Agora, quem verbalizou a má relação entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o Congresso Nacional foi o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM). Numa teleconferência com o Banco Bradesco, ele destacou que tudo “só não caminhou para um afastamento definitivo por causa da crise [coronavírus]”. O grau de isolamento político entre o ocupante do Palácio do Planalto e o Poder Legislativo divide opiniões entre a bancada de Alagoas.

Para o deputado federal João Henrique Caldas (JHC), do PSB, o governo Bolsonaro estabeleceu nova forma de relação entre Executivo e Legislativo.

“É uma nova forma de relação entre Executivo e Legislativo, é essa sensação de afastamento faz parte do processo de aprendizado. Se existem críticas a este novo momento, não se pode esquecer que o excessivo pragmatismo do passado recente também não era perfeito, foi a raiz de vários escândalos de corrupção e distorções”, afirma o parlamentar à Tribuna.

Já Paulão (PT), reafirma o isolamento político de Jair Bolsonaro, exceto, segundo ele, entre parlamentares da bancada evangélica. “Até mesmo os médicos que o apoiaram já enxergam o erro que cometeram, diante da insistência dele em negar a ciência”, comenta o parlamentar ao se referir sobre o comportamento do ex-capitão diante da crise gerada pela pandemia do coronavírus (Covid-19). “O parlamento tem tido papel protagonista nessa crise e, assim como até mesmo ministros, ignorado as posições do presidente”, completa.

Ainda de acordo com o petista, o único setor não isolado devido à agenda em sintonia com os interesses do poder econômico é o comandado por Paulo Guedes.

“Rodrigo Maia é um cara do setor financeiro e da Globo, daí sua facilidade em se tornar protagonista. Veja que mesmo com todo o desgaste, não há uma crítica na Globo e na grande imprensa à agenda econômica do governo. Tudo que vem do Paulo Guedes é aprovado sem maiores dificuldades”, comenta Paulão.

Para a deputada federal Tereza Nelma (PSDB) o presidente “nunca teve maioria tranquila no Congresso”. Segundo ela, “devido ao atraso constrangedor de suas propostas, e à formação autoritária do núcleo duro de seu governo, que nunca teve estabilidade interna”.

“Porém, mesmo aos tropeços, os setores de direita iam empurrando algumas propostas impopulares no Congresso. O meu partido mesmo, o PSDB, demorou a se demarcar desse governo irresponsável. Após mais de um ano, ainda é difícil demarcar um perfil do governo federal. Mas uma coisa é certa, seu isolamento é cada dia maior, desde o nível internacional, até nos comportamentos erráticos do presidente e seus filhos no dia a dia”, afirma a deputada que aponta intervenção branca das Forças Armadas no Governo Federal.

A deputada federal Tereza Nelma (PSDB), destaca que o presidente Jair Bolsonaro chegou a ser colocado em segundo plano, neste contexto do enfrentamento à Covid-19, em decorrência do desgaste por causa de seus atos.

“Com as divergências sobre a preservação da vida ou das benesses do sistema bancário, no caso do combate ao coronavírus, Bolsonaro não governa mais. Em nenhum setor. Foi afastado até das entrevistas coletivas, para evitar o crescente desgaste de afirmar uma coiŕsa e fazer outra, ostensivamente, de uma maneira doentia. Vários analistas respeitáveis apontam que após uma intervenção branca, cabe a um setor de oficiais do Exército governar de verdade, como responsáveis para calar Bolsonaro, mas com cuidado para não caracterizar um governo das Forças Armadas, mesmo com cerca de mil militares ocupando cargos nos diversos escalões do governo. Assim, líderes do Congresso Nacional, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, passaram a ocupar o espaço vazio do poder, de um governo sem nenhuma proposta positiva, a não ser produzir conflitos”, completa Tereza Nelma.
Senador aponta Congresso mais proativo

Entre os senadores, o único a falar com a reportagem foi Rodrigo Cunha (PSDB). Como Paulão, ele destaca o papel desempenhado pelo Congresso Nacional, mas ressalta que a relação ruim entre o Legislativo e o presidente da República não gerou movimento para tirá-lo do poder.

