Organização Não Governamental (ONG) Pata Voluntária lamentou o destino de mais de 900 cães com Leishmaniose, conhecida como Calazar, que serão sacrificados. A entidade criticou a postura adotada pelo Estado, chamando a atenção para a prioridade do tratamento, ainda que a doença não tenha cura, e citando que o cão também é vítima.

Conforme ressaltou a presidente da ONG, Pali Mondal, não se admite, nos dias de hoje, a priorização do sacrifício, ou seja, mais de 900 animais serem sacrificados, representando, assim, “um descuido por parte do poder público”. Para ela, os cães – ainda que infectados por um doença incurável – podem viver normalmente, por meio de um tratamento adequado.

Como exemplo, Pali Mondal citou que dois cachorros chegaram à ONG com a doença, e a dona de um deles iria sacrificá-lo, o que foi impedido pela entidade. “O outro cachorro veio da rua, onde foi espancado. Diante disso, fizemos todos os exames, inclusive, os testes para a detecção da doença, confirmando a infecção. No momento, eles estão reagindo bem ao tratamento”.

A presidente fala que as principais medidas de prevenção são uso de repelente e de uma coleira específica. O tratamento se dá através de um medicamento chamado Milteforam, praticamente, uma quimioterapia.

“Portanto, não há necessidade de sacrificar os animais, pois eles também são vítimas, e não, os transmissores. Tudo isso é uma questão de saúde pública. O que se deve fazer é combater o mosquito. Não concordo com a eutanásia nos cães, apesar de entender que, em alguns casos específicos, não tem solução”, externou Mondal.

MAIS DE 900 CÃES INFECTADOS

Uma reportagem publicada pela Gazetaweb, no último fim de semana, revelou que a Leishmaniose encontra-se em situação epidêmica no estado, tendo vitimado fatalmente sete pessoas dos 71 casos confirmados. Além disso, mais de 900 cães serão sacrificados, por serem os principais responsáveis pela hospedagem do parasita.

Segundo informações da infectologista Mardjane Nunes, superintendente de Vigilância em Saúde, a leishmaniose demora meses para se manifestar, o que revela riscos para o animal e o ser humano. A especialista esclarece que tal enfermidade sempre existiu, apresentando curvas crescentes, por alguns períodos, mas nunca se manteve tão presente na vida da população alagoana.

Em 2010, houve uma leve subida da incidência de casos da doença, mantendo-se constante até 2017, quando as ocorrências voltaram a crescer, inclusive, resultando em óbitos. Os motivos que provocaram esse quadro epidêmico ainda são desconhecidos, até mesmo por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Fiocruz, em Pernambuco.

“As causas desse aumento ainda não sabemos. Através de parceria com esses centros de pesquisa, enviamos material para analisar a genética do parasita, se sofreu modificações. Tudo será investigado por sérios e competentes especialistas no caso”, explicou a infectologista, assinalando, na oportunidade, que a situação de epidemia é diferente de uma quadro de surto, visto que este reflete uma “explosão de casos em várias pessoas, em uma mesma localidade e de forma rápida”.

Por Jobison Barros | Portal Gazetaweb.com