O vírus mutante que matou milhares de pessoas e se espalhou rapidamente pelo mundo, chegando, inclusive, em Alagoas, está desafiando as autoridades de saúde e o receio de ser infectado tem mudado os hábitos de muita gente. Por causa do coronavírus, ou COVID-19, como os cientistas chamam, muitos modificaram a rotina e passaram a adotar práticas básicas de higiene em casa ou mesmo incentivá-las no ambiente de trabalho.

Quem pretendia viajar para a Europa, colocou os pés no freio diante da epidemia da doença naquele continente. Só na Itália, um dos destinos mais procurados por alagoanos em viagem ao exterior, mais de 800 pessoas morreram em consequência do vírus até a última sexta-feira. O número de infectados passava de dezenas de milhares, obrigando o governo a colocar o país inteiro em quarentena.

Por outro lado, quem estava lá quis retornar, a exemplo do padre alagoano Augusto Jorge, que estava na Itália, desde 2017, para fazer mestrado. Ele estava temeroso com o surto e pediu autorização à Arquidiocese de Maceió para voltar. Ele relatou que as ruas de Roma ficaram desertas, cena difícil de imaginar diante do potencial turístico da capital italiana.

A rotina nas igrejas, em vários estados, também mudou. Nos templos católicos, muitos padres dispensaram o momento da paz durante a missa, em que as pessoas se cumprimentam com abraços, beijos e aperto de mão. Na Itália, as celebrações foram suspensas e até o próprio Papa comanda o ritual de maneira privada e transmitindo pela TV e redes sociais, após recomendação do governo italiano para se evitar as manifestações públicas enquanto a pandemia estiver ativa.

Em Maceió, segundo o padre Rodrigo Rios, da paróquia do Inocoop, as igrejas estão deixando de fazer o momento da paz para evitar o contato. Além disso, a liderança está conscientizando os fiéis a manterem as práticas de higiene. Por outro lado, os cultos nas maiores denominações evangélicas de Alagoas não sofreram alteração. Na Assembleia de Deus e na Batista, as reuniões estão acontecendo normalmente, mas os líderes estão reforçando as recomendações do Ministério da Saúde para evitar o contágio.

Aqui, as principais redes de farmácias e drogarias estão renovando o estoque de máscaras faciais e álcool em gel. Estes produtos sumiram as prateleiras desde a explosão de casos no mundo e as primeiras notificações no Estado. Em alguns estabelecimentos estes itens estão em falta há duas semanas.

O presidente do Conselho de Farmácias de Alagoas, Robert Nicácio, disse que o problema surgiu mais ou menos 10 dias antes das especulações da chegada do coronavírus no Brasil e das suspeitas e confirmação dos primeiros casos em Alagoas. Ele recebeu informações de farmacêuticos que são responsáveis técnicos de farmácias, drogarias e distribuidoras de medicamentos e materiais médico-hospitalares, como também de farmacêuticos proprietários destes estabelecimentos, de que a procura por álcool em gel e máscaras tinha aumentado bastante.

“São produtos que não têm demanda alta no cotidiano, principalmente porque as máscaras são mais para uso ambulatorial e hospitalar e são vendidas mais em distribuidoras e casas de materiais médicos e odontológicos. Farmácias vendem muito pouco este item”, afirmou o presidente do conselho.

Ele informou que, com a confirmação do primeiro caso em Alagoas, os produtos sumiram nos estabelecimentos e causou um receio na população. “Começamos, então, um trabalho de orientação no sentido de informar que não é somente o uso de máscaras e álcool em gel que evita o contágio. Uma série de precauções precisa ser tomada e a principal é a higienização das mãos com água e sabonete neutro. Quando não for possível, o uso do álcool em gel e de lenços descartáveis é recomendado”.

Sobre esta questão, o Procon Maceió informou que monitorou, na semana passada, várias redes de drogarias e farmácias na capital e não se confirmou a cobrança abusiva. O órgão pediu a colaboração da população para denunciar possíveis abusos nos preços praticados nestes estabelecimentos.

Hábitos que são considerados simples são reforçados em meio a pandemia
FOTO: Ailton Cruz

FUNCIONÁRIOS DE RODOVIÁRIA PASSAM A USAR MÁSCARAS

A partir da confirmação do primeiro caso de COVID-19 em Alagoas, a direção da Sinart [Sociedade Nacional de Apoio Rodoviário e Turístico Ltda.], que administra o Terminal Rodoviário João Paulo II, recomendou a instalação, em pontos estratégicos, refil com álcool para higienização das mãos. Outra orientação foi repassada aos lojistas do local para que também disponibilizem álcool em gel aos clientes e adote medidas internas para instruir os funcionários no processo de higienização e atendimento.

Na rodoviária, também foi colocado como regra o uso de máscaras pelos funcionários da operação de atendimento, principalmente nos setores de embarque de passageiros. Placas de orientação para higiene das mãos e do uso dos produtos foram espalhadas pelo terminal.

O Sinturb/AL [Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros] informou que as viações estão reforçando a limpeza interna nos coletivos. Tudo para diminuir a chance de disseminação do vírus. A entidade garantiu que os ônibus só são retirados das garagens após o serviço de asseio e conservação. Um material publicitário vai ser afixado nestes transportes, produzido pela Associação Nacional das Empresas de Ônibus, contendo orientações acerca das precauções a serem tomadas pelos usuários.

A Abrasel [Associação Brasileira de Bares e Restaurantes] disponibilizou um guia prático para bares, restaurantes e outros estabelecimentos do setor de alimentação fora do lar com orientações de higiene e condutas de relacionamento nesses ambientes, característicos pela interação e convívio de pessoas.

O material, em forma de e-book, traz uma breve explicação sobre o coronavírus, formas de contaminação, boas práticas de segurança de alimentos, higienização e outros alertas. A indicação é que o material seja colocado em lugar de evidência para o conhecimento dos clientes e também divulgado entre a equipe de atendimento e cozinha.

Este e-book é válido para orientar sobre a prevenção desses e de outros vírus mais comuns e pode ser baixado na internet diretamente do site da Abrasel.”Temos dois objetivos com esta medida. A primeira é a segurança dos colaboradores e da população, já que estamos em ambientes de grande circulação. Esta cartilha evidencia procedimentos simples, do dia a dia, que já devem ser seguidos antes da alimentação. E o coronavírus é frágil em relação a estas práticas básicas de higiene. O segundo ponto é que Alagoas, hoje, não é um grande foco em relação ao novo vírus. Todas estas medidas são preventivas para que continuemos em ambientes seguros”, afirmou o presidente da Abrasel/AL, Thiago Falcão.

Nos shoppings, algumas ações estão sendo preparadas, conforme informaram as assessorias de comunicação, mas nenhuma informação foi adiantada até a conclusão desta reportagem. Nos órgãos públicos, nenhuma mudança de conduta está prevista até o momento. Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde esclareceu que, mesmo diante da confirmação do primeiro caso do novo coronavírus em Alagoas, por meio de exame realizado no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, não há nenhuma recomendação para modificação do funcionamento das repartições públicas.

O órgão salienta que a Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa) vem atuando, periodicamente, na notificação, monitoramento e assistência aos casos suspeitos e o confirmado, conforme prevê o Plano Estadual de Contingência para Enfrentamento do Coronavírus, elaborado seguindo as determinações do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Recomenda, no entanto, que todos os alagoanos continuem adotando as medidas de higiene preconizadas para prevenção da síndrome gripal, como lavar as mãos com água e sabão ou álcool em gel, usar lenço descartável para a higiene nasal, cobrir o nariz e a boca quando espirrar ou tossir, além de evitar tocar mucosas dos olhos, nariz e boca.

Thiago Gomes | Portal Gazetaweb.com