“O Congresso tem assumido um papel bastante proativo diante da crise. Várias das medidas têm partido da Câmara e do Senado. Esse papel também se estende no sentido de melhorar as propostas do governo, como foi o caso da Renda Básica de Cidadania Emergencial, apelidada de coronavoucher. A proposta original era de R$ 200 por pessoa, o Congresso aprimorou e chegou a R$ 600 por pessoa, podendo atingir R$ 1.200 por família”, pontua.

Na última semana, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a lei que assegura o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais. A medida foi aprovada pelo Congresso sancionada pela presidência.

A expectativa é de que a nova medida possa auxiliar 54 milhões de pessoas e amenizar os problemas econômicos da quarentena, gerados principalmente entre os trabalhadores informais.

O pagamento do auxílio ocorrerá durante três meses. Família chefiadas por mulheres poderão receber até R$ 1200. Além de informais, trabalhadores intermitentes e empreendedores beneficiais também estão elegíveis.

“A relação do presidente com o Congresso sempre foi conturbada, e numa crise, naturalmente, as dificuldades aumentam. No entanto, é bom destacar que não há no Parlamento qualquer movimento para afastar o presidente. O Legislativo está integralmente focado em apresentar saídas para socorrer a saúde da população e estender a mão aos que mais necessitam de apoio financeiro neste momento”, completa Rodrigo Cunha.

Através de sua assessoria, o senador Fernando Collor (Pros) disse que não vai comentar a relação entre Jair Bolsonaro e o Congresso Nacional. Até o fechamento desta edição não houve resposta do gabinete do senador Renan Calheiros (MDB).

A reportagem da Tribuna Independente contatou outros parlamentares para que eles avaliassem a situação do presidente frente ao Congresso Nacional, principalmente mediante as buscas de soluções da crise política e de saúde que o país vem passando, no entanto não houve resposta dos deputados federais até o fechamento desta edição.
Ex-deputado federal não vê impeachment no horizonte

Givaldo Carimbão (MDB) exerceu mandato como deputado federal por cinco oportunidades, entre os quais durante a legislatura que iniciou o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Para ele, hoje não há a possibilidade de o Congresso Cassar o mandato de Jair Bolsonaro.

“Tenho experiência política em Brasília, enfrentei um impeachment e votei contra, pois foi um golpe que foi dado no Brasil e a Dilma foi a vítima. Uma quadrilha de ladrões que se implantou, capitaneada pelo Michel Temer, Loures, Geddel Vieira Lima e o irmão. O Temer foi na minha casa me oferecendo rios de possibilidades e eu o mandei embora e não votava contra a minha consciência. Não sou golpista. Não participo disto”, pontua. “Hoje é diferente. Eu nunca vi na história o que esse homem [Jair Bolsonaro] deu para os deputados federais para votar a Previdência. Eu queria entender o que era aquilo. Eu não vejo nunca alguém votar o impeachment na Câmara, se eu conheço a Câmara, contra o Bolsonaro”, completa Givaldo Carimbão.

“Para ficar bom é só parar de falar. Ele chegou a dar R$ 50 milhões, R$ 100 milhões de emendas impositivas. Os deputados botaram na goela do Bolsonaro e ele aceitou. Ele viabilizou a vida política de outra forma, não foi nos moldes convencionais, no toma lá, dá cá, os danos dele foram muito maiores. Então, a Câmara é muito pragmática. O povo trocou a bancada da bíblia pela bancada da bala e agora está pagando o preço”, afirma. “Cassaram a Dilma porque o Temer era vice e chefe de uma gangue. Você tinha um condutor. Hoje o vice-presidente se tirar o Bolsonaro é o Mourão. Então não vejo”, completa Givaldo Carimbão. * (Com Carlos Victor Costa, repórter)

Fonte: Carlos Amaral

(Fotos: Adailson Calheiros e Edilson Omena/arquivos)