuito de investigar as causas e responsabilidades do despejo.

Até o momento, são 132 pontos registrados oficialmente com as manchas do óleo. No total, 61 municípios foram afetados nos estados de Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

O último estado a integrar a lista foi a Bahia, no último dia (3). O estado com maior número de registros é o Rio Grande do Norte, com 43 casos, seguido por Pernambuco (19), Paraíba (16), Alagoas (14) e Sergipe (12).

Em uma reunião, na terça feira (1), organizada pela Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), em Recife, foi definida a denúncia formal à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. No local foi feita ainda apresentação dos encaminhamentos feitos pela Marinha do Brasil. As investigações prosseguem com as análises dos materiais coletados para identificação do DNA do óleo, consecutivamente a origem dele, e imagens de satélite.

O material já foi identificado como óleo cru e a Petrobras garante não reconhecer a origem e que não é produzido no Brasil. Entre as causas mais prováveis está a lavagem do lastro de algum navio, que é crime ambiental. Também é considerada a possibilidade de um acidente com alguma embarcação que não tenha sido comunicado às autoridades brasileiras. A segunda possibilidade está sendo posta em investigação porque outros artefatos foram encontrados. Em setembro, por exemplo, os técnicos do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) localizaram, na praia de Lagoa Azeda, uma bombona que teria origem em Cingapura e carregava material utilizado para debelar incêndio. Também um tambor de carga foi encontrado, em outubro, em Piaçabuçu. Materiais parecidos também foram encontrados em outros estados.
Material chega a 150 metros da foz do Rio São Francisco

Segundo o Ibama, o líquido foi encontrado a 150 metros da margem da foz do Rio São Francisco. De acordo com a analista ambiental do Ibama, Cynira França, o óleo foi detectado nesse domingo (6), por técnicos do órgão. “A equipe que estava em campo informou dessa mancha nesta segunda-feira (7) à tarde. O que sabemos, no entanto, é que ela entrou no início da foz, uns 150 metros da margem, e se instalou em uma parte de praia. A possibilidade também, é de que a corrente tenha sido o motivo do aparecimento”.

A assessoria de comunicação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) ressalta que as manchas não chegaram ao Velho Chico, mas existe a ameaça. “Há uma ameaça, evidente, mas não se tem notícia de que isso tenha acontecido até o momento”. Mas para evitar que aconteça, o Ibama está negociando algumas medidas com a Petrobras, para que haja a contenção do líquido. “De imediato, encaminhamos o ponto em que a mancha foi localizada para o coordenador geral. Ele ficou a cargo de escolher o responsável pela contenção e limpeza, pois se trata de uma área de difícil acesso, e as medidas cabíveis são diferenciadas’’, conta França acrescentando que até o momento as manchas não trazem riscos ao rio e à população próxima.

O oceanógrafo Gabriel Le Campion ressalta que o produto traz alguns impactos ambientais. “O impacto pode afetar desde aves marinhas, como tesourões e gaivotas, até repteis como tartarugas. Se chegar a regiões recifais estuários e manguezais, o dano pode ser maior principalmente para os animais bentônicos (ostras, mexilhões, crustáceos como caranguejos)’’.

ANIMAIS

Segundo o último balanço do Ibama, publicado no domingo (6), o óleo já atingiu ao menos 11 tartarugas e uma ave bobo-pequeno ou furabucho (Puffinus puffinus), conhecida pela longa migração. Em Sergipe e na Bahia, a soltura de tartarugas feita pelo projeto Tamar foi suspensa. No sábado (5), uma tartaruga foi encontrada morta na região de Mangue Seco/Coqueiro (BA). Este registro ainda não consta no balanço oficial do Ibama.

Em Alagoas, duas tartarugas também foram encontradas cobertas de óleo por equipes do Instituto Biota de Conservação. Uma em Maceió e outra em Coruripe. Ambas estavam com vida e uma delas foi encaminhada à sede do Ibama. Estes também não estão no balanço divulgado.

Semarh e IMA vão sobrevoar região afetada

Representantes do IMA e da Semarh se reuniram nesta segunda para tratar de medidas administrativas e institucionais dos dois órgãos. “A priori, amanhã (terça, 8) vai ser feito um sobrevoou a partir das 9h.

Têm relatos de moradores de Piaçabuçu que teriam visto manchas de óleo dentro do mar. Por isso, acontecerá esse voou para averiguar se há indícios de manchas se aproximando da costa”, informou a assessoria de imprensa do IMA.

O coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo César, alerta que é importante à população evitar o contato direto com o material. “Ao avistar manchas de óleo nas praias é recomendado informar ao órgão ou a prefeitura local o mais rápido possível. Em caso de contato acidental, a indicação é aplicar gelo sobre a área e higienizar, utilizando óleo de cozinha. Se a pessoa ingerir acidentalmente o óleo ou apresentar reação alérgica por causa do contato, a orientação é a de que se procure uma unidade de atendimento médico’’.

INVESTIGAÇÃO

A Marinha do Brasil iniciou as investigações para se chegar até os responsáveis pelo crime ambiental. Os navios estão sendo monitorados para identificar a origem do óleo. Segundo o Ministério da Defesa, além da patrulha naval, helicópteros da Marinha e da Força Aérea Brasileira (FAB) começaram a sobrevoar as áreas atingidas nesta segunda. A Marinha também emitiu um “Aviso aos Navegantes”, pedindo informações aos marinheiros.

O deputado federal Marx Beltrão, coordenador da bancada alagoana no Congresso Nacional, protocolou requerimento destinado ao ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, cobrando respostas e celeridade nas investigações. (Com agências)

Fonte: Tribuna Independente