Uma média de três assaltos por dia, invasão de residências, falta de iluminação pública e coleta de lixo, casas com rachaduras e “minando” água. São estes alguns dos diversos problemas enfrentados pela comunidade do Bom Parto, em Maceió. O bairro é um dos cinco afetados pelo afundamento de solo causado pela mineração de sal-gema da Braskem. Para as pessoas que continuaram na região, o retrato é de completo abandono.

De acordo com o líder comunitário do Bom Parto, Fernando Lima, a onda de violência começou a se intensificar desde dezembro. De lá para cá os moradores têm registrados assaltos diariamente, arrastões em plena luz do dia e até invasão de residências com os moradores dentro.

“De dezembro para cá a Braskem tirou os agentes comunitários que ficavam nas ruas, o índice de assaltos passou a ser de três por dia, a gente simplesmente está tendo arrastão na Francisco de Menezes pelo dia, estavam entrando dentro das casas, foi quando a gente começou a pedir socorro, pela quinta vez fomos a SSP [Secretaria de Estado da Segurança Pública de Alagoas] para que o 4° Batalhão intensifique as rondas, porque de certa forma inibe”, pontua.

Sem amparo social, a comunidade ainda permanece na região, sem saber se será contemplada numa possível atualização do mapa para a saída da região.

“Isso está acontecendo devido a problemas coadjuvantes. Estamos as escuras. A Prefeitura e o Estado não ajudam e ainda atrapalham. Estamos sem escola, sem Cras [Centro de Referência de Assistência Social]. O único programa social que tinha era no ginásio, tornou-se um depósito de lixo ao invés de servir a comunidade. O Prefeito criou uma secretaria chamada GGI, mas ação não tem nenhuma. Nós estamos fora do decreto de calamidade pública por conta do GGI. A Sefaz também nos deixou de fora. Estão cobrando os impostos, de empresas que faliram e eles continuam cobrando impostos, IPTU continua sendo cobrado. O cara vai receber 81 mil e ainda descontam mil, dois mil que a Braskem desconta e repassa à prefeitura. E estamos pedindo que seja realocada a beira da lagoa que está em subsidência. A defesa Civil só vem quando estamos nas últimas, hoje estamos pedindo, apelando ao MPF porque não aguentamos mais, estamos sem condições, nós fomos entregues à própria sorte”, critica o morador.

Órgãos públicos têm 15 dias para se posicionar sobre problemas no bairro

ade chegaram ao Ministério Público Federal (MPF) que expediu ontem recomendação para que diversos órgãos públicos a nível estadual e municipal se posicionem em relação aos problemas enfrentados no Bom Parto.

“Sendo assim, foi requisitado à SSP que após tomar ciência acerca dos fatos narrados, encaminhe ao MPF, em até 15 dias, as medidas adotadas para o aperfeiçoamento dos serviços de segurança pública. Ao GGI dos Bairros foi demandado que, também dentro do prazo de 15 dias, se manifeste sobre a alegação de ausência ou deficiência de serviços públicos essenciais no bairro do Bom Parto, diante da realocação dos equipamentos públicos inseridos na área delimitada pelo mapa de ações prioritárias. À Braskem, o MPF requisita informações atualizadas sobre a colocação de câmeras de segurança na região do Bom Parto, considerando a informação de que teriam sido retiradas”, disse o órgão.

Fernando Lima enfatiza a dificuldade da comunidade que permaneceu no local em recomeçar diante de tantos problemas.

“É uma segregação, não temos o mínimo, causa uma revolta. Eu poderia dizer que é só a Braskem, mas não é, a Prefeitura e o Estado jogam contra nós. Quem saiu recomeçou a vida de alguma forma, mas quem ficou está sofrendo o abandono do jogo de empurra, é Braskem, é Defesa Civil… Na próxima semana vamos fechar as ruas para que o poder público faça o papel deles, o mínimo, o básico. Não foi só o genocídio social causado pela Braskem, agora estamos passando por um genocídio municipal e estadual. Não é possível que um secretário não saiba, que a prefeitura não saiba, que o governo não saiba que estamos precisando de assistência”, finaliza.

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente

Foto: Edilson Omena