Era um sábado à tarde, típico dia de futebol alagoano na época, e mais um Clássico das Multidões à vista. Mas para o CSA não era apenas mais um, era O Clássico das Multidões contra o CRB. Na tarde do dia 2 de abril de 2011, a bola rolou às 16 horas e em campo estava a permanência na 1ª ou o rebaixamento do Azulão à 2ª Divisão do Campeonato Alagoano pela terceira vez em sua história.

“Vai ser um prazer rebaixar o CSA”, disse o zagueiro do Galo na época, Italo. Do lado regatiano, as provocações eram inúmeras, enquanto no ambiente azulino “foco” era a palavra de ordem e as frases ditas pelos rivais serviam de motivação.

O que a equipe do Regatas não esperava é que um jovem jogador, recém-promovido ao time profissional do Azulão acabaria com tudo: Washington foi o responsável pelo gol salvador. Mas antes do grande momento deste jogo, vamos aos acontecimentos pré-jogo.

O CSA ocupava a vice-lanterna do Estadual, com 16 pontos, e até o duelo com o Galo, já havia trocado de técnico três vezes. Lino, que havia iniciado a temporada, retornou e comandou o clube marujo nas últimas partidas da fase inicial.

Treinador este a quem Washington agradece bastante pela oportunidade de chegar ao profissional do CSA. “Foi um cara de extrema e fundamental importância em tudo que aconteceu lá no Azulão. Ele acreditou e me motivou. Então, quero agradecer bastante e dizer que em Alagoas não existe outro treinador melhor que ele”, afirmou o ex-atacante.

Apesar de toda provocação dos regatianos, os azulinos tinham convicção de que venceriam a partida e iriam selar a permanência na elite estadual. “Apesar dos resultados ruins, sabíamos que iríamos vencer o CRB naquele dia. O elenco estava convicto e o nosso treinador nos fez acreditar nisso”, comentou o ex-jogador azulino.

Além disso, as coisas inexplicáveis do futebol também aconteceram antes do confronto. Washington conta que no dia 2 de abril de 2011 pela manhã, algo raro aconteceu no hotel em que o time estava concentrado. “Eu lembro que a recepcionista me ligou dizendo que tinha uma ligação para mim. Quando atendi era o meu pai e ele disse: “Filho, fica tranquilo que mais tarde, lá no Rei Pelé, vai ser 1 a 0, e o gol será seu. Vai ser sofrido mas o gol será seu”, contou. Ele disse ainda que no momento da ligação ficou surpreso, pois seu pai não costumava ligar em dias de jogos.

Porém, nem tudo foram flores naquele dia. Ainda na concentração, a diretoria azulina efetuou o pagamento dos salários atrasados do elenco mas Washington ficou de fora. Chegada a sua vez, ele escutou do ex-presidente do Azulão, Jorge VI que não haveria dinheiro para ele. “O dinheiro acabou”, disse o ex mandatário do CSA.

Washington, então saiu do local em que estavam sendo realizados os pagamentos e procurou o técnico Lino para explicar a situação. O treinador então, ligou para o dirigente e ameaçou a não ida ao jogo decisivo caso o jovem atacante não recebesse seu dinheiro. “Eu respondi: tudo bem, todo mundo recebeu e eu não. Fui no quarto do Lino, expliquei a situação e ele entrou em contato com a direção alegando que só iríamos para o Trapichão quando eu recebesse meu salário. Pouco depois uma pessoa chegou ao nosso hotel e me deu o dinheiro, tanto que nós chegamos ao estádio 15 minutos após o horário previsto”, relatou Washington ao citar que os jogadores da base não eram valorizados pela diretoria da época.

Quando a bola rolou, o único pensamento do jovem atacante era nas palavras de seu pai. Mesmo no banco de reservas, a motivação não saía da mente dele. O CSA estava bem na partida, buscando o gol salvador a todo momento. Até que, aos 20 minutos do segundo tempo, o treinador azulino mandou os reservas para o aquecimento e lá estava Washington (já sem o colete de reserva).

“Eu fui sem colete, pois queria muito entrar na partida”, conta. Momentos depois, o atacante foi chamado e recebeu as seguintes orientações de Lino: “Eu vou colocar você e quero dribles. Vá para cima, pois é assim que eu gosto que o futebol seja jogado”, contou o jovem atleta.

Ele revelou ainda que o comandante azulino o mandou ficar pelo lado esquerdo de campo, pois acreditava que o gol sairia daquele lado. Aos 44’30”, a bola é lançada para Washington, que disputa com a zaga regatiana e, mesmo caído, toca para o lateral esquerdo Rafinha, que devolve para o atacante abrir o placar no Trapichão. O jovem atacante foi às lágrimas e viu a torcida azulina explodir com o seu gol, aquele que evitaria o terceiro rebaixamento do CSA à Segundona do Alagoano.

Outro fato marcante daquele dia é que ainda no campo de jogo, o atacante de 18 anos à época, ouviu do ex-presidente que sua carreira mudaria e o clube do Mutange seria responsável. “Eu ainda estava dando entrevista na saída do campo quando o ex-presidente me disse: Washington, o seu sucesso como jogador de futebol começa hoje. O CSA vai alavancar sua carreira. Você vai ter um aumento salarial, estão aparecendo propostas e nós te faremos um grande jogador. Porém, isso não aconteceu”.

Após o acontecimento, já na temporada 2012, Celso Teixeira assumiu o comando do time marujo e o atacante não foi mais aproveitado, após as promessas não cumpridas, o jogador decidiu deixar o Azulão e seguir a carreira em outro clube.

“Se pararmos para pensar, aquele gol não representou apenas a permanência na Primeira Divisão do Estadual, não valeu apenas a quebra do tabu de quatro anos sem vencer o maior rival. Aquele jogo representou o ressurgimento do CSA. Sem esse jogo, o CSA dificilmente retornaria à 1ª Divisão e sequer teria chegado à Série A do Brasileiro, então, trato aquele gol como o ressurgimento do maior de Alagoas”, disse Washington.

Além do CSA, o atacante passou pelas categorias de base do Santos e Vitória, conviveu com grandes nomes do futebol, como Neymar, Arthur Maia, David Luiz e Hulk. Mas, ainda assim, ele afirma que a sua maior experiência no futebol foi vestir a camisa do Azulão do Mutange. “Passei no Santos onde tive a honra de conviver com Neymar, Alan Patrick, Rafael goleiro. No Vitória convivi com David Luiz, Arthur Maia e Hulk, entre outros. Mas a minha maior experiência foi jogar no CSA”, disse.

“O CSA é diferente, é surreal você entrar no estádio e ver a Mancha Azul com toda a torcida cantando. É muito bom. Jogar no CSA é diferente e tenho a honra de ter vestido o manto”, disse Washington, que chegou ao CSA aos 7 anos de idade ainda na escolinha do clube.

Em seguida, ele atuou por clubes de São Paulo, Minas Gerais e até disputou um Alagoano pelo Ipanema até se aposentar em 2016. Hoje, fora do futebol, o herói azulino de 2011 diz que atua como músico católico, está casado e afirma ter atingido a felicidade máxima em sua vida.

Por Jean Nascimento | Portal Gazetaweb.com

FOTO: Ailton Cruz