O senador José Serra (PSDB) disse à coluna Painel, da Folha de S.Paulo, que não concorda com a criação de um fumódromo no jardim do Palácio dos Bandeirantes, executada pelo governador tucano João Doria.

A recente instalação do espaço para fumantes, revelada pela coluna, deu fim a uma política de quase 15 anos de tolerância zero em relação ao tabaco no Palácio, iniciada por Serra em 2007.

“Eu não teria aberto esse precedente. Sempre defendi e pratiquei a política de tolerância zero em relação ao tabaco, desde minha gestão na Saúde”, afirma Serra.

“Ao implantar restrição total ao fumo no Palácio dos Bandeirantes, quis dificultar o acesso de funcionários e visitantes ao cigarro, com o fim de desestimular o vício”, completa.

Em 2008, com Serra, o Palácio recebeu o Selo de Ambiente Livre do Tabaco, na categoria Ouro, concedido somente aos espaços 100% sem tabaco, em que funcionários e visitantes não fumam nas dependências, sejam internas, externas ou até mesmo dentro de veículos no estacionamento.

A gestão estadual implantou as políticas mais firmes de proibição ao cigarro no Palácio no segundo semestre de 2007. Vice-governador de José Serra no mandato, Alberto Goldman era obrigado a deixar as dependências do Palácio para fumar charutos, diz reportagem da revista Veja da época, por exemplo.

A Folha de S.Paulo mostrou que os últimos cinzeiros de três fumódromos foram retirados do Palácio dos Bandeirantes em setembro daquele ano e os funcionários passaram a ser multados quando flagrados fumando, inclusive nos jardins -onde hoje está localizado o fumódromo de Doria.

Em um ano, de 2007 a 2008, 50 dos 190 funcionários que eram fumantes abandonaram o cigarro, segundo levantamento feito pela gestão Serra. Há até hoje placas nas paredes que dizem que fumar é proibido em todos os ambientes do Palácio.

A ideia de Serra com a proibição inflexível era a de transformar o Palácio em um exemplo para que estabelecimentos comerciais aderissem às políticas de restrição. O então governador, atualmente senador, sancionou a Lei Estadual Antifumo em 2009, proibindo a prática nos ambientes fechados de uso coletivo.

O selo e a política associada são constantemente exaltados como motivos de orgulho das gestões tucanas em São Paulo.
O novo fumódromo do Palácio tem cinzeiros verticais de metal, bancos de madeira e fica sobre uma camada de brita.

“O Palácio foi um dos primeiros lugares a se declarar 100% antifumo. É um retrocesso em relação ao exemplo que o governo do estado dá à população. Desmerece o selo que tem. É lamentável, espero que revejam a iniciativa”, diz a advogada Adriana Carvalho, diretora jurídica da ACT Promoção da Saúde (Aliança de Controle do Tabagismo).

“O selo é um reconhecimento, um compromisso de boas práticas. Tem uma questão simbólica, o Palácio adotava uma política interna mais protetiva do que a lei, era totalmente livre de tabaco, e agora está recuando”, completa Adriana.

Segundo apurou a reportagem, Doria se disse incomodado com a presença dos fumantes na portaria do Palácio e por isso determinou a criação do espaço, que fica no jardim, aberto, mas próximo a mesas de almoço, o que gera potencial de dano a não-fumantes.

Em nota, o governo de SP diz que defende e respeita a Lei Antifumo e que o espaço é em uma área ao ar livre e arborizada, e “a lei permite o consumo de cigarros em ambientes abertos”. O texto também diz que a medida visa garantir mais conforto e segurança a funcionários e visitantes.

Por Folhapress \ NOTÍCIAS AO MINUTO

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