A brasileira Priscilla Currie participou do programa Fique Alerta, da TV Pajuçara, na tarde desta sexta-feira (24), e contou um pouco da experiência em participar do combate à covid-19 em Londres. Ela é uma das paramédicas que atuam na linha de frente no Reino Unido.
Natural do Rio de Janeiro, Priscilla morou no Japão, retornou ao Brasil e depois foi aperfeiçoar o aprendizado da língua inglesa no Reino Unido. Morando no continente europeu, ela começou a se dedicar à área da saúde. Ela comentou como foi o desafio de trabalhar durante o pico da pandemia do novo coronavírus.
“Minha rotina já é meio dramática, porque ninguém liga para o número de emergência porque está feliz. Então, estou acostumada a lidar com aquele drama. Mas nada me preparou para o pico de covid-19 que durou seis semanas aqui. Foi um Deus nos acuda. Foi muito difícil, não só psicologicamente tendo que lidar com o número de mortos, mas também chegando ao trabalho e tendo que achar as máscaras, os equipamentos de proteção que eu precisaria para o meu plantão e que às vezes não tinha. Eu tinha que ficar dirigindo de estação em estação tentando pegar tudo que eu precisava para assim socorrer as pessoas. Foi bem difícil mesmo”, relatou.
Priscilla também comentou sobre um dos casos de morte que mais marcaram o trabalho dela enquanto paramédica. Foi o caso de um homem que estava com câncer terminal.
“Não é que a gente fique mais frio, a gente passa a ter um relacionamento profissional com o que está acontecendo na nossa frente. Mas, nós somos seres humanos, o motivo da gente fazer esse trabalho é porque gostamos de ajudar. Nós somos naturalmente, inclusive, mais sensíveis que a população em geral, só que a gente aprende a ter o profissionalismo. Na minha opinião, o que me levou para casa chorando, não sei se foi porque eu estava cansada, já era meu quarto plantão de 12 horas, foi o caso do paciente que tinha câncer terminal, a família já estava se preparando para ele vir a falecer, já tinha 50 e poucos anos, era um cara super saudável antes do câncer, mas infelizmente o câncer tomou conta. Os médicos falaram para ele antes da pandemia chegar: ‘Olha, você só tem no máximo seis meses de vida’. E aí, ele foi fazer uns procedimentos no hospital, ficou duas semanas no hospital e foi para casa. Quando ele foi para casa, começou com sintomas de covid e veio a falecer. Quando eu cheguei ao local, ele já estava em óbito. Eu tive que isolar o corpo dele no quarto. E falei que ninguém mais pode entrar nesse quarto agora porque é uma morte por covid. A família desesperada porque tinha feito todo o preparo para dar adeus a ele, uma pessoa tão querida, você via fotos pela casa. Aquilo vai destroçando o nosso coração porque eu sabia que aquela família nunca mais ia ver o ente querido. Porque ele vai ser embalado num pedaço de plástico, o corpo dele vai ser cremado e a família só recebe as cinzas. Isso me magoou muito. Essa pobre família, já sofrida, há um ano preparando a celebração da vida dele. Isso também foi arrancado deles. Isso quebrou meu coração”.
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FOTO: Reprodução / TV Pajuçara