O corte de aproximadamente 30% no orçamento de custeio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem causado muitos prejuízos nas contas da instituição de ensino, atrasadas desde o início deste ano. O reitor Josealdo Tonholo se diz preocupado com a situação e a considerou como ultracrítica, e espera não ter que fechar a universidade por falta de verba para honrar com os compromissos fixos até o fim de setembro.

A redução orçamentária representou uma perda inicial de R$ 42 milhões nos recursos de custeio da Universidade.

“Para se ter uma ideia, ainda não conseguimos pagar as contas de energia elétrica desse ano, então estamos chegando numa situação muito crítica, é um ponto delicado. Com o orçamento que foi aprovado, dificilmente chegaremos até o mês de setembro honrando as contas, e isso vai trazer uma série de transtornos, espero não ter que fechar a universidade, mas se a gente chegar numa situação de falta de energia, de internet, combustível, limpeza, não sei para onde vamos”, desabafou o reitor.

De acordo com Tonholo, a luta tem sido grande para que não se precise tomar uma decisão mais dura. “Estamos acionando sempre o MEC (Ministério da Educação) e a bancada federal no sentido de tentar reverter a situação que é ultracrítica”, destacou.

“Faremos o possível para a universidade não fechar e continuarmos trabalhando, agora o orçamento que foi imposto pela União para a gente, corresponde ao de 2011, quando a universidade tinha muito menos campi, menos prédios, menos estudantes. São muitos os prejuízos e vai chegar uma hora de insustentabilidade”, explicou.
DCE acompanha corte de R$ 42 milhões com preocupação

O coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes – DCE/Ufal, Gabriel Cunha, afirmou que todos estão acompanhando com muita preocupação e indignação a situação das outras universidades, e se solidarizou com os estudantes e funcionários das instituições fechadas.

“A Ufal foi afetada em 42 milhões, cerca de 30% no orçamento de custeio, e isso não garante o pagamento das contas básicas. Esse corte, hoje, está direcionado pela gestão da reitoria para as bolsas de extensão, tirando de centenas de estudantes o valor mínimo para pagar passagem e sobreviver, além de interferir diretamente nos serviços que a universidade presta à sociedade alagoana”, mencionou.

Gabriel Cunha diz que diante deste cenário, não há condições de um retorno com segurança sanitária e nem a devida manutenção da Ufal. Segundo ele, hoje há prédios comprometidos por cupins, como é o caso do ICHCA (Instituto de Ciências Humanas Comunicação e Arte), “e a Ufal praticamente não teve verba de investimento para fazer esse tipo de reforma. Se o governo mantiver esses cortes, a Ufal fechará as portas e os estudantes vão assistir as aulas apenas via EAD (Educação a Distância)”, declarou.

“Pela experiência e balanço que fazemos desse período em ensino remoto, é que sequer temos estruturas práticas para o EAD. Diversos são os alunos, sobretudo os residentes no interior, e destaco os da zona rural, que não têm acesso à internet, e quando existe o acesso, é de péssima qualidade”, salientou.

Gabriel também criticou a parcela dos docentes que não estão aptos a manusear tecnologias; nem tão pouco ofertada a eles, uma capacitação para aderirem a esse modelo. “Diante dessas informações, avalio que o risco da Ufal de fechar é real”, pontuou.

O presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (Adufal), professor Jailton Lira, também acredita que o conjunto das universidades federais não conseguirão se manter minimamente com os cortes de recursos crescentes desde 2016, que se aprofundaram no atual governo.

“Se esta situação orçamentária se mantiver, será uma questão de tempo para que isso possa acontecer também com a Ufal”, concluiu.
Bancada federal precisa falar sobre as universidades

O reitor ressaltou que a expectativa é que se tenha a liberação do orçamento após o decreto de disponibilidade orçamentária que provavelmente sairá no mês de junho, e que se possa pagar algumas contas, no entanto, ele colocou que, mesmo assim, com o orçamento que foi aprovado dificilmente a universidade chegue até o fim de setembro honrando com as contas.

Ele espera que a bancada federal consiga convencer o ministro da economia, Paulo Guedes, da importância das universidades, e tente a partir do meio do ano recobrar o orçamento anterior.

Para o coordenador de Comunicação do Sindicato dos Trabalhadores na Universidade Federal de Alagoas (Sintufal), jornalista Ricardo Moresi, a redução de orçamento da Ufal representa algo em torno de R$ 42 milhões nos recursos de custeio da universidade.

“Esse ato tem impacto direto sobre as bolsas de extensão, que são pagas com esses recursos. Cada corte promovido pela esfera federal representa mais dificuldade para o funcionamento da educação pública, gratuita e de qualidade. Nitidamente, percebe-se que o Brasil da atualidade não tem interesse em promover educação para quem mais precisa. É fato que vivemos tempos tenebrosos”, ressaltou.

Fonte: Tribuna Independente / Ana Paula Omena

(Foto: Sandro Lima/arquivo)