A evolução de casos de Covid-19 em todo o país “já é uma realidade”, afirma a infectologista Sarah Dominique. Em todo o país, o aumento tem motivado mudanças nos protocolos sanitários até então totalmente flexibilizados após o controle da doença. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 20 dos 27 estados brasileiros apresentam tendência de alta de síndromes respiratórias nas últimas seis semanas.

A situação acendeu alerta entre especialistas e motivou a retomada da exigência de máscaras a partir desta quarta-feira (8) nas instalações do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL). Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau-AL), no dia 1° de junho o estado tinha 868 casos suspeitos e 63 confirmados. Menos de uma semana depois, no dia 7 de junho, os casos suspeitos passaram para 971, sendo 32 confirmados. Nenhum óbito foi registrado.

Conforme a Fiocruz a média móvel de casos de Covid-19 na primeira semana de junho em todo o Brasil chegou a 30.487 notificações diárias. Em 25 de maio, uma semana antes, a média era de 14.970, menos da metade do registrado. Os dados atuais são o maior número desde o fim de março, segundo o painel de dados Monitora Covid-19.

A infectologista Sarah Dominique explica que os casos vêm aumentando, mas que a subnotificação impede uma percepção real sobre a situação. Conforme explica a médica a subnotificação motivada pela falta de testagem pode criar a falsa impressão de controle da doença.

“A população adoece e não busca testagem. Ou algumas vezes, quando busca atendimento, o médico não solicita”, pontua.

De acordo com o também infectologista Renée Vasconcelos, a doença tem circulado sem controle. A situação segundo ele é uma mudança completa no cenário desde o início da pandemia.

“Os dados não correspondem à realidade porque antigamente o paciente com o quadro respiratório ia buscar unidade de saúde, recebia atendimento, fazia a testagem. Hoje as pessoas estão ficando gripadas e estão deixando para lá. Outro fator é a existência dos autotestes que, quando realizados, não são informados às autoridades. Somado ao fato de que as pessoas não estão procurando mais fazer testes. As pessoas que apresentam quadros de coriza, dor de cabeça, dor de garganta, não estão mais dando a devida atenção. Não sabemos quantas pessoas estão positivas, o que sabemos é que o vírus está circulando por toda parte, as pessoas estão adoecendo muito e não temos controle”, diz.

Descontinuação do uso está entre fatores para aumento

Conforme explica Sarah Dominique três fatores são preponderantes no aumento no número de casos. “A descontinuação do uso das máscaras, a sazonalidade do vírus e a redução da imunidade após 6 meses do esquema vacinal”, esclarece.

A Fiocruz associa ainda o período frio enfrentado na maior parte do país como uma das causas. “O frio que tomou conta de grande parte do país em maio, associado ao relaxamento de medidas de prevenção, como o uso de máscaras, são algumas das causas do aumento dos casos”.

O infectologista Renée Vasconcelos orienta a população a continuar adotando cuidados como o uso de máscaras em ambientes fechados e principalmente receber as doses de reforço. “Primeiro a orientação é tomar as doses de reforço. A vacinação é fundamental nesse ponto e ajuda na redução de circulação do vírus. Porque a tendência agora no inverno é subir um pouco esses casos e a orientação é usar máscaras em ambientes fechados. Basicamente é isso, reforçar a vacinação. Quem está com o esquema incompleto, fazer”, diz.

FLEXIBILIZAÇÃO

Esta semana, o Tribunal de Justiça de Alagoas anunciou a retomada da obrigatoriedade no uso de máscaras considerando o cenário epidemiológico. A medida acompanha o que já vem sendo adotado em outros estados. As cidades de São Paulo (SP), Londrina (PR), Petrópolis (RJ) e Poços de Caldas (MG) voltaram a recomendar o uso.

“O uso de máscara passa a ser obrigatório para ingresso e permanência nos prédios do Judiciário de Alagoas a partir desta quarta-feira (8). A determinação da Presidência do Tribunal de Justiça (TJ/AL) e da Corregedoria (CGJ) leva em conta o aumento no número de infecções da Covid-19 e a necessidade de se manter o acompanhamento e o controle da doença”, disse o TJ.

A Prefeitura de Maceió não descarta a possibilidade de retomada da obrigatoriedade. Procurado, o executivo municipal informou que segue acompanhando a evolução da doença.
“A Prefeitura de Maceió está empenhada em vacinar a população, por isso, mantém mais de 20 unidades de vacinação, entre Unidades de Saúde e pontos fixos, com funcionamento durante o fim de semana, e já aplicou mais de 2 milhões de doses, o que reflete no controle da Covid-19 em Maceió. Em caso de mudança no rumo do combate à pandemia, o Município seguirá as recomendações da ciência e, se necessário, determinar o uso obrigatório de máscaras de proteção e distanciamento”, afirmou em nota.

TRIBUNA HOJE

Foto: Edilson Omena