O temor de que o novo coronavírus chegue até a aldeia, lideranças indígenas da etnia Tingui-Botó, no município de Feira Grande, no Agreste alagoano, decidiram adotar medidas de precaução para evitar a contaminação pela doença.
Cerca de 400 índios vivem na aldeia, localizada no Povoado Olho d’Água do Meio, na área rural de Feira Grande. O povo Tingui-Botó habita numa área de pouco mais de 120 hectares de terras protegidas pelo Ministério da Justiça e da Fundação Nacional do Índio.
As principais atividades são o cultivo do milho, feijão e mandioca, além da criação de pequenos animais, da produção de artesanato de palha, cocares, colares e bordunas, entre outros adornos. A fonte principal é o ouricuri, uma planta considerada especial para a comunidade.
Para se precaverem de infestação pela Covid-19, as lideranças da etnia Tingui-Botó resolveram colocar um aviso na entrada da comunidade e barrar qualquer tipo de visita, com exceção de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.
Eles citam o Artigo 231 da Constituição Federal no qual são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
A decisão do povo Tingui-Botó também está amparada no Artigo 161 do Código Penal Brasileiro, que prevê detenção e multa a quem suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória de coisa imóvel alheia.
A enfermeira Júlia Maranhão, que trabalha há 11 anos na comunidade, revela que a equipe de saúde está atuando diariamente na assistência às 103 famílias que vivem na aldeia.
“A comunidade ficou mais apreensiva devido ao aumento de casos suspeitos em Arapiraca e o aparecimento de outro aqui em Feira Grande. Os noticiários e as variadas informações nas redes sociais também são um problema e causam um certo pânico”, afirma.
Além da enfermeira Júlia Maranhão, as famílias da aldeia Tingui-Botó, em Feira Grande, recebem assistência das técnicas de enfermagem Dinalva dos Santos e Eliana Campos, e da agente indígena de saúde Erika Luciana Campos e da técnica em saúde bucal Eliane de Campos.
Fonte: Tribuna Independente / Davi Salsa
(Foto: Júlia Maranhão/cortesia)