O brilhante Raul Seixas inspirou uma senhora de 72 anos de idade a tornar realidade um sonho de anos. Na canção prelúdio, Raulzito diz: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; mas sonho que se sonha junto é realidade”.

Assim, Coqueiro Seco volta às origens e, desta vez, convida Santa Luzia do Norte para uma aliança que será um divisor de aguas na cultura e culinária de pelo menos 52 comunidades já identificadas pela Embrapa CNAT, que é o Centro Nacional de Alimentos e Territórios. O projeto, que também conta com as parcerias da rede Foodzcapes (Portugal), Universidade Federal de Sergipe (UFSE), está ganhando o reforço do Centro Politécnico da Universidade de São Paulo (USP).

Nesta semana, em Coqueiro Seco, o chefe geral da Embrapa Alimentos e Territórios, João Flávio Veloso, e os sete pesquisadores envolvidos no projeto Boleiras das Alagoas deram o pontapé inicial. O café da manhã, servido na Escola Municipal Maria Antonieta do Reis, foi com mesa farta, oferecida pelos primeiros 10 boleiros e boleiras selecionados para a primeira fase do projeto. No cardápio havia tapioca, grude, bolo de massa puba, bolo de macaxeira e pé de moleque, que são as iguarias a serem pesquisadas e difundidas. “A cada realização como esta agradeço a Deus pela oportunidade de realizar sonhos, reconhecer talentos e transformar vidas. Sonhei por muito tempo, mas tudo é no tempo Dele (Deus)”, vibra a prefeita de Coqueiro Seco, Decele Damaso. Ela é a senhora de 72 anos.

Pois é… Decele Damaso teve a ideia e convidou o prefeito do município vizinho, Marcio Lima, para que, juntos, somassem força para difundir a produção, que tem mais de 100 anos de história. “O projeto é um marco para essa gente, porque Coqueiro Seco foi emancipada de Santa Luzia do Norte, onde as comunidades quilombolas iniciaram a produção há décadas. A nossa prefeita pediu a participação de Santa Luzia e desde março participamos de vários encontros virtuais que nos ajudaram a chegar aqui com as necessidades de capacitação bem alinhadas”, destaca Betânia Barros, secretária de Turismo de Coqueiro.

Metodologia

O projeto será desenvolvido em formato presencial em Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte e já tem previsão de uma grande articulação para chegar às boleiras de Alagoas e também em outros estados brasileiros, porque há boleiras raízes também em outros Estados.

Uma das vertentes do projeto é capacidade de transformar realidades, porque contemplar aspectos históricos dos bolos, boas práticas para a saúde do alimento, a saúde do trabalhador, formas de organizações comunitárias, microcrédito, além de redes de turismo comunitárias do Brasil e do exterior.

Rompendo fronteiras

Nesta primeira fase acontecerão sete oficinas presenciais, de capacitação, em Coqueiro Seco e Santa Luzia. O objetivo que esse piloto seja transformado num processo de aprendizagem no modelo EAD. “Este novo Centro de Pesquisa, a Embrapa Alimentos e Territórios, com sede em Alagoas, vai olhar os alimentos brasileiros a partir dos consumidores e os produtos das boleiras, feitos com mandioca e coco. São produtos maravilhosos, tanto no ponto de vista de saúde, quanto do ponto de vista de história, identidade cultural e tradição. As raças que construíram esse país foram amalgamadas pelos alimentos, que têm uma capacidade transformadora”, relata João Flávio Veloso.

O projeto inicia em Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, mas será expandido por todo Alagoas, através de festival gastronômico. “Estamos muito entusiasmados, também, pelo reconhecimento que será dado ao trabalho que é realizado pelas mulheres. Quem inventou a agricultura foram as mulheres. Devemos um respeito muito grande à tradição dos bolos e também às mulheres”, explica a pesquisadora Patrícia Goulard Bustamante.

Reconhecimento

O projeto Boleiras das Alagoas foi produzido e formato pelo biólogo e consultor Herbert Araújo. Foi ele quem apresentou a proposta, prontamente aceita pelo pessoal da Embrapa.

GAZETAWEB.COM \ Redação com Assessoria

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