Cerca de um ano se passou desde que os moradores da chamada “área vermelha” do Pinheiro foram retirados do bairro e passaram a receber ajuda humanitária do Governo Federal. De lá para cá muitos fatos novos foram acrescentados à situação, no entanto, os moradores reclamam das incertezas em relação a moradias, tanto pelo aluguel, quanto pelas indenizações.

Segundo a Prefeitura de Maceió, atualmente 1.975 benefícios foram concedidos a moradores para realocação da área de risco delimitada pelo Serviço Geológico do Brasil.

Entre elas está Erika Machado. Até o início de janeiro do ano passado ela morava no bloco 17 A do Residencial Jardim Acácia no bairro do Pinheiro. Quando a Defesa Civil de Maceió anunciou que seria preciso retirar moradores da chamada “área vermelha”, Erika conta que se mudou de imediato para o bairro da Santa Amélia porque era a única área compatível com suas condições. Até então ela não recebia nenhum tipo de auxílio. A ajuda humanitária só começou a ser disponibilizada quatro meses depois da saída de Erika.

“Eu me mudei para a Santa Amélia. Porque era onde eu podia pagar até receber a ajuda humanitária, porque eu estava desempregada e a minha família é que estava me sustentando”, relembra.

Ela conta ainda que a situação no bairro, somada a mudança de imóvel, provocou problemas de saúde na família. Ela mora com a filha de 17 anos.

“Foi difícil em todos os sentidos. Principalmente o psicológico. Minha filha desenvolveu problemas emocionais devido à mudança. Foi muito difícil. Eu não tenho família aqui, sou de Bom Conselho, Pernambuco. Minha mãe que me deu o apartamento. Ela está com depressão e síndrome do pânico. Ela mesma um dia falou: se eu pudesse eu mesma derrubava o prédio. Não é fácil. Foram anos juntando dinheiro, se privando pra me dar uma casa. Como ficará? Eu sem casa e sem ter como comprar outra. Minha filha estuda na Cambona, precisa sair cedo acordar às 5h. Nossas vidas foram destruídas. Não somos mais os mesmos, sem amizades, vida social acabou, todos moram longe um do outro, falta dinheiro porque eu morava perto de tudo. Hoje tudo é pago”, detalha.
Para moradores da região afetada, aceitação os deixa “sem garantias”

Erika afirma que a mais recente mudança, o anúncio de que a Braskem irá custear o valor do aluguel, causou ainda mais incertezas em sua família e também entre os moradores.

“Já eram muitas incertezas, todo mês precisando ligar pra Defesa Civil para saber a data, às vezes não está na conta no dia previsto. Humilhações diante de tudo. Se diz que é do Pinheiro, as pessoas não querem alugar a casa. Agora passaremos por outra mudança, no Pinheiro ainda chegará [cadastro], só tenho mais duas parcelas ao terminar, e se eles não resolverem dar continuidade? Terei que entregar a casa e voltar? Terei que aguardar as negociações. Mas pelos autos, para termos direito, temos que entregar as chaves do imóvel e aguardar a negociação sem contra proposta. Pior é isso. Ainda assinar um termo de desocupação de uma criminosa. Elas nos mata e temos que tirar o erro dela”, reclama a moradora.

Outra moradora que também saiu do Pinheiro para um imóvel locado na Santa Amélia é Érica Vieira. Ela morava no bairro do Pinheiro há 28 anos com os pais.

“Nós morávamos há mais de 28 anos no Pinheiro. Antes mesmo de todo esse problema meu pai sofreu um AVC e todos os médicos dele eram no Farol. Depois que começou tudo isso, a gente teve muitos problemas porque minha mãe ficou muito aperriada. A gente terminou indo morar na Santa Amélia. Foi uma dificuldade muito grande porque meu pai mal anda, não fala. E tudo sou eu para resolver. Para conseguir o aluguel social foi muita dificuldade, muitas exigências. Depois de muita luta consegui resolver. Mas tudo dele ainda é no Farol. Mas têm a locomoção, a gasolina, tudo isso prejudica muito a nossa família e até agora nada, estamos no aguardo para saber o que vai ser feito das nossas vidas”, comenta.
Responsabilidade será transferida para a Braskem

As assessorias da Prefeitura de Maceió e Braskem afirmam que os lotes de auxílio aluguel serão remanejados para o pagamento pela empresa.

“A Coordenadoria Especial Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) informa que a empresa Braskem está iniciando o processo para absorver o pagamento do valor da Ajuda Humanitária, previsto no Termo de Acordo para Apoio na Desocupação das Áreas de Risco, celebrado entre MPF, MPE, DPU, DPE e a Braskem. Agora, os 80 beneficiários do lote 1 passarão a ser atendidos pela empresa no auxílio aluguel e não mais pelo benefício federal da Ajuda Humanitária. Os beneficiários do lote 1 receberam a 12ª parcela da Ajuda Humanitária do Governo Federal no mês de dezembro, encerrando, assim, o repasse de recurso federal previsto na renovação”, diz.

No entanto, é necessário que os moradores do chamado Lote 1 entrem em contato com a empresa para agendamento de atendimento na Central do Morador.

“O agendamento estará disponível a partir de quarta-feira (22), onde os beneficiários do lote 1 serão atendidos para fazer a transferência de cadastro. Em janeiro, a Braskem fará o pagamento da primeira parcela do auxílio aluguel, dentro dos termos do acordo assinado entre os órgãos públicos e a empresa. As ligações para o 0800 006 3029 são gratuitas, inclusive de telefone celular”

Ainda conforme a Defesa Civil de Maceió, os dados dos moradores que recebem o auxílio do Governo Federal foram repassados à Braskem na última sexta-feira (17).

“Na última sexta-feira (17), a Defesa Civil de Maceió encaminhou cópia de toda a documentação apresentada pelos beneficiários para validação da Ajuda Humanitária ao Ministério Público Federal (MPF). O órgão federal será responsável pelo repasse dos dados à empresa Braskem, para que a ajuda de custo, paga para manter as famílias fora da área de risco, não tenha descontinuidade. Também na sexta, a Braskem comunicou que iniciou o processo de identificação das 80 unidades habitacionais inseridas no lote 1. Os técnicos sociais da equipe da mineradora estão em campo para fazer a identificação dos imóveis dos moradores contemplados no lote 1 da Ajuda Humanitária. O trabalho continua nesta segunda-feira (20) e, nesta etapa, a equipe identifica e cola um selo nas moradias. Para os imóveis que estão desocupados, não é necessária a presença do proprietário”, afirmaram.

Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel