O histórico bairro de Bebedouro corre o risco de “acabar” com o avanço do afundamento de solo e rachaduras. As fissuras e comprometimento dos imóveis têm acelerado, deixando um clima de apreensão e medo entre os que permanecem morando no bairro. Segundo a Defesa Civil de Maceió, o número de chamados envolvendo o bairro tem aumentado.

Recentemente, uma atualização do mapa de criticidade incluiu mais imóveis do bairro do Bebedouro (e Pinheiro). Mesmo com essa inserção, ainda há residências fora da zona crítica, mas que já estão comprometidas devido às fissuras.

Marcos Braga mora há 20 anos no bairro de Bebedouro e reclama das condições do bairro. Para ele, o bairro está “acabando”. “Já saíram escolas, as casas de saúde todas saíram, trem saiu do bairro, a pista foi fechada. Não sei mais o que falta acontecer ou o que falta sair. O bairro está acabando. Bebedouro está literalmente acabado, não há segurança no bairro e a Braskem é um descaso total. São muitas casas rachadas, cheias de fissuras. Muitas sendo mandadas desocupar pela junta técnica da Braskem. Estamos ficando ilhados. Moro em Bebedouro há 20 anos, a minha casa está rachando, mas tem casas muito piores que a minha. Todos nós estamos com muito medo”, desabafa o morador.

Há mais de 50 anos morando em Bebedouro, Kátia e os familiares preparam a mudança para deixar o bairro. Ela conta que a mãe deixou o imóvel no início do processo de rachaduras, porque não suportou a pressão emocional. Agora, ela aguarda mais uma vistoria no imóvel para definir sua situação. “Com a interdição da via, por causa do afundamento do solo, foram aparecendo mais rachaduras nas residências e a população foi ficando mais preocupada e ligando pra junta técnica da Braskem. Com essas visitas muitas residências que estavam em zonas escuras passaram e estão passando pra zonas claras, que eles chamam, áreas de desocupação. Rachaduras, afundamento de piso, fossas caídas, muros…”, detalha.

Kátia mora em frente ao Colégio Bom Conselho, a mãe e a cunhada também moram nas proximidades. Ela diz que o marido desenvolveu um quadro depressivo, mas que não tem condições de sair antes da Braskem definir como será a desocupação.

“Infelizmente temos que aguardar o laudo técnico da Braskem. Se tivéssemos condição, sairíamos pra esperar a resposta da injusta justiça! Infelizmente o medo, revolta, desespero, angústia… assolam esses bairros. Porque se sairmos sem a autorização deles, não recebemos o bendito aluguel social. Aluguel este que o MP junto com eles, determinaram um padrão único para todos os imóveis. Se for residência de pequeno porte é R$ 1.000, se for de grande R$ 1.000. Quem tem sua residência, como do meu cunhado, que tem piscina, área de lazer… vai alugar onde, nesse valor?”, reclama Kátia.

Karol e a família também moram em Bebedouro e têm se assustado com a evolução do problema na casa da mãe dela.

“Ano passado, mais ou menos no fim do ano passado, caiu uma árvore no quintal. E a gente ficou sem entender, porque a árvore era uma árvore frutífera, não estava doente. Um tempo depois caíram mais três árvores no quintal e caiu o muro. E agora a casa está baixando, ficando ladeirada, tanto que é que a água do banheiro não desce mais pelo ralo, ela vai se espalhando por debaixo. A casa tem uma rachadura no meio e você percebe que está ficando uma espécie de degrau. A casa do vizinho também está com rachaduras”, detalha.

Procurada, a Defesa Civil de Maceió informou que os casos informados pelos moradores tem sido encaminhados para avaliação da junta técnica. Além disso, o órgão afirma que tem atualizado o levantamento de feições, isto é do processo de evolução das rachaduras no bairro de Bebedouro.

“A Coordenadoria Especial Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec) informa que houve um aumento significativo de acionamentos através de Registro de Ocorrência no bairro de Bebedouro por diversos motivos, entre eles por problemas em edificações, após divulgação da versão 2 do Mapa de Setorização de Danos e de Linha de Ações Prioritárias, em junho de 2020. Os casos de possível evolução de patologias em imóveis localizados na área de monitoramento do Mapa de Setorização de Danos estão sendo encaminhados para avaliação da Junta Técnica. A Defesa Civil de Maceió destaca que está trabalhando na atualização do levantamento de feição na região de Bebedouro e que o trabalho servirá de base em possíveis novas atualizações do Mapa de Setorização de Danos, uma vez que o documento tem o objetivo de mapear o processo de evolução da subsidência na área afetada pela instabilidade de solo”, diz em nota.

A orientação é que o morador, ao identificar alguma anomalia na residência, acione o órgão. “A Defesa Civil de Maceió orienta a população que reside em área de monitoramento do Mapa de Setorização de Danos e que perceba aparecimento ou evolução de fissuras nos imóveis a acionar a Junta Técnica para avaliação do problema pelo 0800 006 3027. Já para os casos de afundamento de fossas, novas feições em via pública, entre outros, deve acionar a Defesa Civil pelo número 199”, informa.

Esta semana a Braskem informou que antecipou o calendário de inclusão de imóveis nas compensações na chamada Zona D, que inclui Bebedouro e Pinheiro.

“A Braskem está divulgando o cronograma de entrada dos moradores da Zona E no Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação, e a antecipação da entrada no fluxo de compensação dos moradores da Zona D (Pinheiro e Bebedouro). O novo cronograma foi acordado com os órgãos que compõem o Termo de Acordo, Ministério Público Estadual de Alagoas, a Defensoria Pública de Alagoas, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União, para dar ainda mais celeridade ao Programa”, divulgou a empresa.

Fonte: Tribuna Independente / Texto: Evellyn Pimentel

(Foto: Edilson Omena)