O pico da pandemia do novo coronavírus em Alagoas deve exigir mil leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O alerta é de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que vem desenvolvendo análises numéricas e computacionais no sentido de entender a evolução da doença. Segundo os pesquisadores o colapso do sistema de saúde no estado deve ocorrer entre o fim de maio e o mês de junho.

“Alertamos também que, no fim de maio, mantidas as condições atuais, nossas projeções indicam que a epidemia ainda estará em forte crescimento, o que resultaria em uma demanda crescente por leitos de UTI mesmo após o colapso previsto, o que agravaria ainda mais essa situação em junho. Projeções mais longas, apesar de menos precisas, indicam uma demanda da ordem de mais de 1.000 leitos de UTI no pico da epidemia”, aponta o relatório.

O pesquisador Sérgio Lira, que integra o estudo, afirma que apenas a política de ampliação de leitos não é capaz de evitar o colapso do atendimento: é preciso mais.

“Notamos que mesmo expandindo a capacidade hospitalar, nossas projeções estimam um colapso da rede de saúde entre 17 de maio e 6 de junho, com data mais provável em 26 de maio. Isso significa que apesar de importante para adiar o colapso hospitalar, a expansão do número de leitos por si só será incapaz de atender toda a demanda de internações. Enfatizamos ainda que esta demanda ainda crescerá muito se não forem endurecidas as condições atuais de isolamento”, informa.

A disponibilidade de mil leitos só de UTI, segundo ele, é algo “impraticável”, seja pela questão estrutural, seja pela falta de mão de obra capaz de operar o sistema.

“No pico a gente vai ter a ordem de mil leitos de UTI em demanda mantidas as condições que temos hoje. No pico de demanda, será impraticável ter todos esses leitos de UTI e se tivéssemos não teríamos pessoal suficiente para operar o leito, é uma coisa impraticável. Mantida a situação de isolamento social que a gente vive hoje nós precisaríamos de mais de mil leitos de UTI, ou seja, a gente não tem como ir pela via de manter como está e aumentar o número de leitos, a gente tem que aumentar o isolamento e monitorar melhor os casos”.

Pesquisador: tecnologia é uma aliada e deve ser incluída

Lira aponta que a tecnologia é uma importante aliada e precisa ser incluída nas ações de mitigação da crise. O pesquisador sugere a implantação de um sistema automatizado onde seria possível a partir de coleta de dados e informações de usuários, determinar onde pode haver um potencial risco de contaminação, ou um maior número de pessoas contaminadas numa região.

“Os profissionais precisam estar equipados com EPI. É preciso ter testes, mas a gente precisa também ter softwares para avaliar a evolução da doença, em relação a casos confirmados e suspeitos, e avaliar o potencial risco de cada caso, ou das pessoas que chegam no celular, ou das pessoas que relatem através de aplicativos de celular. A gente pode fazer um mapeamento de risco baseados nos sintomas e classificar como casos suspeitos para avançar estatisticamente… Mapear regiões da cidade ou nos municípios que tenham alta probabilidade de ter um foco, isso pode ser feito, temos uma tabela de risco, já estamos aplicando em Maragogi e outros municípios da região Norte. Estamos tentando mapear, mesmo sem testes, a gente não fecha o diagnóstico, mas coloca como um alto risco de estar contaminado. Isso ajuda na questão de isolar e das estatísticas. A tecnologia deve ser um aliado, precisamos usar todas as ferramentas disponíveis”, enfatiza.

O estudo ressalta outro importante fator no cenário: a subnotificação. Conforme as projeções, os números de infectados no estado pode ser 15 vezes maior do que o que vem sendo registrado pelas autoridades de saúde. Para conseguir esse dado, eles utilizaram o número de óbitos confirmados.

“Os números de mortos e projeções de infecciosos indicam que há um grande número de subnotificações da doença. Com base nessas estimativas e nos dados divulgados oficialmente, acreditamos que o número real de novos casos seja mais de 15 vezes maior do que o divulgado. Essa distorção pode ser corrigida com um programa de testagem. Alertamos que programas de testagem devem considerar modelos estatísticos robustos e serem desenhados para utilizar da melhor forma os testes disponíveis. Na ausência de um programa de testagem, o acompanhamento de suspeitos clínicos através de ferramentas de software pode ajudar no entendimento da evolução da epidemia”, diz o relatório.

Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel

(Foto: Davi Salsa)