Neste domingo (3), mais de 100 mil candidatos devem iniciar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em Alagoas. Embora o diploma de nível superior não seja mais garantia de emprego, chegar à universidade ainda é uma meta de muitos jovens brasileiros. Nos dois domingos seguidos – dias 3 e 10 – ocorrem as provas e, nesse primeiro fim de semana de maratona, os candidatos terão 5h30 para responder questões de Ciências Humanas, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, além da redação.

Dos mais de 108 mil candidatos que se inscreveram para fazer o Enem em Alagoas – segundo o Inep – 40,8 mil são de Maceió. Já no dia 10, serão cinco horas para resolver as provas de Matemática e de Ciências da Natureza. Um total de 180 questões nos dois dias, com resultado do exame previsto para janeiro de 2020.

“As escolas estão todas preparadas para receber os candidatos, com detalhes resolvidos e as equipes capacitadas. Tudo dentro do esperado. A principal alteração que teve em relação ao ano passado é que a gente deu uma diminuída na quantidade de escolas. Isso foi mais uma questão de concentração para ter mais controle de alguns eventos que possam ocorrer. Resolvemos inserir mais universidades com maior porte para a aplicação das provas”, Guto Cruz, assistente da coordenação estadual do Enem.

Em Alagoas, são mais de 200 locais de prova, 58 deles em Maceió, sendo a Faculdade Maurício da Nassau, no Farol, com maior a concentração de inscritos: mais de 3,3 mil candidatos. “Uma alteração muito importante que houve em relação ao ano passado é que nós temos o atendimento especializado das pessoas surdas ou que tenham algum tipo de deficiência. Toda essa aplicação no ano passado era concentrada na Unit, mas esse ano a gente descentralizou. Outras escolas também terão atendimento especializado. Para quem mora próximo dos locais de prova é melhor”, explica Guto Cruz.

A hora da Redação

Bele Barros, que é professora de redação do Impacto Curso, no Farol, em Maceió, fala sobre a dificuldade de candidatos na hora de redigir o texto que será avaliado. Diz que o que vai pesar negativamente é a falta de leitura, a falta do conhecimento. “Os alunos infelizmente vão para a sala de aula e não se adéquam às disciplinas como Filosofia e Sociologia, trazendo essas áreas de conhecimento para contextualizar dentro do texto. Então essa é a maior dificuldade de atrelar aos repertórios socioculturais. Tem que estar atualizado com tudo que está acontecendo”, explica Bele Barros.

A professora atua há 10 anos na área, formada e pós-graduada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). “Aí se depara com o tema e fica logo nervoso, mas não para pra pensar e refletir sobre o tema. O Enem pede um texto argumentativo-dissertativo e por se pedir a autoria do candidato, muitos não estão sabendo fazer isso. A opinião dele de acordo com a problemática levantada. O que acontece? coloca muitas informações e o texto passa a ser informativo e não argumentativo. Às vezes não sabem nem colocar os adjetivos, os quais aprenderam no ensino fundamental, que ajudam o corretor a caracterizar a opinião do candidato. Agora a prova está específica, porque desde 2018 é a Fundação Getúlio Vargas, que prepara as redações. Significa que a gramática tem um peso forte dentro das correções. O candidato tem que atentar e não ficar repetindo as mesmas palavras, os mesmos operadores argumentativos”, acrescenta Bele Barros.

30 anos de experiência

Com mais de 30 anos dedicados a ensinar Biologia, sua paixão desde a infância, já aposentado e coordenador do curso preparatório Impacto, Luzinário Barbosa, diz que as mudanças no Enem passaram a exigir mais senso crítico dos candidatos. “A gente tinha o costume de não dar seriedade à leitura, leu por ler, e o Enem veio com o propósito de você ampliar sua reflexão. Então no momento que passou a exigir a reflexão do aluno, a coisa fica mais difícil porque a gente vai resistir aquela situação que a gente não estava acostumado, porque você vai ter que parar, vai ter que pensar, vai ter que acionar muito mais recursos no seu organismo para poder ter uma ideia geral, que é salutar, que é importantíssimo”, explica o professor.

Na opinião de Luzinário Barbosa, a forma como o candidato lida com as emoções ainda é muito decisivo no momento de fazer as questões. “O que ele tem que saber é dominar suas emoções, porque na nossa vida quando a gente está tomado emocionalmente a gente comete muitas gafes. A ansiedade faz com que você erre o que você sabe. Quando está tranquilo, pensa, meu Deus não acredito que eu fiz isso. O conhecimento é necessário, é a base, mas se eu não tiver um bom equilíbrio emocional eu terei problema na hora da prova, então a gente busca diminuir essa ansiedade aqui no cursinho, porque até a gente que está trabalhando fica ansioso em ver resultados positivos”, afirma o professor de Biologia.

