O Governo de Alagoas redobrou a atenção e anunciou novas medidas preventivas contra a Covid-19. Com o isso, o estado voltou ontem a fases laranja e vermelha do distanciamento social. A infectologista Mardjane Lemos avalia que os números em investigação podem representar uma realidade muito mais grave e a possibilidade iminente de uma lotação de leitos públicos em breve.

Na visão da médica infectologista, provavelmente há muitos casos represados. “Me chamou muito atenção, o número de casos que estão em investigação. A gente só está vendo a ponta do iceberg da realidade epidemiológica, não está enxergando ainda que os números de pessoas com Covid transmitindo pode levar a uma avalanche ainda maior”.

O número de casos em aberto, ou seja, em investigação, deu um salto de 8 mil, que já era alto, para 12 mil. Mardjane observa que a capacidade de exames aqui é pequena, então os números não vão aparecer como confirmados.

“Temos uma capacidade de 300 testes por dia, com 12 mil pendentes, isso ultrapassa. A curva era pra estar muito maior”, faz o alerta. “Os gestores precisam ampliar a capacidade de teste, senão a gente só vai enxergar quando faltar leito nos hospitais”.

Outro ponto que a médica destacou foi o índice de positivo que tem saído nos resultados. “Mais de 50% dos exames estão vindo positivos, então pode-se deduzir que pelo menos 6 mil são positivos”.

Mesmo com tantos leitos, Mardjane acredita no risco iminente de lotação muito em breve. “A gente não tem margem de segurança tão grande. Não têm tantos médicos. Mesmo que o governador tenha muito dinheiro para abrir leito, não tem profissional para trabalhar. Se continuar desse jeito, logo vamos passar o sufoco que o resto do país está passando”.

Em pronunciamento, o governador apelou para urgência do assunto. “Cada minuto nesse momento ajuda a salvar vidas. Cada hora, cada dia é importante”, explicou Renan Filho. “O Estado está se esforçando, se propõe a oferecer tratamento de saúde a quem adoece a fim de recuperar o maior número de pessoas possível”. Mas a situação volta a se agravar e ameaça chegar a níveis críticos.

O secretário de Planejamento e Gestão, Fabrício Marques, apresentou os indicadores e comparou as últimas semanas. Segundo ele, o a capacidade de Alagoas é de mais de dez leitos por 100 mil habitantes, o que seria uma condição melhor que a maioria dos outros estados. Mas a evolução de óbitos vem tendo crescimento de forma muito acelerada nas duas últimas semanas.

No mês de fevereiro, mesmo tendo menos dias que janeiro, em Maceió teve um óbito a mais. “Em janeiro foram aproximadamente 130, passou a ter 131 óbitos. E já teve, nos primeiros 6 dias de março 45. No interior, em janeiro foram 151, cresceu para 180. E nos primeiros 6 dias de março, 49 óbitos”.

Nos gráficos apresentados, a taxa de ocupação dos leitos de UTI estava sinalizada como verde há 25 semanas, e agora teve alta expressiva, apesar do aumento do número de leitos. “Foi um crescimento nunca antes visto, talvez no início da pandemia, com bem menos leitos. Teve um crescimento da ocupação de 53% para 74% em apenas uma semana. Os leitos clínicos em geral acompanharam. Saiu de 54% para 67%”.

Considerando os dados um “gatilho” para tomada de decisão, o estado anunciou medidas intermediárias para conter a situação. O Estado que havia entrado na fase amarela, agora está dividido entre fase vermelha (Agreste e Sertão) e laranja (todo o restante dos municípios).

Sobre a decisão do governador de colocar a maior parte do estado na fase laranja, Mardjane considera relativamente acertada. “Olhando pra esses dados que estão subentendidos, é insuficiente. Se esses dados fossem colocados na curva, iriamos para a faixa vermelha. Com base nos dados disponíveis, a decisão foi acertada, olhando tudo, não foi suficiente”.
Vacinação deve chegar a idosos de 65 anos ainda este mês

O Governador trouxe esperança à população apelando para a proximidade da vacinação. Ainda sem um cronograma de datas exatas, ele deu a previsão de que os grupos de risco por idade devem ser contemplados até o próximo dia 31.

“Até o final do mês de março o Estado de Alagoas espera, em o Ministério da Saúde cumprindo o cronograma que fora pactuado com os estados, entregar todas as vacinas necessárias para oferecer a primeira dose a todo mundo que tem 65 anos ou mais. E durante abril concluir todas as pessoas com mais de 60 anos”, anunciou Renan Filho.

A expectativa do gestor é que isso reverta toda a crise. “Quando a gente imunizar as pessoas com mais de 60 anos vamos ver despencar ao mesmo tempo o contágio, o uso da capacidade hospitalar instalada, e vamos ver despencar o número de mortes”.

O governador compara a situação atual com o primeiro pico, ocorrido em 2020. “Na outra onda dessa crise nós não tínhamos vacina, não tínhamos horizonte para sair dela, mas agora nós temos. Precisamos salvar vidas! Não adoeça agora, não vá para o leito de UTI. Quando chega no leito de UTI, uma parcela significativa não volta”.

Ele explica que esse esforço coletivo é ainda mais necessário, por conta dos riscos que as variantes do vírus começam a apresentar. “Se essas novas cepas forem mesmo mais contagiosas que as outras, nós teremos mais dificuldade. Quero aproveitar a oportunidade para dizer que é fundamental fazer o esforço neste momento. Sobretudo porque estamos muito próximos da vacina”.

Em defesa da vacina, ele apresentou dados de locais que já estão bem avançados na imunização. Como os Estados Unidos, que vacinou 16% da população e conseguiu reduzir 75% do contágio em algumas faixas etárias.

O governador alertou que mesmo com a abertura de leitos de hospital o ideal seria as pessoas não adoecerem. “Abrir leito em hospital não é cura, abrir leito em hospital não é vacina. A gente precisa prevenir que as pessoas adoeçam nesse momento até que consiga imunizar os grupos de risco”.

Na avaliação da infectologista Mardjane Lopes, a vacinação precisa atingir 80% da população para que a crise seja controlada. “Não é uma realidade. É um alento, mas tem o resto da população. Aqui tem poucos idosos, proporcionalmente. Não representa quantidade significativa”.

Reconhecendo que tem um lado positivo, ela aponta para outras vertentes. “Vai ter menos idosos morrendo. Isso é bom, mas têm as pessoas de fator de risco que não estão vacinados ainda. Pacientes de câncer, HIV em estágio avançado, doenças imunológicas, não incluídas, hipertensos, cardiopatas”.

Com mais uma cepa do vírus circulando, a população mais jovem é exposta a uma carga viral alta. “Ainda é a população que preocupa mais, mas a que complica mais nessa segunda onda é jovem”.

Fonte: Tribuna Independente / Emanuelle Vanderlei

(Foto: Ascom/SMS)