A cada 15 dias, um grupo de pais e parentes de jovens se reúne em um sobrado em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, para aprender a lidar com o inusitado vício dos filhos. A maioria está na faixa dos 40 ou 50 anos e tem filhos adolescentes.
Quando tornaram-se pais e mães, relatam, um dos principais medos era de que os filhos se tornassem dependentes de drogas ou álcool, ou que fossem vítimas de violência.
Também temiam (e queriam evitar) ter com os filhos uma relação autoritária como a que vivenciaram com os pais, sem diálogo e com muitas regras.
Mas o que hoje tem se manifestado como principal preocupação da paternidade foi algo inesperado: a apatia que os filhos demonstram com qualquer atividade que não esteja relacionada ao uso da internet. “Se ele não pode estar no computador, fica deitado na cama e dorme o dia todo”, conta o pai de um jovem de 23 anos. “Parece que não tem uma motivação na vida, não consegue tomar decisões”, relata outro.
A psicóloga Sylvia Van Enck, do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, conduz as sessões de terapia.
Em uma delas, acompanhada pelo Estado, ela convida os presentes a revisitarem sua adolescência, lembrando que, quando jovens, eles também desafiavam os pais e queriam quebrar regras, mas que a resposta dos responsáveis era diferente.
“Antigamente os pais se impunham gerando medo, e não queremos reproduzir isso hoje. Mas também precisamos perceber o tanto de privilégios que temos concedido antes mesmo que os filhos cumpram com suas obrigações”, diz ela.
A ideia não é trazer culpa aos pais, mas ensiná-los a balancear diálogo com limites. “Muitas vezes os pais temem as reações dos filhos e evitam o conflito, mas isso leva a um distanciamento maior. Definir tarefas e obrigações para eles é uma forma de integrá-los à família e fazer com que eles se sintam úteis. Nos jogos online ou nas redes sociais, muitas vezes eles se sentem valorizados e por isso querem ficar só naquele mundo”, destaca Sylvia.
Foi essa a principal mudança adotada por Mariana no trato com o filho de 16 anos após frequentar o grupo do IPq. “Mais importante do que superprotegê-lo é analisar as reações dele e ir negociando. Não precisamos ser autoritários, mas é preciso mostrar, mesmo que de forma sutil, liderança”, diz.
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