Há quem reclame da polarização na política. Em nível nacional, por exemplo, atualmente ela se dá – basicamente – entre o PT e o bolsonarismo. Há alguns anos foi entre o PSDB e o PT. Em Alagoas, mesmo que não com o mesmo calor do embate nacionalizado, as eleições de 2020 apresentam uma disputa particular entre o MDB e o PP. E como há eleições a cada dois anos, o foco é o fortalecimento do pleito de 2022, onde é a vez de eleger o governador e 1/3 do Senado.

Segundo dados da Justiça Eleitoral, o MDB tem 67 candidatos a prefeito em Alagoas, o que representa 20% do total. Já o PP tem 46 nomes, o que dá 13,73%. Entre os postulantes aos parlamentos municipais, os emedebistas somam 1.126 candidatos – 16,54% –; o PP, 883 ou 12,97%.

Contudo, os números frios dos registros de candidaturas não permitem – por si só – cravar qual legenda deve sair vitoriosa em novembro. Na verdade, nem o número após o pleito, já que é mais importante vencer a disputa nas grandes cidades. Essa avaliação é comum aos cientistas políticos Ranulfo Paranhos e Luciana Santana e ambos ressaltam que os partidos podem formar uma aliança daqui a dois anos.

“É provável que o MDB faça mais prefeitos. Agora o que conta é fazer que sejam prefeitos que somem mais votos. Ou seja, é preferível vencer em prefeituras com maior colégio eleitoral. Para 2022, é provável, que o Renan Filho consiga fazer alianças com prefeitos eleitos pelo PP, por exemplo, como ele já fez antes. A eleição deste ano é boa para mapear o partido”, pontua Ranulfo Paranhos.

Já Luciana Santana destaca o peso em ter a caneta do Governo do Estado.

“De qualquer forma, o MDB tem o Governo do Estado e isso dá mais chances de apoiar um sucessor do mesmo partido. Na verdade, os dois podem se aliar e lançar um candidato em 2022. Tudo é possível. É preciso aguardo o resultado para se onde cada partido saiu fortalecido… isso faz diferença. Se há a pretensão de ter nome competitivo em 2020, é necessário além do grande número de prefeituras, ter municípios estratégicos”, analisa Luciana Santana.

Impasse no segundo maior colégio eleitoral de Alagoas terá reflexos

Um dos fatos políticos que ganhou mais destaque nas últimas semanas é a briga entre o vice-governador Luciano Barbosa e os Calheiros. Luciano se lançou candidato à Prefeitura de Arapiraca à revelia do senador Renan e do governador Renan Filho. O resultado dessa queda de braço, até o momento, é incerto, assim como as peculiaridades de seus desdobramentos para 2022.

O que é certo, segundo os cientistas políticos Ranulfo Paranhos e Luciana Santana, é que esse problema ecoará daqui dois anos.

“Luciano Barbosa se eleito, será pelo MDB, mas não necessariamente integrará o projeto do Renan Filho em 2022. Essa briga entre os Calheiros e o Luciano é, talvez, o maior conflito que o MDB tenha atravessado nos últimos anos. É o segundo maior colégio eleitoral e ninguém garante que o Luciano segue no MDB ou que ele integre o projeto”, pontua Ranulfo Paranhos.

Ele também aponta a quebra de confiança entre o vice-governador e os Calheiros,

“Se o Luciano perde e assume a vice, também ninguém garante que esse vice que vira governador em 2022 estará alinhado aos Calheiros. Se o Renan ganha e o Marcelo Victor assume, também é ruim para o Calheiros. A relação de confiança entre os Calheiros e Luciano está muito abalada e isso vai afetar 2022, principalmente para o Senado”, analisa Ranulfo Paranhos.

Já Luciana Santana ressalta que a “política é muito dinâmica”, mas que a briga em Arapiraca é desagregadora.

“A briga interna entre o vice-governador e a posição do MDB é um problema para 2022, mas é preciso também aguardar se a candidatura será levada adiante e se isso ocorrer, se o Luciano vai vencer. Se isso ocorrer, o governo será obrigado a se reinventar para ver quem assumir o governo em 2022. A situação toda é complicadora e desagrega. E pode levar à falta de credibilidade para parcerias em 2022, mas a política é muito dinâmica. Essa análise é se a eleição para o Senado fosse hoje. E o legado que o Renan Filho deixar de seu governo terá um peso considerável e ele for disputar o Senado”, analisa Luciana Santana.

Fonte: Tribuna Independente / Carlos Amaral

(Foto: Elza Fiúza / Agência Brasil)