Para moradores dos bairros que sofrem com afundamento, a inclusão de mais de 1.900 moradias para realocação tem sido motivo de reclamações. Segundo líderes comunitários ouvidos pela Tribuna Independente, há um atraso na inclusão de imóveis que já vêm rachando desde o ano passado, além disso, para eles a retirada parcial complica ainda mais a situação dos bairros.

O líder comunitário do bairro de Bebedouro, Augusto Cícero afirma que a comunidade vive momentos de apreensão e medo, seja pela saída parcial, seja pela possibilidade de uma nova ampliação.

“É difícil, existe uma área de criticidade 01, mas que na verdade não existe, se for pra sair têm que sair todos, não é só um. Como um morador de um lado da rua sai e o outro não? Você pode ver no mapa que o bairro de Bebedouro está lotado daquelas manchas verdes cítrico, criticidade 00. Então como vai fazer? Vai tirar uns moradores e deixar os outros ilhados, isolados? Eu acredito que isso é uma questão de tempo, que está encaminhando para que 80% do bairro seja realocado, infelizmente. Os moradores além de planejar o protesto estão elaborando uma pauta de reivindicação sobre o acordo. Existe uma insatisfação muito grande em relação a isso. Vai se elaborar uma pauta e vai ser levada ao conhecimento das autoridades. Sabemos que é difícil reverter, mas estamos fazendo nossa parte. O que não podemos é ficar de braços cruzados deixando a Braskem fazer o que quer. É briga de Davi contra Golias”

A liderança acrescenta que outra preocupação é com o futuro do bairro. A possibilidade de Bebedouro virar “bairro fantasma”. Segundo ele, vem se intensificando entre os moradores, que já se articulam para mobilizações.

“A situação em Bebedouro se complicou muito. Foi incluída mais uma parte de Bebedouro e o medo dos moradores é que o bairro se transforme em outro Mutange, num bairro fantasma. As pessoas com problemas de saúde, muita reclamação, muita tensão, a situação não é boa. Pelo que nós estamos vendo o bairro amanhã vai virar um deserto. Estamos aguardando tudo isso, estão fazendo um estudo de sísmica em várias ruas, provavelmente essa área vai se ampliar mais e os moradores nessa expectativa, nessa apreensão. Há uma indignação muito grande por parte dos moradores, alguns já falam em manifestação. Os moradores de Bebedouro não imaginavam que isso iria chegar desse jeito [ampliar], mas chegou”, detalha Augusto.

“JUSTIÇA TARDIA”

No bairro do Bom Parto a sensação é de “justiça tardia” segundo o líder comunitário Fernando Lima. Ele explica que as mais de 300 casas incluídas nessa ampliação estão rachadas desde o ano passado, ou seja, há um lapso de tempo que, segundo ele, não foi corrigido até agora. O levantamento realizado pela associação do bairro aponta para mais de mil casas em condições de risco por conta de rachaduras.

“Nosso pleito lá atrás de 400 casas foi atendido agora, mas o nosso pleito agora chega a 1.200 casas porque a área com a nova atualização não abrange a real situação. Estamos trabalhando com uma nova área totalmente fora do perímetro, não atende ao que está acontecendo. Entramos em contato com o Ministério Público, mas até agora não nos respondeu. A Defesa Civil continua fazendo o trabalho das visitas, mas não tem atendido a necessidade, porque realmente tudo que está acontecendo o mapa deve aumentar sensivelmente, ou seja, o que estamos vendo e vivendo é uma justiça atrasada, uma ação sem nexo onde a realidade é uma e a previsão de justiça é outra, é isso que está acontecendo conosco, temos uma justiça real e outra que resolve as coisas em trâmites lentos e sem ação efetiva”, argumenta o líder comunitário do Bom Parto.

A Defesa Civil de Maceió explicou que as mudanças nas versões do mapa ocorrem pela evolução do processo, com base nos estudos e nas informações que vêm sendo incluídas no estudo.

“As alterações levaram em consideração a constatação da evolução do processo de subsidência, os danos materiais nos bairros afetados, os riscos associados à problemática, assim como as novas informações que foram sendo agregadas desde a publicação da primeira versão em junho de 2019. Áreas que estavam com recomendação de monitoramento passaram a ter recomendação de realocação”, destaca o órgão.

Em nota, a Braskem afirmou que segue executando o Programa de Realocação. “A Braskem recebeu o ofício encaminhado pela Força-Tarefa e está em contato com as autoridades, analisando as medidas necessárias. A empresa continua executando o Programa de Compensação e Realocação dos moradores da zona de desocupação incluídos no acordo firmado com as autoridades em janeiro de 2020”.

Fonte: Tribuna Independente / Evellyn Pimentel

(Foto: Edilson Omena)