Quando Lily Lages – médica, escritora e primeira deputada do Estado – assumiu a presidência da Federação Alagoana pelo Progresso Feminino, em 1932, externou um pensamento que se mantém contemporâneo.

Referindo-se à mulher, disse ela: “A independência econômica é base imprescindível à realização de toda e qualquer outra aspiração”. Quase nove décadas depois daquele momento histórico, o recorte atual impõe um quadro dramático e violento à mulher alagoana, a partir de seu ambiente doméstico.

“Falta política pública para ampará-la. Muito provavelmente, ela volta para o agressor, de quem se torna dependente até emocionalmente”, conclui a advogada Paula Lopes, do Centro de Defesa dos Direitos da Mulher.

Antes mesmo da pandemia, as estatísticas sobre a violência contra a mulher e os casos de feminicídio – quando ocorre o assassinato em razão do gênero – já apontavam para um cenário alarmante. Em diversas ocasiões, a Gazeta mobilizou seus repórteres para retratar a realidade. Infelizmente, ela sempre se manifesta de maneira grave – possivelmente agora ofuscada em subnotificações.

Os próprios dados oficiais já alertavam para a curva ascendente da violência contra a mulher. Lamentavelmente, o Estado vem contabilizando um número crescente de feminicídio a cada ano. A estatística impressiona: cerca de sete mil processos de violência doméstica tramitam no Judiciário do Estado.

Já o Monitor da Violência, resultado de uma ação da USP e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, contabilizou o drama enfrentado pela mulher. Ao lado do Acre, Alagoas encerrou 2019 como o Estado mais violento, alcançando a taxa de 2,5 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, superior à média brasileira, que foi de 1,2.

Já se constatou a insuficiência de políticas públicas em defesa da mulher, que se sente desencorajada para denunciar seu agressor, beneficiário da impunidade gestada pelo medo.

As delegacias especializadas em Alagoas não funcionam 24 horas nem estão disponíveis em horários e dias críticos, quando as agressões costumam acontecer. Faltam também campanhas continuadas de conscientização e divulgação de fones de emergência. Que a passagem dos catorze anos de existência da Lei Maria da Penha, em agosto, marque novas conquistas.

Que o Estado se faça mais presente na vida das mulheres alagoanas, de modo que elas se sintam acolhidas e realizem, com liberdade e segurança, qualquer aspiração na vida, como pregou Lily Lages no passado.

Por Da Redação | Portal Gazetaweb.com

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