Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa do Hospital Infantil Nationwide, nos Estados Unidos, afirmou que a taxa de suicídio entre adolescentes com idade de 10 a 17 anos aumentou após o lançamento da primeira temporada da série da plataforma de streaming Netflix, ‘Os 13 porquês’.

A pesquisa, publicada na última sexta-feira (26) na revista científica norte-americana Journal of American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, analisou as taxas de suicídio entre pessoas de 10 a 64 anos de idade no período de 1º de janeiro de 2013, antes da estreia da série, a 31 de dezembro de 2017, depois de seu lançamento.

De acordo com o estudo, nos três meses seguintes à estreia de ‘Os 13 porquês’, a taxa de suicídio entre meninos adolescentes de 10 a 17 anos aumentou. Segundo publicado no jornal norte-americano The New York Times, houve um aumento de 30% nas ocorrências. Já nas demais faixas etárias, os níveis de suicídio continuaram os mesmos, sem diferença entre os sexos.

Ao jornal, uma das autoras do estudo, a cientista do Instituto Nacional de Saúde Mental Lisa Horowitz afirmou que mulheres de todas as idades têm três vezes mais chance de tentar o suicídio, mas homens têm quatro vezes mais risco de cometê-lo.

Porém, outro estudo, realizado pela Universidade de Viena, na Áustria, e Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, publicado no último dia 25 na revista científica norte-americana Social Science & Medicine, afirmou que jovens adultos, com idades entre 18 e 29 anos, que terminaram de assistir à segunda temporada da série, lançada em maio de 2018, tiveram menos pensamentos suicídas e manifestaram maior interesse em ajudar pessoas com esse comportamento quando comparadas àquelas que pararam de assistir ao seriado.

Cleisla Garcia, repórter especial do Jornal da Record, da Record TV, e autora do livro Sobre Viver (Benvirá, 2018), livro-reportagem que aprofunda os dados e casos de suicídio, ressalta que, após a série da plataforma de streaming e os casos do jogo “Baleia Azul”, houve um crescimento na onda de suicídios no Brasil e no mundo. Porém, a jornalista afirma que o serido teve um aspecto positivo: o de retirar o assunto do suicídio do campo do preconceito.

Para ela, é preciso falar sobre suicídio, mas é preciso saber como falar. “É preciso abordar o assunto sem que sejam descritos métodos e não chamar a pessoa que tentou o suicídio de suicída, pois ela não possui fatores determinantes de suicídio desde que nasceu, mas se tornou uma pessoa vulnerável”, explica.

Na série, as recomendações de órgãos internacionais e de cartilhas de prevenção ao suicídio não foram seguidas, pois mostraram de maneira explícita o método utilizado e culpabilizaram pessoas.

De acordo com a Cartilha de Prevenção ao Suicídio do CVV (Centro de Valorização à Vida), entre as pessoas que possuem maior vulnerabilidade ao suicídio estão aquelas que já tentaram previamente, pessoas com transtornos mentais, como depressão, ansiedade e trantorno bipolar, pessoas com sentimentos de desesperança e impulsividade, jovens e idosos, por conta do sentimento de solidão, pessoas com doenças degenerativas e com sentimento de que estão dando trabalho à família, homens, histórico familiar e genético e outras doenças, como câncer e HIV.

A jornalista aponta que os números de suicídio entre os jovens vem aumentando, pois se trata de uma fase de um turbilhão de mudanças, na qual há busca de aprovação perante à sociedade, além de existir um comportamento de grande impulsividade.

“Uma coisa que aprendi com os médicos enquanto estava escrevendo o livro é de que os pais não devem desafiar o jovem quando há a situação em que, no meio de uma briga, o adolescente fala que vai se matar e o adulto fala ‘Então vai’, porque os pais acham que o jovem está blefando, mas, dependendo da situação em que ele se encontra, ele comete o suicídio, porque eles agem diante do impulso”, explica Cleisla.

Para prevenção do suicídio, o CVV oferece atendimento gratuito por meio do telefone 188 ou por meio do site (www.cvv.org.br).

Suicídio aumentou entre jovens brasileiros

Um estudo divulgado recentemente por pesquisadores do Instituto de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) mostrou que entre 2006 e 2015 a taxa de suicídio entre adolescentes de grandes cidades (São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Recife) aumentou cerca de 24%, e no Brasil, 13%. De acordo com a pesquisa, a maior taxa de ocorrências foi entre meninos adolescentes entre 15 e 19 anos.

A pesquisa, que utilizou informações do DATASUS, do IBGE e do Banco Central do Brasil, sugere que indicadores socioeconômicos, como o desemprego e a desigualdade social seriam fatores determinantes para a elevação de suicídios entre esses jovens.

De acordo com a pesquisa, a taxa de suicídio é maior no sexo masculino, quando comparada às mulheres. Isso se explicaria aos fatores de risco e exposição aos quais os homens são submetidos, como impulsividade, agressividade consigo mesmos e seus parentes, uso de substâncias para lidar com seus problemas e uso de métodos mais letais ao tentar o suicídio.

“O que mais chama a atenção não é que os índices aumentaram a ponto de falarmos em uma epidemia. Mas, na faixa etária de 12 a 20 anos, esse número tem crescido, que é justamente uma fase da vida em que as pessoas estão planejando viver. Então, o que mais impressiona é o que os especialistas chamam de ‘inversão da curva da felicidade'”, afirma Cleisla.

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