Uma relação tranquila nesse momento entre pais e filhos é importante. “Quando você está bem, você fica mais focado, consegue ter uma atenção mais concentrada, você consegue achar as soluções daquilo que você achava que era impossível encontrar. Então quando a gente se cobra demais, a gente tem mais dificuldade e acaba ficando cego. Diga: eu tenho potencial para passar e os senhores pais digam: nosso filho tem condições de passar e vamos torcer por isso, com os pés no chão”, avalia Luzinário.

Jovens apostam em bom resultado

Airton Fidélis Costa Pinto, 18 anos, terminou o ensino médio no ano passado. “Esse ano eu despertei para a realidade. A pessoa dentro da sala de aula é muito influenciada pelas pessoas, foi quando saí do colégio e vi que a vida não era isso que eu estava pensando e comecei a estudar para o que eu queria. Exercer a Medicina é um sonho desde criança. Eu tinha medo de tentar, conversei com a minha mãe e ela me incentivou ser cada vez melhor. Se eu não tiver preparado hoje, vou procurar melhorar para conseguir conquistar meu objetivo que é Medicina. Já sei até o que eu quero ser, quero ser psiquiatra”, afirma Airton Fidélis.

Marx Anthony da Silva Lima, 23 anos, também vai tentar Medicina e pela segunda vez. Considera que agora é para valer. “Me sinto mais preparado este ano, pegando melhor os assuntos e acabando com o bicho papão da Matemática e da Física. O que penso é que quando eu chegar lá quero me especializar em Cardiologia”, disse o candidato.

Já Ana Beatriz de Oliveira, 18 anos, tentará pela segunda vez entrar no curso de Engenharia Química. “Busco mais a área de exatas e estudar fora daqui. Estou nervosa, é uma coisa normal de todo estudante, mas coloco os pés no chão e digo que vou conseguir. Estudo o dia todo. Este ano estou focando mais no Enem e acho que estou mais preparada, eu tinha medo de Redação, mas estou treinando mais”, afirma.

Redução do número de candidatos

Segundo informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), houve redução do número de candidatos este ano, em relação a edições anteriores. Cerca de 5,1 milhões dos 6,3 milhões confirmaram inscrição. As mulheres seguem sendo maioria e representam mais de 59% e mais 26% têm de 21 a 30 anos. Quase 60% dos inscritos já concluíram o ensino médio.

Em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), o presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirma que não haverá muitas mudanças em relação aos exames anteriores. “O Enem segue normal. O que a gente orientou às equipes foi buscar uma prova equilibrada, para que não gerasse polêmicas. Nós inclusive utilizamos questões que já estavam no banco de itens, então, não há nenhum tipo de direcionamento na prova. A prova é normal, como nos anos anteriores, só evitando polêmicas”.

As regras do MEC

A assessoria do Ministério da Educação (MEC) enfatiza que antes de entrar na sala cada participante receberá um envelope porta-objetos para guardar itens pessoais, que deve ficar guardado embaixo da carteira, com eletrônicos desligados. Também que qualquer som emitido pelos aparelhos eliminará automaticamente o candidato. Alarmes de relógios e celulares entram nessa regra. É obrigatório levar caneta esferográfica de tinta preta e fabricada em material transparente, documento oficial de identificação, original e com foto.

É aconselhável levar para a prova: cartão de confirmação de inscrição; declaração de comparecimento impressa (caso precise do documento). “E o que é proibido? borracha, corretivo, chave com alarme, artigo de chapelaria, impressos e anotações, lápis, lapiseira, livros, manuais, régua, óculos escuros, caneta de material não transparente, dispositivos eletrônicos, fones de ouvido ou qualquer transmissor, gravador ou receptor de dados imagens, vídeos e mensagens”, informa o MEC, nas redes sociais.

Ainda segundo orientação do MEC, o candidato poderá ser eliminado se não permitir que os artigos religiosos, como burca, quipá e outros sejam revistados; ausentar-se da sala de provas, a partir das 13h (horário de Brasília), sem o acompanhamento de um fiscal; comunicar-se verbalmente, por escrito ou por qualquer outra forma, com qualquer pessoa que não seja o aplicador ou o fiscal, a partir das 13h (horário de Brasília); fazer anotações no caderno de questões, no cartão-resposta, na folha de redação, na folha de rascunho e/ou demais documentos do exame, antes do início das provas; descumprir as orientações da equipe de aplicação; não entregar ao aplicador, ao terminar as provas, o cartão-resposta, a folha de redação e a folha de rascunho; não entregar ao aplicador o caderno de questões, exceto se deixar em definitivo a sala de provas nos 30 minutos que antecedem o término das provas; recusar-se a entregar ao aplicador o cartão-resposta e a folha de redação após 5h30 de provas, do primeiro dia, e 5h de provas, do segundo, salvo nas salas com tempo adicional ou com videoprova na Língua Brasileira de Sinais (Libras); não permitir que os materiais próprios, como máquina Perkins, reglete, punção, sorobã ou cubaritmo, caneta de ponta grossa, assinador, régua, óculos especiais, lupa, telelupa, luminária e/ou tábuas de apoio sejam revistados.

Por Regina Carvalho | Portal Gazetaweb.com