Morreu na madrugada do ultimo sábado (26), aos 71 anos, Gesivan Rodrigues da Banca Nacional, o jornaleiro mais antigo do Centro de Maceió. Ele morreu por problemas cardíacos. Sua banca de revistas está localizada na Praça Montepio, referência para muitos alagoanos, mas encontrava-se fechada após a pandemia.

O corpo de Gesivan está sendo velado na Central Velório do Pré-vida e será sepultado às 16h, no cemitério de São José, no Trapiche da Barra. Não foi informada a causa da morte do jornaleiro.

O deputado federal Paulão (PT), lamentou a morte em suas redes sociais.

HISTÓRIA

Desde 1960 que os maceioenses aprenderam a conviver com a Banca de Revistas Nacional, do Gesivan Rodrigues Gouveia.

Filho do estivador João Rodrigues de Gouveia, Gesivan começou ainda criança a trabalhar, vendendo angu pelas ruas do Vergel do Lago, bairro onde morava com os pais e mais 10 irmãos.

“Quando meu pai foi obrigado a se aposentar e viver de um salário irrisório, tive que cair em campo para aumentar o orçamento da casa”, revelou em entrevista ao lembrar que sua mãe enchia uma lata de angu sobre um carro-de-mão e ele percorria as ruas ainda de madrugada.

Banca do Gesivan ao lado do antigo Hotel Lopes

Já trabalhando na banca, descobriu que ganhava mais alugando as revistas que vendendo. “Eu tinha muitos amigos em quem confiava e quase todos sofriam do mesmo problema de falta de dinheiro”, recordou Gesivan e citou que as revistas mais alugadas eram O Cruzeiro, Cigarra, Querida e Fatos & Fotos.

O prazo para devolver a revista era de dois dias: “Quem não respeitasse a regra, perdia não só o direito de continuar tendo acesso às revistas, como perdia a minha amizade”.

Sempre bem abastecida, a Banca sempre foi uma referência para leitores de várias camadas sociais, mas notabilizou-se nos anos 70 e 80 pela especial clientela de intelectuais, artistas e políticos.

Época em que o semanário Pasquim era um dos mais aguardados no início da semana. As reservas eram disputadas, já que ninguém queria ficar sem o famoso “hebdomadário” carioca, que sempre estava sujeito a apreensões pela Polícia Federal.

Em Maceió, Gesivan teve a sua banca danificada com uma tentativa de incêndio.

Mas ele continuou expondo os tabloides de oposição e, graças ao apoio das organizações que lutavam contra a ditadura, manteve-se como um dos poucos que vendeu do primeiro ao último exemplar do Pasquim.

“Houve uma época que houve quebra-quebra de banca. Naquela época houve um movimento muito forte por aqui. O Aldo Rebelo, que hoje é [foi] ministro, se juntou com o pessoal do PCdoB e fez um movimento aqui, que reuniu muita gente. Era contra a Ditadura, que estava incendiando as bancas. Eu recebi várias ameaças, mas o movimento em apoio a minha banca fez baixar a pressão. Mas tentaram incendiar. Eles também vinham e arrancavam os cartazes que eu colava, mas depois do ato eles não vieram mais aqui”, lembrou Gesivan.

Sobre a censura a jornais alagoanos, Gesivan lembrou que só houve uma. “A única apreensão que teve foi a da Tribuna, que era na Rua do Sol. Eles disseram que era porque tinha uma matéria contra o sistema. Isso foi em 1979 ou 1980”.

Gesivan esteve na Banca na Praça do Montepio por 60 anos, inscrevendo-se com sua A Nacional na história da cena urbana de Maceió.
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Fonte: Tribuna Hoje, com História de Alagoas
(Foto: Divulgação)